26/08/2022 às 01h15min - Atualizada em 26/08/2022 às 01h15min
A crise das hipotecas subprime completa 15 anos
Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com
O capitalismo foi uma evolução natural do comércio desde a idade da pedra, a partir do escambo. A riqueza do mundo até 1750 era quase nula, concentrada na mão da aristocracia. Nessa época aconteceu a primeira Revolução Industrial, não homogênea, provocando a migração em grande escala dos trabalhadores do campo para as cidades em busca de melhores condições de vida e melhores salários consumindo produtos de outras fábricas, graças à produção em massa. Geração de riquezas é a criação de facilidades para a maioria da população, que antes era privilégio da elite. A capital do mundo em homenagem ao duque de York, irmão do rei, onde fica a Bolsa de Valores e os escritórios dos maiores bancos e instituições financeiras, chamava-se Nova Amsterdam. Em 1653, os holandeses construíram uma muralha (wall) de madeira com o objetivo de proteger a sua colônia de um possível ataque dos índios até serem expulsos pelos ingleses em 1664 que fundaram a vila de Nova York. Lá, um grupo de vinte e quatro acionistas em 1792 firmou um acordo estabelecendo regras e taxas referentes às negociações da Bolsa de Nova York. De acordo com o documentário independente, Money For Nothing: Inside the Federal Reserve (2013), nascia há 100 anos o maior vilão da economia mundial, formado por numerosos representantes de bancos privados e diversos conselhos consultivos. No final da crise de 1921 o Banco Central Americano reduziu drasticamente os juros em 4,2%, cuja febre especulativa nos “loucos anos 20", quebrou a Bolsa de Nova York nove anos depois, mas demorou 15 anos para solucioná-la, utilizando métodos keynesianos, intervencionistas. O FED ainda bancou os prejuízos das duas guerras mundiais e da Guerra do Vietnã ao imprimir mais dinheiro que as reservas de ouro. Dessa forma, o dólar inflado perdia cada vez mais valor e as taxas de juros artificialmente baixas, mantiveram o crescimento econômico artificial e flácido; típico da etapa de expansão dos ciclos de expansão-recessão da economia. Por conseguinte, em 19 de outubro de 1987, o mercado financeiro desaba novamente na Black Monday, provocando a demissão do corretor de ações Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) que dá a volta por cima e funda a Stratton Oakmont, especializada em ações duvidosas de segunda linha, baixo valor e pouca liquidez (penny stocks), oferecendo aos clientes como se fossem ouro. O discurso motivacional, antiético e imoral somado a uma eficiente técnica de vendas agressiva contagiou a equipe formada pelo vizinho Donnie Azoff (Jonah Hill). Felizmente, a quadrilha foi desmascarada a tempo e O Lobo de Wall Street (2013) na HBO Max condenado por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro que perdeu a guarda da filha, separou-se da esposa (Margot Robbie) e escreveu o livro homônimo, adaptado por Martin Scorsese, um drama verídico delicado com humor inteligente na medida certa.
Naquele ano de 1987 com a mesma idade e os mesmos gostos obscenos do colega, o metrossexual Patrick Bateman (Christian Bale) usufruía da empresa do pai. O playboy materialista, fã de Whitney Houston, Phil Collins, New Order e Information Society, perdia tempo jantando nos restaurantes da moda enquanto mantinha as aparências ao lado da noiva Evelyn Williams (Reese Witherspoon) e amigos selecionados pelo relevo do cartão de visita. À noite, o jovem investidor de Wall Street, viciado em sexo, drogas e prostituição, fantasiava cometendo assassinatos. Psicopata Americano (2000), no Star Plus, reflete a geração perdida dos anos 1990 quando foi possível juntar milhares de hipotecas num só pacote, a fim de vendê-las aos investidores. Em 2001 entra em cena novamente o presidente do FED que estanca a “Bolha da Internet” baixando drasticamente os juros de 5,25% para 1,25% ao ano. A medida expansionista impulsionou assustadoramente o setor imobiliário, formado agora por hipotecas boas incorporadas às ruins (subprime). O investimento que era excelente, tornou-se enganoso e de alto risco, sem a prudência dos bancos para orientar os clientes adequadamente, sobretudo a fiscalização do governo em conluio com as agências de classificação de risco que atribuíam notas altíssimas a esses títulos poluídos na mão de pelo menos 8 milhões de americanos inocentes que não conseguiam pagar perdendo suas casas e seus empregos. Dez trilhões de dólares sumiram da economia e 2,5 milhões de empresas foram arrasadas por causa da “marolinha”. Se o desemprego sobe apenas 1%, quarenta mil pessoas morrem por ano. Michael Burry (Christian Bale) em 2005 foi o primeiro a falar publicamente sobre a desvalorização dessas hipotecas, Mark Baum (Steve Carell) após suicidio do irmão viajou o mundo entrevistando pessoas com o objetivo se informar sobre a crise e aquela corrupção sistêmica instalada no país, enquanto Ben Rickert (Brad Pitt), outro especulador experiente de "vendas a descoberto" (short-sellers), visava apenas ajudar os amigos a se dar bem devido A Grande Aposta (2015) que fizeram contra o mercado, disponível na BP Select.
Margin Call — O Dia Antes do Fim (2011) no Prime Vídeo se passa um dia antes da crise financeira de 2007–2008, dirigido e roteirizado por JC Chandor, filho de um investidor imobiliário em seu primeiro trabalho no cinema, cuja trama retrata os bastidores de uma empresa especializada em fundo de investimentos que foi pega de surpresa ao lado da grande maioria dos investidores, prova que o mercado financeiro estava funcionando como deveria, seguindo os sinais de lucros e prejuízos que estavam sendo emitidos. Ocorre que apenas o chefe (Jeremy Irons), os mais influentes (Paul Bettany) e o seu braço direito de moral duvidosa (Kevin Spacey) sobreviveram àquela demissão coletiva, membros da elite que compõe o establishment, enquanto o povo pagava a conta, por isso, atualmente, a inflação americana é maior que a brasileira.