25/07/2024 às 22h47min - Atualizada em 25/07/2024 às 22h47min

​Um projeto para a Via Raposo Tavares no seu trecho urbano. Nova Raposo?

O debate sobre o projeto Nova Raposo no trecho entre Cotia e São Paulo (km09 e 34) torna a questão da mobilidade urbana atual. É claro que o projeto do governo estadual é antiquado e rodoviarista, causando impactos ambientais, sociais, urbanísticos e climáticos, sem ganho efetivo na solução dos congestionamentos na via. Neste trecho transitam 90 mil veículos/dia e 85% são veículos leves (carros). Com cerca de 40 metros de largura, as pistas da rodovia estão saturadas. Para ampliar sua capacidade, o governo escolheu alargar cerca de 15 a 20 metros para cada lado e o volume de tráfego passaria para 118 mil veículos/dia. Essa ampliação causaria grandes desapropriações de imóveis e supressão de cerca de mil árvores, e a área impermeabilizada aumentaria em mais 1,1 milhão de m² segundo dados levantados pelo “Movimento Nova Raposo Não!”
Mas se a maioria do volume são os veículos de transporte individual, a mobilidade urbana deveria ser o foco da proposta. Os ônibus na rodovia têm origem em vários municípios com destino a São Paulo. Nem mesmo um sistema de corredores de ônibus troncalizado e integrado foi previsto até agora, o que mostra o desinteresse em priorizar o transporte coletivo, na contramão do que hojese pratica.
Para desmotivar o transporte individual, a solução é a oferta de um serviço de mobilidade urbana de alta qualidade. Com um pequeno alargamento de aproximadamente 5 metros de cada lado, a inserção de um sistema de transporte de média capacidade movido a energia limpa seria possível. A proposta atual objetiva simplesmente criar um número maior de pistas e só amplia o volume de poluentes e tráfego para as vias já saturadas da cidade. As mudanças anunciadas até agora atendem a pressões localizadas, sem alterar sua concepção.
Chamamos essa opção de urbanismo rodoviarista, presente anos 1950 e que não faz o menor sentido atualmente, quando se busca soluções para a crise climática.
São Paulo, Estado e cidade assumiram diversos compromissos para reduzir emissões de gases de efeito estufa e sustentabilidade, o que conflita claramente com o projeto ora proposto. Nesses 25 km, a rodovia virou uma via urbana com edificações verticais, bairros de todos os padrões, áreas verdes conservadas a duras penas, como o Parque da Previdência, numa busca cada vez maior dequalificação, sustentabilidade e resiliência urbana. Alia-se a isso a questão do aumento da arrecadação via implantação de um pedágio urbano!
Um projeto de média capacidade que transportasse até 35 mil passageiros/dia resolveria o problema com menos impactos ambientais e melhores resultados. A questão do pedágio urbano é uma política pública que ainda demanda um maior debate, pois tarifas opcionais e a tarifa zero vem sendo discutidas e praticada em projetos modernos de mobilidade.
As opções estariam entre o BRT – Bus Rapid Transit (Ônibus de Trânsito Rápido) e os Veículos Leves Sobre Trilhos – VLT. Elas reduzem o uso do carro. Temos ainda a questão do metrô que transportaria até 90 mil passageiros/dia, mas que necessita de uma demanda que viabilize sua implantação. Se o governo discute a implantação da linha Marrom 22 de Cotia a São Paulo, deveria apresentá-la de forma séria e consequente. Essas opções têm tempos de maturação diversos, VLT e BRT de médio prazo, o metrô de longo prazo.
Minha opinião é que o VLT apresenta vantagens suficientes para melhorar as condições de mobilidade urbana nesse trecho. Há um claro retrocesso na aplicação das leis e regras ambientais, conquistadas na Constituição de 1988, pois recebeu-se um projeto rodoviarista que não se sustenta e nem sequer apresenta os estudos em que se baseou. O Estudo de Impacto Ambiental – EIA é o instrumento previsto em lei para se escolher o melhor caminho.
A quem está servindo esse projeto rodoviarista dos anos 1950, que no século 21 não faz mais nenhum sentido, pois causa impactos e só agrava as soluções social, urbana, ambiental e climática! 
*Ivan Maglio é Engenheiro Civil, Doutor em Saúde Pública e Pesquisador em Mudanças Climáticas e Planejamento Urbano pelo IEA – Instituto de Estudos Avançados e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU da USP.

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