24/03/2022 às 22h29min - Atualizada em 24/03/2022 às 22h29min

Canalização dos córregos piora as enchentes

A cidade é conhecida como “terra da garoa” por ser comum o registro de chuvisco (garoa) associado à maritimidade, no entanto a urbanização densa fez com que a entrada dessa umidade marítima fosse dificultada e a ocorrência do fenômeno tem sido cada vez mais escassa. No verão e até outono, porém, São Paulo torna-se a cidade das chuvas.
Enquanto no inverno, a média histórica de precipitação em São Paulo gira em torno de 50 mm, no verão o cenário é bem diferente. Em média, nos meses de janeiro, chove cerca de 225 mm, mais de 4 vezes. Com o chão coberto de concreto e asfalto, a infraestrutura da cidade sofre com constantes inundações. Todos os anos, a Prefeitura implanta um Plano Preventivo de Chuvas de Verão. Entretanto, problemas ocorrem em locais de forma permanente.
Um dos grandes problemas se refere à canalização dos rios e córregos. Marcus Vinícius Polignano, do projeto ambiental Manuelzão, ligado à Universidade Federal de Minas (UFMG), diz que o “encaixotamento” dos córregos transforma cursos d’água em “canhões hidráulicos”. “No modelo da natureza, sabiamente, os cursos d’água são sinuosos, serpenteiam, para quebrar a força da água. Na canalização, coloca-se o córrego retilíneo e o concreto, o que torna a velocidade da água muito maior.”

Rio Verde, o rio da minha aldeia
“Assim disse o grandioso lusitano Fernando Pessoa, ao homenagear o pequeno caudal do lugar onde nasceu. No mapa da Prefeitura de São Paulo os braços do rio Verde permanecem. Na década de 50, século XX canalizado. As ruas continuam com os mesmos nomes, embora em sua extensão possa ter variado em alguns casos. Uma das raras fotos aparece como uma faixa branca, passando depois das nascentes das ruas Beatriz Galvão e no alto do Sumaré, perto do Santuário de Fátima, no final da Rua Oscar Freire, Praça Jurema, Amália de Noronha, cruzando as Av. Paulo VI e Sumaré, prosseguindo conforme relato a seguir.
 A edição do mapa do Guia de São Paulo de 1966, mostra a rua Henrique Schaumann, ainda não alargada, ao lado da Igreja do Calvário, ganhando a Praça Portugal. No mapa da Sara Brasil de 1930, nota-se que tem dois braços, passando pela Praça Benedito Calixto. Na esquina da Cardeal Arcoverde com a rua João Moura, uma grelha de ferro reforçado mostra o encontro para formar um leito único. Depois da Av. Rebouças, em servidão, ao lado da Al. Gabriel Monteiro da Silva, rua Verde, rua Grécia, sob as piscinas do Clube Hebraica, molestadas, confirme depoimento do mateiro e juiz internacional de orquídeas; Augusto Fernandes Neves, durante muito tempo, chefe de manutenção e segurança do grandioso Clube. O clube Germânia, atual Pinheiros também tinha alguns problemas com as enchentes que o rio Verde causava.
O professor Vlademir Bartolini, professor de projetos da FAU-USP, em 1966 mostra um texto brilhante sobre o rio e informações de Cerqueira Cesar, Vila Madalena e Jardim Paulistano. As nascentes do Sumaré, Estrada do Araçá, depois Heitor Penteado, como disse; ao lado do Santuário. Muito perto a Chácara do Bispo, área onde foi feito o loteamento da Itaoca, Praça Horácio Sabino, com suas suntuosas mansões no atual Jardim das Bandeiras. Neste pedaço o Rio provocava, como ainda hoje, enormes enchentes, muito perto da Rua Abegoaria e João Moura, continuando pela rua Medeiros de Albuquerque, Beco do Batman, Rua Girassol, no Cemitério São Paulo e sobretudo na rua Padre João Goncalves e Fradique Coutinho.
Serpenteava esse pedaço da zona Oeste. Havia uma ponte de madeira rústica que permitia acesso do Sumaré á Vila Madalena e vice-versa. Acreditem nadamos por lá, a água era cristalina, em 1948, 49, 50, No lado do Sumaré 2 campos de futebol, na Vila Madalena 3, respectivamente, Mocidade do Sumaré, Cruz de Malta, Glorioso, Vasco da Gama, Vasquinho, 7 de Setembro, 13 de Maio e Leão do Morro. Times de várzea que formaram muitos craques para os grandes times profissionai: Zelão, Guilherminho, Ticão, Zé da Vila, Nabonga, Fávio, Irmãos Bertuga. Com certeza após as pelejas com chancas medievais e bola de couro duro, iam banhar-se no Rio da nossa aldeia. Registro ainda que essa região era totalmente sem calçadas, desprovida de água encanada e iluminação pública. As ruas Capote Valente, Alves Guimarães e Cristiano Viana, que fazem esquina com Heitor Penteado, terminavam em barranco, sem saída. Rua Abegoaria, nome adotado porque havia um almoxarifado de ferramentas para a agricultura, plantio de capim e criação de gado holandês que produzia leite tipo A, com muitos pequenos produtores, formando uma Cooperativa. Tudo isso com as águas sagradas do Rio Verde. Existe um projeto premiadissimo para ser construído um jardim (parque) linear, do Rio Verde. Quem sabe, um dia!”
Sérgio de Castro, jornalista decano da mídia Rotária Brasileira, escritor e historiador

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