Pernilongos vivem e se proliferam nas áreas poluídas dos rios Pinheiros e Tietê. A população da região sofre com infestações ao longo do ano. O calor e a chuva, características da estação, auxiliam na multiplicação desses insetos. A situação na qual o Rio Pinheiros se encontra acaba aumentando a multiplicação de pernilongos em toda a região, de Santo Amaro à Lapa, passando por bairros como Butantã, Morumbi e Pinheiros. De acordo com a população do Alto de Pinheiros, a presença de pernilongos é alta no local. "É um verdadeiro inferno! Será que é muito complicado fazer aquele bendito fumacê nas margens do Rio?", aponta questionamento de V. R. Outros moradores corroboram com a queixa. "Eles pulverizam uma espécie de óleo e quando as larvas querem voar não conseguem, por conta das asas pesadas. Interrompe o ciclo", afirma S. Z. "Temos lajes com poças, calhas entupidas e piscinas sem manutenção, principalmente em imóveis à venda", relembra C. M. Os depoimentos demonstram como os insetos atacam em toda a extensão do Rio Pinheiros. Os ovos podem permanecer sem eclodir por um grande período de tempo, aguardando até o próximo período chuvoso. Estudos sugerem que os ovos de A. aegypti resistam por até 450 dias, uma vez que são extremamente resistentes ao ressecamento. A eclosão do ovo ocorre quando a água entra em contato com essa estrutura. A Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais relembra a entrevista com Maria Anice Mureb Sallum, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com a especialista, o problema é causado por causa da falta de saneamento ambiental, especialmente pelo fato de o rio Pinheiros receber elevada quantidade de esgoto in natura e ter sido transformado em “lagoa de estabilização”. As margens são sujas, com plantas que facilitam o desenvolvimento das fases iniciais de vida do pernilongo doméstico e oferecem abrigo aos adultos, machos e fêmeas. O pernilongo doméstico é o único mosquito que sobrevive às condições extremamente poluídas do rio, não tendo nem predadores nem competidores. Ali ele é o “rei” e prolifera sem dificuldade, inclusive com fontes de sangue abundantes nas margens (roedores) e áreas no entorno do rio (humanos, roedores, cachorros etc). O rio Pinheiros não é o único responsável pela proliferação do mosquito. A falta de chuva torna a água estável, com maior nível de poluentes e eutrofização, com muita matéria orgânica que serve de alimento para as larvas do mosquito. As temperaturas elevadas em decorrência das mudanças climáticas e da ilha de calor urbano tornam as condições ambientais e climáticas ainda mais propícias à proliferação do Culex quinquefasciatus (pernilongo doméstico). Em temperaturas mais elevadas, o desenvolvimento das fases iniciais de vida (larvas e pupas) é mais rápido. Esse fato, juntamente com a maior oferta de criadouros por causa da água que se acumula no ambiente, inclusive em recipientes diversos, favorece a proliferação do pernilongo. Dessa maneira, é fácil entender a presença de grande quantidade de Culex em áreas próximas aos rios poluídos do município de São Paulo. Fossas negras e sépticas, calhas entupidas, galerias de água pluvial entupidas, rios e córregos contaminados com esgoto, piscinões, calçadas quebradas que permitem o acúmulo de água sob o revestimento e recipientes e resíduos sólidos de plástico, pequenos e grandes, acumulam água, podendo representar excelentes ambientes para a proliferação do pernilongo. Os mosquitos podem apresentar resistência aos inseticidas usados no controle. Além desse problema, há o fato de que nem sempre é possível utilizar o fumacê, pois as condições climáticas podem não ser as adequadas. As partículas do inseticida têm de permanecer suspensas no ar por certo período para que matem os mosquitos. Por exemplo, se estiver ventando, não é possível fazer a aplicação, pois ocorrerá a perda do produto, agravada pela contaminação do ambiente, sem ter o resultado esperado. A aplicação de inseticidas pode ser feita durante o dia nas margens de rios e córregos poluídos, pois visa eliminar os pernilongos que estão em repouso na vegetação. O controle seria mais efetivo com a aplicação de produtos larvicidas, mas as condições climáticas devem ser avaliadas para evitar a perda do produto antes que possa causar o efeito desejável, ou seja, matar as larvas. Maria Anice ainda afirma que muitas medidas deveriam ser adotadas pelos governantes, mas não o são ou são inadequadas e descontinuadas. Por exemplo, seria tarefa dos governantes a adoção de amplas medidas de saneamento ambiental que permitissem a eliminação dos habitats das fases iniciais de vida do mosquito, ou seja, água acumulada em recipientes e rios, riachos, lagos poluídos por esgoto doméstico e industrial. Obviamente, a população deveria colaborar, não jogando lixo em bueiros, nas ruas, nos rios, no ambiente em geral e cuidando de suas residências, evitando que as calhas acumulem água e o revestimento fique quebrado de maneira a permitir a formação de pequenas poças, além de limpar os ralos, descartar o lixo em locais adequados etc. Ou seja, mosquito é problema ambiental e, portanto, medidas de saneamento devem ser adotadas para eliminá-los ou mantê-los em baixa densidade.