21/05/2018 às 18h20min - Atualizada em 05/05/2021 às 10h05min

A educação como legado

Ano de Copa do Mundo e o momento mais aguardado pelos amantes do futebol: a Seleção Brasileira. Entre táticas, estratégias, quem foi chamado, quem não foi, o entusiasmo do técnico Tite transmite esperança. A Copa de Tite vai além do futebol bem jogado. O diferencial do treinador é trabalhar o jogador total, dentro e fora de campo. O que mais surpreende – além de trazer o título, é claro –, é o foco do legado. Eis aí uma reflexão interessante, conectada com o momento em que vivemos. Desde 1982, na Copa da Espanha, acompanho com olhos jornalísticos não só o resultado final do torneio, mas também os impactos positivos e negativos para jogadores, torcedores e, principalmente, a contribuição do esporte nos países sede. E de como a influência e o fascínio pelo futebol podem alavancar e até mesmo mudar os rumos da história de um país. Em mais de 30 anos, pude conviver com jogadores, técnicos, sentir as emoções e transformações que uma Copa do Mundo provoca. Desde a seleção de 70, os jovens brasileiros eternizam seus ídolos. Craques como Pelé, Tostão, Rivellino se renovam nas paixões herdadas nas famílias, nos álbuns de figurinhas, nas histórias contadas pelos pais e avós. Mestres que inspiram gerações, que lançam tendências, e nos encantam com jogo bonito. Cada Copa despertou sentimentos diferentes, revoltas, frustações e amor. Na vitória ou na derrota, o clamor das arquibancadas e a alegria das ruas contagiaram jovens numa tradição de bola que se mantém até hoje. Somos referência no futebol, independente dos resultados. Desde a Copa no Brasil, vivemos um gosto amargo na boca, porque perder faz parte do jogo, mas sermos humilhados na própria casa doeu demais. Tite chega na Rússia com uma bagagem mais pesada que a normal. Não que essa seleção tenha que vingar o 7 a 1 contra a Alemanha, mas o resgate de valores, de brios, gera uma cobrança mais do que a esperada. Apostamos todas as fichas em Tite, técnico premiado, que conseguiu, com os mesmos ingredientes, adicionar um tempero mágico de vitórias no rendimento dos jogadores de antes. Como um time despedaçado em sua autoconfiança, é restabelecido? A confiança se perde na medida em que os resultados não acontecem. Sem confiança e sem um bom ambiente de trabalho, não conseguimos produzir o melhor. Tite resgatou a confiança do grupo e do Brasil. Após quase dois anos de trabalho e observação, chega respaldado, seguro e com uma expectativa muito grande. Sabe que a lista dos 23 jogadores traz sonhos realizados e sonhos frustrados, tema que os analistas de plantão adoram. A geração de hoje pode esperar uma seleção diferente. Começando pelo ídolo maior: Neymar. Tite fala dele com carinho: “Ele é um extraclasse. Ele é diferente, ele é top 3, aquele que tem a capacidade do imprevisível, do lúdico, do drible, da finta, de encontrar soluções criativas que só os diferentes conseguem. Aquele que sabe também, que um conjunto forte potencializa a individualidade”. O treinador quer apresentar ao mundo uma seleção de atletas no mais alto nível de excelência, não só com a bola. São exemplos de conduta, de competitividade quando não se está com a bola, de saber jogar com alegria, com prazer e satisfação. Mostrar aos jovens de hoje que dá para vencer o adversário olhando e o enfrentando, sendo mentalmente forte; que dá para vencer com preceitos de educação, sem ser bonzinho; que dá para vencer merecendo pelo desempenho que se tem dentro de campo; que é possível competir forte e ser leal; que dá para ser melhor que o adversário sendo mais competente. A meta é encontrar o equilíbrio entre o futebol e a beleza que ele proporciona com senso de competitividade para chegar até a final.


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