28/02/2020 às 16h52min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h36min

Não é falta de palmada, mas falta de presença

“Quebra crânio”, “desafio da rasteira”, “roleta humana”. Nem de longe isso deve ser chamado de brincadeira, mas sim de uma agressão que está sendo retratada em vídeo e divulgada nas redes sociais por centenas de adolescentes. A Dra. Denise Lellis, Phd em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explica que é uma atitude que ultrapassa os limites do bullying e passa ser uma agressão física, que denota em uma total falta de empatia e de preocupação, tanto com o bem-estar emocional como com o bem-estar físico um do outro. E alerta que isso pode ser uma consequência do estilo tóxico de vida ao qual as crianças têm sido inseridas. “Não é falta de palmada, mas falta de presença”, alerta Dra. Denise.   Quando crianças e adolescentes assistem a esse tipo de vídeo e saem repetindo a atitude, é porque não tem um adulto para dividir e trocar ideia, e é aí que nasce e mora o perigo. “No momento, o foco está nas vítimas, com os que são machucados fisicamente, mas é preciso olhar para os adolescentes que estão fazendo isso, pois o futuro deles está em jogo. Quem serão esses adultos que agridem sem se preocupar com o outro? A adolescência é consequência da infância”, comenta a Doutora em Pediatria.   “Essa geração não é culpada, mas sim vítima, porque está sozinha. A internet tem conversado muito mais com crianças e adolescentes porque estamos permitindo que isso aconteça. Porém, muita atenção, porque a internet também não é a vilã. O vilão é o estilo de vida. Estamos deixando os nossos filhos a mercê de quem quiser falar com eles. Um bom indicador é: se a criança não pode andar na rua sozinha, então ela também não pode ficar na internet sozinha”, enfatiza Dra. Denise.   Também é uma oportunidade para as escolas, a partir desses fatos, alertar e trabalhar o cuidado com o outro e a empatia, já que a criança que passou pela situação se machucou não só fisicamente, mas emocionalmente, podendo se sentir humilhada e constrangida. É uma violência infinita. “Meu último recado é: pais, aproveitem essa oportunidade para dialogar com seus filhos. Não se deve procurar culpados, mas se abrir ao diálogo, independentemente da idade da criança. Coloque-a dos dois lados, do agressor e da vítima. Vamos trabalhar a empatia, que está em falta no mundo”.   Fonte: Dra. Denise Lellis, doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil da Abeso – Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Instagram: @dradeniselellis)


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.