03/03/2022 às 22h23min - Atualizada em 03/03/2022 às 22h23min

A perda da resiliência urbana e as inundações e alagamentos em Pinheiros, atual campeão de demolições na cidade

Uma chuva de 94mm em menos de 3hs colocou várias áreas da cidade e em especial o bairro de Pinheiros em uma situação de inundação e em situação de alerta na terça feira de carnaval (1º. de março) por volta das 19 horas. Desta vez não foram apenas a rua Harmonia e o Beco do Batman que são frequentemente inundados, mas colaram toda a área da microbacia do córrego Verde desde a Rua Abegoaria, passando pela rua Arthur de Azevedo e Pinheiros, incluindo o entorno da  Estação Fradique Coutinho do Metrô que  ficou com as ruas do entrono alagadas, restando pouco para as águas invadirem a estação do metrô.
Esses impactos decorrentes de chuvas acima de 70 mm são os resultados da perda de resiliência urbana, onde o movimento Pro-Pinheiros luta pela manutenção de qualidade ambiental do bairro, contra os excessos causados pela crescente impermeabilização, pressões sobre a infraestrutura viária e de drenagem, além da verticalização desenfreada provocada pelos ‘Eixos de Estruturação Urbana’ em torno das estações de metrô e corredores de ônibus da Rua Pinheiros. 
Os efeitos de uma chuva forte e que durou cerca de três horas, foram suficientes para colocar em pânico pessoas que frequentavam os bares e restaurantes, carros e frequentadores, além de seus moradores. As imagens registradas são importantes para demonstrar os impactos decorrentes da sobrecarga da infraestrutura urbana e da perda de resiliência urbana e da qualidade ambiental do bairro. Embora os efeitos da chuva fossem fortes, os efeitos pareceram para os moradores bem maiores do que aos alagamento e inundações que ocorrem historicamente na região.
Os resultados deixam claro o total descaso do governo municipal com o meio ambiente e a infraestrutura urbana do bairro, ao mesmo tempo que a partir de 2014, pelos efeitos do Projeto dos Eixos de Estruturação Urbana, e mais diretamente a partir da Lei de Uso e Ocupação do Solo aprovada em 2016, fossem liberas indiscriminadamente milhões de metros quadrados construídos para novas mega edificações, com gabarito de altura ilimitada e outras flexibilizações de parâmetros para as edificações, sem exigir nenhum tipo de avaliação de impacto ambiental, urbanístico e social onde foram permitidos. Com essas liberações o bairro de Pinheiros se transformou no campeão de demolições na cidade, num imenso canteiro de obras, e ao passo que a impermeabilização caminha solta, as áreas verdes e a vegetação são insuficientes e se reduzem, os espaços públicos perdem qualidade urbana, e nada é feito para aumentar a resiliência do bairro e para mitigar os impactos das inundações que serão cada vez mais frequentes com a crise climática.
A falta de estudo de impacto ambiental requerido pela legislação ambiental, para a aprovação dos Eixos de Transformação Urbana com áreas imensas e raios de 600 metros no entorno das estações de metrô, e 150 metros no entorno dos corredores de ônibus, com mais de 100 ha de área, com um imenso potencial construtivo liberado nestes eixos, é o elemento mais forte para ampliar os impactos, a perda de qualidade ambiental e resiliência aos riscos climáticos no bairro.
É pela falta de avaliações de impacto ambiental e da capacidade de suporte da infraestrutura de drenagem do bairro, aí que é possível resistir na esfera judicial, já que na administrativa e politicamente, tais mudanças só ocorrerão com alterações no limite das áreas de influência dos Eixos de Transformação Urbana delimitados no Plano Diretor Estratégico e na Lei de Uso do Solo. Essa delimitação protegeria por exemplo as Vilas do Sol e outros micro bairros de Pinheiros que mantem o clima e as áreas verdes e permeáveis do bairro.
Os parques solicitados pela população do bairro, à exemplo do proposto na Rua João Moura com Teodoro Sampaio, e áreas verdes e medidas de adaptação climática com o uso de infraestrutura verde e soluções baseadas na natureza, mitigação das enchentes com parques lineares e desobstrução e abertura do córrego, além da criação de áreas permeáveis na microbacia do córrego Verde.
A cidade não vai suportar isso até 2030, se desde já não forem promovidas na ‘Revisão do Plano Diretor Estratégico’ em 2022, essas alterações fundamentais para o enfrentamento das mudanças climáticas, e redução dos impactos decorrentes desses mecanismos urbanísticos permitidos pelo atual Plano Diretor, e os investimentos para resgatar a resiliência e a qualidade urbana de Pinheiros

* Ivan Maglio. Doutor em Saúde Ambiental e Pós-Doutorado em Cidades Globais pelo IEA USP

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