26/05/2023 às 00h44min - Atualizada em 26/05/2023 às 00h44min

​Crise de identidade à sublime redenção

Grandes obras cinematográficas garantidamente discorrem sobre a psique humana: físico, psicológico e espiritual, dividindo-a geralmente em três protagonistas ao lado dos coadjuvantes: obstáculos a serem superados. Platão a dividia em Soma (Corpo — mortal e corruptível), Psique (Mente/Emoções) e Nous (Espírito/Inteligência: Razão, imortal, pura, incorruptível). Psique é a mente com asas de mariposa de voo frágil, condicionada a perder a semelhança com o celestial, caso se torne escrava dos apetites do corpo. Dessa forma, o “Cérebro Trino” do neurocientista Paul D. MacLean está dividido em Reptiliano (instinto de sobrevivência), Límbico ou Emocional (presente nos Mamíferos Inferiores), e Neocórtex: o Cérebro Racional. Assim como “O Ego de Freud”, cuja função é mediar os impulsos primitivos entre o ID, onde não existe certo ou errado, e o Superego, onde não existe meio-termo entre certo e errado. Para o Espírito Joanna de Ângelis: O Ser real é constituído de corpo, mente e espírito, numa abordagem psicológica: o corpo (físico e perispirítico) e a mente (consciente, inconsciente e subconsciente) fazem parte do Espírito Imortal trazendo consigo a bagagem de experiências anteriores à presente ­existência.
Em O Silêncio dos Inocentes (1991), disponível no Prime Vídeo, a estudante formada em psicologia e criminologia, Clarice Starling (Jodie Foster), sente-se culpada pela morte do pai aos 10 anos, equiparado às ovelhas mortas na fazenda do tio. Essas neuroses obsessivas  transformaram-na numa excepcional aspirante a agente do FBI, disposta a salvar o maior número de vítimas e curar o seu trauma de infância ao mesmo tempo. O responsável por isso, além do seu superior hierárquico (Scott Glenn), foi Hannibal Lecter — um dos maiores vilões do cinema de todos os tempos com apenas 15 minutos de tela. O psiquiatra confinado num hospital psiquiátrico para pacientes de alto risco, tem as informações necessárias sobre o paradeiro do serial killer: Buffalo Bill (Ted Levine), um fetichista em crise de identidade inspirado no verdadeiro assassino: Ed. Gein, cuja vítima cobiçada é a filha de uma famosa senadora que em menos de 24 horas pode virar “casaco de pele”.  Nesse meio-tempo, o canibal extremamente ardiloso (Anthony Hopkins) estabelece um vínculo terapêutico com a crisálida Clarice, conforme descortina o passado traumático dela, enquanto a jovem policial amadurece sob o olhar penetrante daquele psicopata erudito: carregado de tensão, suspense e mistério.
A Arca de Noé do diretor Darren Aronofsky tem três andares, a exemplo da casa da Mãe! com Céu, Terra e Inferno. Cisne Negro (2010) do mesmo diretor, disponível no Star Plus, foi adaptado do balé mais famoso do mundo: O Lago dos Cisnes de Tchaikovski, e O Duplo de Dostoiévski; sobre a imaculada Nina Sayers/Odette (Natalie Portman) com síndrome do esgotamento profissional, automutilação e anorexia devido a sua relação simbiótica, sufocante com a mãe opressora, Erica (Barbara Hershey) que abdicou da carreira de bailarina para se projetar na filha. A exemplo da ginasta Simone Byes que desistiu de competir nas Olimpíadas de Tokyo por falta de controle emocional, aquela menininha frígida e infantilizada de 28 anos com borboletas no quarto pintado de rosa, foi dominada pela sua contraparte animalesca, pensando ser a colega sensual Lily/Odile (Mila Kunis), enquanto o professor exigente Thomas Leroy/Príncipe Siegfried fica dividido entre a pureza celestial do Cisne Branco e a sensualidade mundana do Cisne Negro.
Clube da Luta (1999) disponível no Star Plus, Prime Vídeo, Telecine, HBO Max e BP Select, é uma sátira exagerada com metalinguagem e quebra de quarta parede a todo momento, sobre um sujeito ordinário de vida monótona e rotineira, trabalhando num emprego que odeia para gastar com aquilo que não precisa de modo a de preencher o vazio existencial dentro de si. Sem dormir há 6 meses no seu cubículo inútil, aquele narrador-personagem decide se unir ao alter-ego, Tyler Durden (Brad Pitt), o líder de uma seita neofacista e niilista: além do bem e do mal, inspirado no Super Homem de Nietzsche (Umberanch), formada por terroristas uniformizados de preto pelo país inteiro. O meio-termo seria um Tyler disciplinado, desapegado dos bens materiais, análogo a um cavaleiro templário, samurai ou cowboy viril interpretado por John Wayne. Porém, nessa sociedade corporativa criada por mulheres, sem a bússola moral do pai, o emasculado sem nome precisará se unir a cara-metade Marla Singer (Helena Bonham Carter), a fim de restabelecer a ordem (interior e exterior) e os valores morais cristãos, impedindo a autodestruição.

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