23/04/2020 às 18h34min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h33min

Como o comércio está resistindo à quarentena

A principal medida para o achatamento da curva de contágio para a Covid-19 foi a instituição da quarentena. Feita para não colapsar o sistema de saúde, as medidas de isolamento geraram, porém, efeitos negativos no comércio local. A Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais conversou com alguns empresários locais para saber como eles estão resistindo e sobrevivendo.   Depoimentos Braulio Bachi, diretor da empresa Boreto Administração e gestão de Empresas e Empreendimentos, afirma que “a quarentena colocou uma enorme preocupação com o empresariado, uma vez que o comercio e a gestão de negócios estão caminhando a passos lentos, não tendo um horizonte. Para poder discernir se vamos retomar os negócios e quando será isto, até lá muitos funcionários perderão seus empregos, causando muito transtorno pessoal, uma vez que precisamos trabalhar e somos tolhidos do nosso direito”. Já o gestor da Ikbox (shopping popular com mais de 60 lojas) argumentou que “embora estamos tendo muita flexibilização com os nossos inquilinos, isso não está ocorrendo com os nossos credores, que estão irredutíveis. Quanto a repactuação de prazos e condições e quanto aos bancos a liberação de créditos emergenciais, isso simplesmente não existe. É uma pura mentira, ilusão, impossível, a resposta mais comum a ser ditas pelos bancos é: não, não vamos analisar, vamos esperar para ver como fica ou ser concordarem querem impor taxas abusivas e impraticáveis”. O Diretor Superintendente da Associação Comercial de São Paulo - Distrital Pinheiros, Roberto Manin Frias, é também gestor da Oxivida Engenharia. Ele fala que este período está sendo muito difícil para todos. Seu colega, Ricardo Granja, Diretor Superintendente da Associação Comercial de SP Distrital sudoeste, também afirma o mesmo. “A economia vinha se recuperando lentamente e de repente se põe o pé no freio de uma vez, pegando de surpresa todos os segmentos do empreendedorismo: comércio em geral lojas e shoppings, serviços, indústrias, profissionais liberais etc. O estranho é que tivemos enormes aglomerações antes, durante e depois do Carnaval, e aí não tinha coronavírus para as autoridades”.   Medidas O cenário é novo. Não há receitas prontas para lidar com o momento. Cada empresa, assim, procura inventar soluções. Para amenizar o problema, a Ikbox afirma que “as medidas tomadas serão as mesmas já tomadas anteriormente (início da quarentena). O Ikbox irá absorver todos os custos, ou seja, os inquilinos não terão a obrigação contratual de pagar pelo espaço ocupado, pois entendemos que por ser uma posse precária e não definitiva, achamos por bem absorver esses custos para que o lojista, ao voltar às atividades comerciais, possa ter maior chance e tentativa de levantar seu negócio, uma vez que antes mesmo dessa pandemia, já vinham sofrendo com o baixo movimento do comercio local. Em resumo: sabemos que não estamos dando um tiro no próprio pé, pois se fortalecermos, ou melhor, mantivermos nosso inquilino vivos, em um segundo momento eles poderão dar o retorno necessário para podermos também nos mantermos de pé”.   Associação Comercial Na Oxivida, Frias afirmou ter colocado “os colaboradores em férias, rescisão provisória do contrato de trabalho, suspensão de pagamento de aluguel, entre outras”. “A Associação Comercial, através de seu presidente  Alfredo Cotait, demais diretores e outras entidades, teve diversos encontros com autoridades federais, estaduais e municipais, visando reivindicações em favor do empreendedorismo, tentando amenizar essa quarentena”, informou Ricardo Granja.   Prorrogada até dia 10 O governador João Doria afirmou que a quarentena segue até dia 10 de maio. Para o gestor do Ikbox, a medida será “terrível para o comércio e em especial para a nossa empresa, uma vez que estamos absorvendo todos os custos e sem receita, a qual desde o início da quarentena abdicamos. Lamento que o maior vírus do momento é o vírus de disputa política”.   Insuficiente Para Bachi a abertura de alguns setores que já ocorreu é “insuficiente para a roda da economia girar. Notamos que a instabilidade emocional é grande, que vai ocasionar grandes danos no futuro. Sugestão seria abrir paulatinamente e flexibilizando o comércio em dias alternados, colocando regras explícitas de distanciamento de clientes, diante de máscaras, álcool e medidas protetivas. Com isto a população voltará a ter esperança, pois a economia voltará a circular. A doença é de todo mundo, portanto as crises psicológicas que se sucedem podem ser maiores, em virtude da falta de proventos para arcar com seus custos. Esta prorrogação de impostos é paliativa, pois o empresário vai ter que acertar esta conta no futuro. E os funcionários que perderam o emprego, quando retornarem ao mercado, será que terão ânimo?”. Frias afirma que a medida é “terrível, já que somente os que se anteciparam no e-commerce terão alguma chance de sobrevivência”. Granja corrobora dizendo que “foi outro baque, pois esperávamos a liberação no último dia 13 para o início da retomada com responsabilidade de todos , preservando o aspecto vertical e as pessoas retornando ao trabalho. Vemos ônibus, trens e metrôs lotados, pessoal sem máscaras, Cracolândia a todo vapor”.   Lado pessoal O fechamento do comércio também acarreta sentimentos tristes. Os problemas financeiros acabam também atacando o lado pessoal. O depoimento do gestor da Ikbox aponta para os custos emocionais em questão. “Com a absorção dos custos fixos, além de abdicarmos dos recebimentos dos aluguéis, não será fácil nem para os investidores e nem para a empresa. Esta regra que adotamos será salutar para a recuperação mais abreviada dos lojistas do nosso espaço, e quando digo abreviada quero dizer menos tempo (anos, talvez). Eu e minha empresa estamos agindo contrariamente aos grandes shoppings, que exigem o pagamento integral de seus inquilinos, o que não é o nosso caso. Não iremos cobrar absolutamente nada durante esse período crítico de fechamento do comércio, que julgamos uma forma indireta de também nos beneficiar futuramente com o fortalecimento dos nossos inquilinos”.   Férias Bachi corrobora com o depoimento. “Coloquei o pessoal em férias, achei que retomaria esta semana, porém vamos postergando. Clientes reclamam que não recebem produtos e também postergam pagamentos, o setor de shopping está desesperador, fechado, e a quantidade de inadimplência aumentou, e tem que negociar todo dia com fornecedores e afins. Em resumo, é péssimo. Temos que nos liberarmos desta quarentena, correr algum risco para reabrir o negócio, e esperar que a população volte a consumir gradativamente e à normalidade”.   Isolamento Ricardo Granja afirma estar sendo “muito difícil, pois esse isolamento social nos deixa muito preocupado com os desdobramentos futuros. Os idosos no sofrimento, com dificuldades de convívio com seus parentes e amigos”.   Reorganizar Frias também comenta a situação inédita. “Espero que nossos governantes tenham sensibilidade em reorganizar a volta à produção com normas mínimas a serem cumpridas de saúde”.


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