Elogiado e criticado, o Caminhar Pinheiros deve chegar ao fim. O Projeto, que tinha como intenção alargar o espaço do pedestre na Rua dos Pinheiros, ofereceu também motivo para debate. Quem mora nas adjacências comenta a piora no trânsito local. A instalação de faixas e mobiliário urbano garantiu 800 m² a mais de calçada entre as ruas Cônego Eugênio Leite e Joaquim Antunes para a população até segunda (10). O projeto bulevar rua dos Pinheiros é uma luta que a Gazeta de Pinheiros prestigia há mais de 10 anos; o Caminhar Pinheiros foi uma revindicação de comerciantes e moradores e visava valorizar a convivência ao ar livre e garantir mais segurança no trânsito e para os pedestres. Nas esquinas, foram ampliados os espaços para os pedestres, diminuindo o espaço necessário para travessia em cerca de dois metros, encurtando a via para os carros. Nas vagas de zona azul, plantas foram colocadas para delimitar visualmente o que pôde ser usado pela população, além de móveis de madeira. Idealizadores do Projeto, o Coletivo Pinheiros explica que havia “uma necessidade de resolver o problema da travessia, na esquina da Rua Joaquim Antunes com a Rua dos Pinheiros”. “Então, ao tomarmos conhecimento do Estatuto do Pedestre e a exemplo do Festival Pinheiros, resolvemos pedir à Subprefeitura de Pinheiros autorização para mais um evento na rua, onde faríamos um projeto piloto de extensão das calçadas para diminuir o tempo de travessia e que também desse mais visibilidade ao pedestre”, comenta Vanêssa Rocha, presidente do Coletivo. "A ideia é inspirada no Estatuto do Pedestre, que estabelece o pedestre como prioridade na elaboração de políticas públicas. Frequento o bairro e conheci o Coletivo Pinheiros por meio do Festival Pinheiros, que transforma a rua em um grande calçadão. Diante do aumento de fluxo de pedestres após a abertura da estação Fradique do metrô, ficou claro que a rua poderia atender melhor o pedestre, especialmente no cruzamento com a Joaquim Antunes", comentou o vereador Police Neto. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o projeto da intervenção temporária em Pinheiros tem licença como evento até o dia 10. Segundo a autarquia, o projeto foi acompanhado frequentemente pelas equipes operacionais e de segurança viária da CET. A Subprefeitura de Pinheiros, em nota, afirma que os resultados alcançados serão avaliados a partir da semana que vem. Porém, a comunidade local se divide sobre a intervenção. Segundo Maria Silvia Rondi Froio, “o trânsito continua muito ruim. De manhã, não se anda!”. Fabio Miloco afirma que “quem tem que trabalhar fora do bairro, como a grande maioria dos moradores, está enfrentando grande dificuldade de circulação na Rua dos Pinheiros e nas vias coletoras. O trânsito se acumula, aumenta a emissão de poluentes e o tempo de viagem até o trabalho. Penso que um projeto dessa natureza deveria vir acompanhado de uma alteração grande no fluxo de trânsito de toda a região. Como está, tem que acabar, porque a paciência está se esgotando”. Em depoimento na Página do Projeto, Heloísa Martins, gerente de Segurança do Tráfego da CET, afirma que o impacto na fluidez no trânsito foi mínimo pois não foram removidas faixas de rolamento dos carros, apenas vagas de estacionamento rotativo, e as travessias se tornaram bem mais seguras para quem circula a pé. O vereador Police afirma que a "avaliação é bastante positiva”. “Não houve impacto significativo na fluidez do trânsito - já que não foram removidas faixas de rolamento, segundo a própria CET - e a segurança do pedestre nos cruzamentos da Joaquim Antunes e da Cônego Eugênio Leite melhorou muito", comenta. Porém, há questionamentos. Uma das reclamações é em relação ao serviço de valets. Silvana Forelli comenta que “os manobristas dos valets param os carros no meio da rua e ficamos com uma faixa para atravessar de carro”. Fabio Helou, do restaurante Piccolo, acredita que o trânsito sempre existiu no local. “Antes era Zona Azul, então, era carro do lado de cá e de lá. O trânsito sempre foi assim, a diferença é que não se pode parar mais. Nós nos adaptamos com o valet. O cliente para do outro lado da rua (onde pode parar) e o manobrista vai lá e aborda o cliente. Foi uma questão de readaptação”, comenta. Fabio afirma que a intervenção foi positiva para seu negócio. Zé Maria Pereira, da Tasca do Zé e da Maria, não compartilha com o sentimento. Segundo ele, seu negócio viu o número de frequentadores diminuir graças à instalação. “Hoje o movimento caiu. Para mim, prejudicou. Os clientes que levavam 5 minutos da Faria Lima até aqui, agora demoram 25”, afirma. Outro ponto negativo comentado pelo proprietário é a ausência de comunicação e consulta em relação ao projeto. “Eu só soube quando vi o trânsito e as pessoas comentaram que haviam ampliado a calçada e isso me trouxe perdas financeiras”, argumenta. A presidente do Coletivo Pinheiros comenta que foi compartilhado “com todos que participam com a gente do Festival Pinheiros e tivemos várias reuniões com todos os estabelecimentos inseridos no perímetro do projeto Caminhar Pinheiros”. “É uma maneira de resignificar as experiências, ampliar os espaços de convivência para moradores, pedestres e clientes dos nossos estabelecimentos. O Caminhar Pinheiros tem o mesmo propósito do Coletivo Pinheiros, que é transcender os limites da boa gastronomia, da prestação de serviços, das iniciativas culturais e da mobilidade urbana. É um proposta de repensar o mundo, de se ter uma cidade mais humana”, complementa Vanêssa.. Questionado na época do lançamento do Projeto, o engenheiro Hemilton Inouye, gerente de engenharia de Tráfego Oeste da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), comentou que hoje o trânsito está muito saturado, porém, há alternativas de deslocamento em Pinheiros. “A ocupação das esquinas é de um espaço que, hoje, já é ocupado pelo pedestre. A faixa de pedestre é uma área onde o veículo não estaciona. E a outra área é a continuação do estacionamento”, explica. Isso não alteraria o trânsito, mas diminui a probabilidade de acontecer um atropelamento. “O que podemos dizer é que a ocupação do Caminhar Pinheiros é exclusivamente em vagas rotativas, portanto, não houve alteração nas pistas de rolagem. Ou seja, onde estão os grafismos, floreiras e mobiliários hoje, há 30 dias, quando não colocamos o Caminhar Pinheiros na rua, eram carros estacionados”, avalia Vanêssa. Porém, Silvana Forelli aponta que pedestres continuam a atravessar fora das faixas e das áreas destinadas para eles. E Felipe Moraes argumenta que “só existem bancos de madeira em frente aos estabelecimentos. Caminhar ali é simplesmente impossível”. Police Neto afirma que "sem desconsiderar a percepção dos motoristas na região, entendo que o impacto mais importante é a segurança do pedestre. O motorista foi incentivado a parar para a travessia do pedestre, o que seria obrigatório em qualquer circunstância, mas nem sempre é respeitado. Além disso, segundo a CET, não houve mudança significativa na fluidez do trânsito". Marta Catarina afirma morar a poucos metros da intervenção e crê que o projeto é desnecessário. ”A calçada da rua dos Pinheiros atende o pedestre muito bem e sem necessidade nenhuma de colocar o pedestre em risco numa faixa no mesmo nível dos carros e tomada de plantas e caixotes pra sentar e apoiar bebida. As pessoas não ameaçam os carros e nem os carros ameaçam as pessoas aqui. O convívio era muito pacífico e ordenado até a Prefeitura se mancomunar com os botecos e decidir privatizar informalmente o espaço publico para os amigos”, afirma. Um estudo sobre o impacto deve ser apresentado nos próximos dias. "Agentes da CET acompanharam a implantação e toda a execução do projeto. Estudo da Iniciativa Bloomberg no local também trará um diagnóstico dos impactos e avaliações do evento, inclusive com entrevistas realizadas no local", comenta o vereador Police Neto. Questionada, a CET afirma que o projeto foi proposto e custeado pela Associação Caminhar Pinheiros. “Toda a desmobilização será por conta deles”, afirmam. O vereador Police comenta que há vontade para repetir o projeto, mas nada está definido. “Depende de reuniões nos próximos dias", comenta.