Em 1693, um pequeno grupo de camponesas ao realizar outro inocente ritual vodu ao redor de uma fogueira, ficam possuídas pelo demônio. A histeria endiabrada contagia o povoado de Salem no estado colonial de Massachusetts, provocando a condenação de quase 300 pessoas possuídas ou não, fielmente retratadas no longa: As Bruxas de Salem (1996), disponível no Telecine, estrelado por Daniel Day-Lewis e Winona Ryder. O fenômeno atinge toda região da Nova Inglaterra onde iniciamos a precursora jornada de Anya Josephine Marie Taylor-Joy no primeiro longa da carreira, baseado levemente no julgamento verídico em Salem, dirigido pelo também estreante em 2015, Robert Eggers (O Farol), e produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira. A trama de terror psicológico, carente de sustos gratuitos, é ambientada numa tenebrosa floresta mitológica, análoga à floresta do Anticristo de Lars von Trier, um antro de possessão e fanatismo religioso ao invés da fé raciocinada, esclarecedora. Após viver na miséria a ponto de quase ser vendida pelos pais, Thomasin, A Bruxa, disponível na Netflix, foi queimada na “fogueira purificadora”, ascendendo aos Céus. Em nova reencarnação antagônica, a filha de argentinos e britânicos interpreta: Emma, disponível no Telecine, uma jovem do início do século XIX, descrita pela notória romancista Jane Austen logo na introdução do seu segundo best-seller mais conhecido, atrás de Orgulho e Preconceito: "Emma Woodhouse, bonita, inteligente, e rica". Emma, no entanto, é principalmente mimada; ela superestima seu poder de manipular as situações, assim como não percebe os perigos de interferir na vida das pessoas e engana-se facilmente sobre o sentido das intenções e atitudes alheias. A divertida trilha sonora é uma personagem a parte que rege o tom humorístico do longa adaptado da obra-prima pelo diretor Autumn de Wilde, ignorando todo o formalismo pomposo da época. “A riqueza é, sem dúvida, uma prova mais arriscada, mais perigosa que a miséria, em virtude das excitações e das tentações que oferece, da fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço que mais poderosamente liga o homem à Terra e desvia os seus pensamentos do céu. Produz tamanha vertigem, que vemos quase sempre os que passam da miséria à fortuna esquecerem-se rapidamente da sua antiga posição, bem como dos seus companheiros, dos que os ajudaram, tornando-se insensíveis, egoístas e fúteis” (Evangelho Segundo O Espiritismo). Em nova missão expiatória, Anya personifica: Beth Harmon, uma genial garotinha superdotada, obrigada a viver a segunda infância equiparada ao alter ego: Casey Cooke, de Fragmentado, na Netflix. Em plena Guerra Fria, no estado patriarcal do Kentucky da década de 1950, a pequena órfã torna-se viciada em tranquilizantes enquanto aprende a jogar xadrez casualmente com o zelador. Em pouco tempo estudando religiosamente 8 horas por dia as táticas do esporte predileto, somado ao fundamental auxílio de colegas de profissão com mais experiência, a enxadrista introspectiva atinge um nível impressionante já nas primeiras competições que participa, semelhante ao nível do atual campeão mundial de xadrez da União Soviética, ao estilo Rocky IV. Portanto, seu maior desafio, a exemplo do pequeno Avatar - A Lenda de Aang, da Netflix, foi superar a si mesmo, a fim de se tornar uma nobre e visionária Rainha Branca contra a ditadura da impiedosa Rainha Vermelha. Para isso, teve de esquecer a morte trágica da mãe biológica, abandonar as drogas alopáticas e principalmente, se livrar do alcoolismo contagiante fomentado pela solitária mãe adotiva, sua melhor amiga e companheira de viagens, que superou o depressivo abandono do marido machista pela companhia da adotiva filha pródiga querida. O Gambito da Rainha foi a melhor e mais assistida série de 2020, sucesso de público e crítica, supervisionada pelo ex-campeão mundial de xadrez: Garry Kasparov que ficou impressionado com a fidelidade documental das partidas, inspiradas em campeonatos reais. Por falar em Rainha Branca, após o teste da miséria, do dinheiro e do vício, é a vez da atriz encarnar uma mutante tão poderosa quanto a elegante aristocrata: Emma Frost dos X-Men. Na trama do mesmo cineasta de A Culpa é das Estrelas, Josh Boone, sob o codinome: Magia, a jovem feiticeira aparece confinada numa unidade secreta "abrasileirada", coordenada pela médica: Cecilia Reyes (Alice Braga), a fim de aprender a controlar seus poderes de teletransporte, sobretudo exercitar a difícil convivência com os outros integrantes especiais: Os Novos Mutantes, disponível no Disney Plus: Lupina (Maisie Williams), Míssil (Charlie Heaton) e Mancha Solar (o brasileiro Roberto da Costa), todos à espera da introspectiva paciente com poderes desconhecidos, Danielle Moonstar (Blu Hunt). Outro teste supremo que transformou a competente enxadrista americana numa russa arrogante, irmã do íntegro gigante metálico Colossus, que felizmente se redime no final salvando os atormentados camaradas contaminados de ilusões mortais. Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é (Maquiavel). Na manhã da última quarta-feira (3) a atriz de apenas 24 anos foi indicada pela primeira vez ao Globo de Ouro 2021 por Emma e o Gambito da Rainha, que também concorre à Melhor Minissérie.