16/08/2019 às 15h24min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h46min

Estreias do Cinema - 16/08/2019

Desconstruindo a Era de Ouro de Hollywood   Quentin Jerome Tarantino fez da carreira perfeccionista sempre uma divina tragicomédia metalinguística sui generis diante da realidade nua e crua da vida sem deixar de ser extremamente realista em saudosas homenagens aos gêneros prediletos de sua infância querida dos anos 60 e 70. Kill Bill representa as artes marciais japonesas vividas na figura icônica de David Carradine. Já Django Livre e Os Oito Odiados simbolizam o tempo das diligências em uma terra aparentemente sem lei onde vingava apenas os caricatos justiceiros com cara de mal acompanhados da inseparável cuspideira. Em seu penúltimo filme ele fecha este ciclo dourado desconstituindo clichês a partir dos próprios clichês. Se em Bastardos Inglórios Tatantino escolheu um desfecho dantesco aos nazistas hediondos exterminando o Holocausto antes dele existir, em Era uma Vez... em Hollywood fez o inverso, desconstruindo o mito da Cidade Dos Sonhos do jeito que ela é ou pelo menos deveria ser na época. Na trama documental romantizada na transição do Western Spaghetti à lá Era Uma Vez no Oeste para as artes marciais do Kung Fu, acompanhamos de perto a decadência do astro Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) sofrendo constantes crises existenciais de choro durante as filmagens da série de bang-bang “O Caçador de Recompensas”. Ao contrário do sereno dublê, parceiro e amigo faz tudo Cliff Booth (Brad Pitt), não reconhecido pelo público. No entanto, por trás dos bastidores da série Besouro Verde, o humilde subalterno se sobressai ao endeusado Bruce Lee, equiparado ao próprio personagem Kato que o consagrou, como chofer do divertido "farsante" heroico. Quanto à trajetória de Sharon Tate (Margot Robbie), o diretor glamorizou o trágico desfecho mantendo apenas as expectativas iniciais da esposa grávida que vivia, naquele momento, um verdadeiro conto de fadas ao lado do marido cineasta Roman Polanski em sua confortável mansão vizinha de Dalton. Nascia uma estrela cheia de sonhos apagada aos 26 anos em 9 de agosto de 1969 pela visceral seita liderada por Charles Manson.   Era Uma Vez em… Hollywood . .Direção: Quentin Tarantino. Comédia dramática (Once Upon a Time… in Hollywood, EUA/Inglaterra/China, 2019, 161min). 16 anos.   Nota: 4,5   Era uma Vez... em Roma   Na Copa do Mundo de 90, onde a Itália perdeu para a Argentina nos pênaltis, três jovens ingressam aos bastidores do decadente cinema italiano relembrando os momentos áureos através de diálogos apressados e confusos dos envelhecidos cineastas ao longo de promíscuas festas divertidas.   Noite Mágica . Direção: Paolo Virzì. Comédia dramática (Notti Magiche, Itália, 2018, 125min). 16 anos.   Nota: 2,5   SÉRIES   Liga da Justiça às avessas   Direto dos quadrinhos, a nova série homônima da Amazon Prime veio para chocar o público acima de 18 anos mostrando uma versão adulta dos super-heróis nunca antes vista na telinha, mistura de humanos imperfeitos tentando fazer o que é certo em Watchmen com a sincera maldade dos super-vilões do Sindicato do Crime. Pior que o Sindicato do Crime, que pelo menos assume seu caráter vilanesco, a equipe destes sete super-heróis artificiais de retóricas eloquentes apresentados visam apenas locupletar-se em uma nojenta campanha de marketing proselitista manipulando as massas pela TV ou em palestras a milhares de fanáticos evangélicos. Na trama é fundada uma modesta e vigorosa resistência após meio século de atrocidades chamada The Boys, que balançou alguns membros e ex-membros da super-equipe cansados de tanta crueldade para sustentar a farsa a qualquer custo. Os mais poderosos de coração enrijecido corrompidos pelo poder no fundo são os mais carentes; na verdade, zombeteiras crianças espirituais por dentro contaminadas pela cupidez. A melhor forma de derrotar essa política do mal comandada pela empresa Vought  é usando mesma fórmula contra eles expondo sua verdadeira face, ridicularizando-os diante do público. Foi assim que Batman derrotou o chefe dos mutantes jogando literalmente seu orgulho na lama na HQ Cavaleiro das Trevas de Frank Miller.   Nota: 4,5   Os empolgantes casos verdade de Fargo e True Detective   As aclamadas séries Fargo repleta de  astros de Hollywood baseadas em fatos reais exatamente como aconteceram e a fictícia True Detective em um tom ultra-realista confundem o desgastado cotidiano familiar dos investigadores policiais à sua intensa rotina de trabalho. Ambas fogem muito da fórmula padrão hollywoodiana devido ao roteiro mais lento e diálogos espontâneos e fúteis com a namorada esposa, filhos e colegas de trabalho aparentemente fora do contexto que podem muito contribuir à investigação ou apenas para desencargo de consciência deles, instigando o espectador paciente até o desfecho surpreendente. Em destaque, a magnífica terceira temporada de True Detective, desenvolvida em três épocas principais e outras duas de forma sutil, entrelaçando-as equivalente a plano sequência a fim de cobrir as lacunas em doses homeopáticas da mente desgastada de Wayne Hays (Mahershala Ali). Ambientada em 2015, onde o ex-combatente do Vietnã de cabelos nevados acometido do mal de Alzheimer tenta a todo custo relembrar do caso iniciado nos anos 80 e reaberto nos anos 90 a fim de dar sentido ao pouco tempo de vida que lhe resta.  Na prática, a ideia fantástica do criador da série da HBO Nic Pizzolatto divide jovialidade e demência agregadas à teoria da quarta dimensão espiritual do espaço-tempo de Einstein, onde tudo acontece concomitantemente. Tema bastante explorado pela série Dark.   Nota: 5,0 ARTIGO   Popeye completa 90 anos    Considerado erroneamente o precursor dos super-heróis que na verdade não passa de um simples marinheiro querendo viver o cotidiano em uma comunidade litorânea semelhante ao ambiente da homônima comédia musicalizada estrelada por Robin Williams em 1980. Criado por Elzie Crisler Segar em 17 de janeiro de 1929 foi publicado pela primeira vez na tirinha pulp do jornal Thimble Theatre em 1933, no estouro da grande depressão americana. O personagem caolho (Pop-eye) é uma homenagem a Frank "Rocky" Fiegel, de olho estourado e braços deformados de Chester, Illinois, que fumava cannabis vizinho da "Dora Paskel" Olívia Palito e Dudu "J. William Schuchert". Dudu e Olívia nos quadrinhos são especialistas em trambiques sempre se metendo em encrenca. No entanto, Olívia é uma mulher independente e Brutus um esporádico coadjuvante, enquanto Popeye representa o singelo brutamonte desmaterializado sem maldade no coração, um homem justo que detesta arma de fogo e independe do espinafre para solucionar os problemas, sempre com inteligência. A exemplo de Gugu, que às vezes filosofa sobre o sentido da vida. Esse universo aberto das HQs tem desfechos inteligentes inesperados, alterando o protagonismo constantemente em vez girar em torno de um mesmo triângulo amoroso composto por dois tapados esbofeteando-se pela namorada troféu submissa visto na maioria das animações dos anos 1960 em diante.   Rogério Candotti é colunista  deste jornal  e colaborador do site sobre cultura pop Formiga Elétrica    
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