Entra governo, sai governo e o Rio Pinheiros continua poluído. Quem espera os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), quem usa a ciclovia ou quem passa por ali sente o odor forte, vê os dejetos jogados in natura, vê as ilhas de lixo formando-se. E imagina um Rio limpo, que pudesse orgulhar a população e representar uma nova fase para a cidade. Mas isso é possível? Fernando Pereira, diretor comercial da General Water, imagina que sim. A Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais conversou com ele para tentar entender quais são as principais dificuldades e o que podemos fazer para melhorar a situação. Gazeta de Pinheiros - Por que o Rio Pinheiros atingiu este nível de poluição? Fernando Pereira - O principal motivo é a poluição de suas águas decorrentes do despejo de esgoto sem tratamento em seu leito GP - Em quanto tempo ele saiu de um nível aceitável de poluição para o estado atual? FP - O processo foi relativamente rápido, em alguns anos o Rio tornou-se poluído GP - Muitos foram os planos de despoluição. Por que eles ainda não deram certo? FP - A despoluição do Rio Pinheiros exigirá uma coordenação entre todos os seus “stakeholders”. A concessionária pública deverá acelerar os investimentos em coleta e tratamento de esgoto, pois o avanço dos mesmos ainda é muito lento (cerca de metade de todo o esgoto gerado na Grande São Paulo vai parar nos rios diretamente, seja por falta de redes de coleta, seja por falta de tratamento). As Prefeituras Municipais precisam de engajamento e melhorias no sentido de combater o descarte de lixo nas ruas e terrenos, que, com as chuvas, vão parar no Rio. A população precisa se conscientizar e deixar de descartar lixo nas ruas e se conectar às redes de esgoto sempre que as mesmas estiverem disponíveis (muitas pessoas não conectam o esgoto de suas casas nos coletores da concessionária para não pagar a taxa de esgoto). Por fim, a iniciativa privada também deve se engajar com aporte de tecnologia, novas ideias e investimentos, através de parcerias público-privadas. GP - Quais são os avanços que já foram sentidos? FP - Com o aumento, mesmo que lento, das redes de coleta e tratamento de esgoto, a qualidade da água do Rio apresentou ligeira melhora. O programa de despoluição de córregos afluentes do Pinheiros também contribuiu para a melhoria da qualidade das águas. GP - O que é necessário fazer para que o Rio Pinheiros possa ser novamente utilizado pela população? FP - É necessário que a qualidade da água melhore e o Rio volte a ser limpo. GP - Quanto tempo é necessário para que algum tratamento comece a fazer efeito no Rio? FP - Se tudo que for necessário para despoluir o rio seja feito, acredito que demorará poucos anos. GP - Como é o tratamento de esgotos que são despejados no Rio? É permitido por lei? FP - Os esgotos devem ser coletados e enviados para estações de tratamento que removem os poluentes e a carga orgânica, tornando-a a água apta a ser despejada nos rios. No entanto, boa parte do esgoto gerado na Grande São Paulo ainda é descartado sem tratamento nos rios, fazendo com que os mesmos sejam poluídos. GP - Como o cidadão comum influencia na poluição do rio e o que pode fazer para diminuir seu impacto? FP - O cidadão deve se conectar à rede de esgoto, sempre que a mesma estiver disponível e não jogar lixo nas ruas e terrenos baldios. GP - Quais são os produtos mais poluentes despejados nas torneiras domésticas? FP - Detergentes e óleos. Os óleos de cozinha, por exemplo, não devem ser descartados no esgoto e sim acondicionados em recipientes e descartados em ecopontos, que podem fazer a correta destinação do mesmo. GP - E as indústrias costumam tratar seus dejetos antes de despejá-los? FP - As indústrias são obrigadas a adequar os seus efluentes antes de descarta-los, segundo o Decreto Estadual 8.648/76 e as Resoluções Conama 357 ne 430. No entanto, algumas ainda burlam a lei e descartam seus efluentes sem tratamento. GP - O número de residências sem tratamento de esgotos ainda é muito alto na cidade? FP - Cerca de 50% do esgoto gerado na RMSP ainda é descartado nos rios sem tratamento. GP - A mudança feita na rota do rio acentuou os problemas ambientais? FP - Sim, pois a velocidade de escoamento diminuiu muito, fazendo com a aeração (e consequentemente o teor de oxigênio dissolvido) reduzisse muito. GP - Quais são os exemplos a serem seguidos na recuperação do Rio Pinheiros? FP - Os Rios Tâmisa (Londres), Sena (Paris) e Cheonggyecheon (Seul) são grandes exemplos de rios mortos que voltaram à vida, graças ao engajamento de governos, iniciativa privada e população.