30/03/2023 às 23h20min - Atualizada em 30/03/2023 às 23h20min

​Sabesp polui, espalha fezes pelas ruas e coloca em perigo moradores da região

O Ministério Público definiu a construção do empreendimento da UR Antonico, uma verdadeira unidade de tratamentos de esgoto puro da Sabesp, defronte ao Estádio Cícero Pompeu de Toledo, na entrada do Morumbi, sendo “além de ilícita, por causar evidente dano ambiental, é claramente ilegal”. Entre as justificativas estão a supressão de um bosque ativo com 30 anos de vida, com mais de 250 árvores e os impactos causados na região, por licenças supostamente irregulares da Cetesb, para o ‘Projeto Novo Rio Pinheiros’. Agora a denúncia de moradores e ambientalistas é mais grave: estão avançando irregularmente em área pública, promovendo a degradação do local e espalhando fezes, lixo e detritos por todos os lados, contaminando a região.

Depoimentos apontam muitos transtornos
“Lá na obra da ‘usina de esgoto’, na Avenida Jorge João Saad, os construtores avançaram num trecho muito além do permitido. Mudaram a cerca de lugar, avançando em trecho de preservação ambiental. Além disso, o mais grave é o fato de eles não terem infraestrutura para o esquema que montaram. Então, as caçambas lotadas de cocô ficam estacionadas dentro da praça, onde fica o Conseg Morumbi e o Posto Policial da PM. Estacionam as caçambas derramando cocô no chão, pingando, exatamente onde os feirantes armam suas barracas de frutas e verduras, que ocorrem ali, contaminando todo o solo e os produtos comercializados. O absurdo do absurdo! Nunca vimos nada mais escandaloso! A tal empresa que faz o manuseio do esgoto, pegou mais uma parte da praça, obra na Av. Jorge João Saad. O mais grave é que a parte onde tem o muro de concreto a obra parava ali. Agora a parte dos tapumes verde e azul, foram a área que eles avançaram clandestinamente. As árvores que estavam fora da obra, agora estão dentro, sendo mortas por areia e cimento. Parte da obra fica na Rua Corgie Assad Abdala. Agora estão avançado praça adentro e o trator abrindo mais espaço...”, conclui Ana Aragão , jornalista, ambientalista e membro do CADES-Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz do Butantã

“Até estacionamento dentro da ‘usina de esgoto’ foi feito nos dias de shows nos últimos dias no Morumbi. Uma barbárie! Usando área pública, condenada pelo Ministério Púbico, para ‘faturar’ mais um pouco”. L.A.C.

“Sabesp não fiscaliza, nem disciplina construtoras contratadas, que invadem espaço público e poluem todo o ambiente, com odores de esgoto e fezes no chão, diariamente”. A.A.

“A Sabesp nunca contatou a comunidade. Foi tudo à revelia. Houve uma reunião na Prefeitura onde o engenheiro mentiu descaradamente. Pelo mapa deles a obra seria muito menor, todos os tratamentos de água seriam internos, não haveria odor nem barulho. Acredito que, se não houver uma visita da Vigilância Sanitária, será impossível viver por aqui”. A.C.

Empresa será multada
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Butantã, informa que não há permissão de uso para a praça utilizada. A empresa responsável será notificada pela fiscalização da administração regional.

Processo de tratamento ineficaz
Como o processo de “tratamento” do poluído Córrego Antonico, um verdadeiro esgoto a céu aberto, é feito de maneira ineficaz e inadequada, para a despoluição de corpos d’agua, ele gera resíduos. A obra é bastante polêmica, uma vez que propõe o tratamento das águas do córrego por meio do ‘Sistema de Flotação’, e há várias questões que preocupam os moradores, por exemplo, por que colocar uma verdadeira ‘Estação de Tratamento de Esgoto- ETE’ no meio do bairro?
Enfim, muitas questões técnicas e possibilidade de geração de impactos ambientais negativos pelo empreendimento permanecem sem uma resposta consistente à comunidade, em razão da rapidez e pouca transparência dada à divulgação da obra e de seu licenciamento ambiental, supostamente irregular de Governo para Governo (Sabesp). Segundo denúncias de engenheiros e ambientalistas, a Sabesp já foi condenada judicialmente por “afastar” esgoto das guias, sarjetas e ruas, e jogar “in-natura” em córregos limpos, não levando como deveria, para verdadeiras estações de tratamento.

Sistema de Flotação
O engenheiro civil Ivan Carlos Maglio, Doutor em Saúde Pública e Pós-Doutor em Planejamento Urbano e Mudanças Climáticas pelo Centro de Síntese Cidades Globais do IEA – USP, explica: “Pesquisando o assunto, resgatamos a ACP – Ação Civil Pública movida pelo Promotor José Eduardo Luti, contra o uso do mesmo ‘Sistema de Flotação’ utilizado no caso do Rio Pinheiros, que foi considerado ineficiente pelo fato de não atender às exigências de qualidade, que mal chega à classe 4, mas que deveria atingir a Classe 2 de Qualidade. de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA nº 357/2005. Pois bem, o sistema de flotação volta a ser aplicado, como é o caso da obra em execução no córrego do Antonico. Entretanto, um método considerado ineficaz, seria eficaz para um afluente como o Antonico e para os demais córregos? Apenas no caso do córrego do Jaguaré o córrego será tratado por lodos ativados e por ozonização. Todas essas unidades gerarão em grande quantidade odores e vetores de doença como mosquitos. Este processo de ‘tratamento’ gera resíduos não inertes, que apresentam risco de causar impactos à saúde pública. Os caminhões com esses resíduos retirados da unidade são ‘carregados’ de maneira inadequada, e ficam ‘vazando’ pelo caminho, para serem encaminhados para deposição em aterro sanitário”.

Rio Pinheiros mais poluído
Apesar do custo milionário ‘Projeto Novo Rio Pinheiros’ , e de acordo com levantamento feito pela ONG SOS Mata Atlântica, o Rio Pinheiros continua o mais poluído dentre todos os que compõem o bioma. Feito desde 2015, o relatório é lançado anualmente para marcar o Dia Mundial da Água, celebrado no último dia 22 de março. Segundo matéria da ‘Folha de São Paulo”, da semana passada, os três locais em que foram recolhidas amostras classificadas como de péssima qualidade são do Rio Pinheiros. Foram coletadas 160 amostras em todo o Brasil, sendo nenhuma ótima, 75% regular e 16% ruim.

O “sonho” da despoluição do Rio Pinheiros
Todos esperam que o Tribunal de Justiça, a exemplo da condenação pelo MP, paralise as obras e condene a diretoria anterior  da Sabesp, da Cetesb e o Governo do Estado a ressarcirem os mais de 100 milhões de reais gastos na polêmica obra UR Antonico, que em nada beneficia a população. A despoluição no Projeto Novo Rio Pinheiros não é uma realidade, deve estar chegando ao custo de mais de R$ 1 bilhão, e os resultados esperados são de pouco valor para o meio ambiente. Um sonho político que saiu pela culatra!

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