04/04/2024 às 22h31min - Atualizada em 04/04/2024 às 22h31min

​Moradores e ambientalistas criticam falta de transparência e participação da população nas obras dos “piscinões” do Morumbi

O Secretário Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) Marcos Monteiro, esteve na reunião do CONSEG Morumbi na última terça feira, 2 de abril, para apresentar em detalhes o projeto da obra dos dois reservatórios, vulgo “piscinões”, que serão construídos próximo ao Estádio do Morumbi. 

Apresentação
Após a apresentação pela gerente de Planejamento da SIURB/SPObras, Antônia Guglielmi, o clima foi de questionamentos e tensão, principalmente pela demora da prefeitura para esclarecer a comunidade local sobre detalhes do projeto. Estavam presentes cerca de 70 pessoas, a maioria moradores da região, a presidente do CONSEG, Julia Titz de Rezende, o delegado titular do 34º DP, Marcus Vinicius, Conselheiros do CADES Butantã, do Conselho Participativo Municipal (CPM), o vereador Eliseu Gabriel, responsável pelo convite à SIURB,  muitos ambientalistas e especialistas em Soluções Baseadas na Natureza (SBN).

200 árvores derrubadas
O projeto é polêmico: serão derrubadas mais de 200 árvores, custará aos cofres públicos quase meio bilhão de reais e criará grande transtorno de obras na região, estimada em dois anos para ficar pronta. Os moradores colocaram dúvidas sobre eventuais desapropriações de imóveis, sobre o que seria colocado no lugar da praça, saneamento do córrego Antonico desde sua nascente, em Paraisópolis, e até o comandante da 2a Cia do 16o. Batalhão da PM da região, Marco Antônio Pimentel Pires, não sabia onde sua base ficaria durante o período de obra.

Participação popular
Para o consultor de Segurança Hídrica e ativista de Águas Urbanas, Maurício Ramos, todo o processo está equivocado, a começar pela total ausência de participação popular no processo, sem audiências públicas e participação de especialistas. “Também muito me assustou ver os próprios moradores pedindo o tamponamento do Córrego Antonico alegando mal cheiro e sujeira, quando na verdade deveriam brigar pelo seu saneamento. “Água é vida e deve fazer parte da paisagem urbana. Buscamos água a 40km de São Paulo com tanta água debaixo dos nossos pés”,  disse indignado.

Alternativas
O urbanista Zeca Lotufo, também convidado pelo vereador Eliseu Gabriel como especialista em SBN, elencou uma série de alternativas, de custo drasticamente mais baixos para impedir os alagamentos. “A solução deve ser integrada em toda a sub-bacia do Antonico. É possível fazer calçadas permeabilizadas, jardins de chuva, mini reservatórios com fitoremediação, onde as próprias plantas filtram e fazem o processo de limpeza da água. Incluir o saneamento em Paraisópolis, porque essa população também sofre com o descaso do poder público”.

Falta de integração
Ernesto Maeda, que é membro do Conselho Participativo Municipal também criticou a falta de integração na concepção do projeto. “O que vimos aqui também foi zero interlocução entre as Secretarias sobre o impacto dessa obra. Não há projeto para o tratamento do Córrego Antonico em Paraisópolis, onde ele nasce. Porque alegam ser um problema da Sabesp. A alternativa dos jardins de chuva, uma alternativa de SBN, é problema da subprefeitura. Não há comunicação entre Secretarias do Verde e Meio Ambiente, mudança climática, subprefeitura e Sabesp, o que é absurdo”.

Projeto equivocado
Sobre a supressão das 200 árvores, Fabíola Lago, da Rede Ambiental Butantã destacou o equívoco deste projeto em plena crise climática. “O próprio Secretário da SIURB, Marcos Monteiro, admitiu que não houve previsão de se repor a praça e sua rearborização em cima do reservatório na licitação. Pressionado, disse que era possível discutir com a empreiteira a inclusão a depender dos custos. E se não fosse possível, fazer uma nova licitação. É um descaso com o aumento de temperatura na cidade com as ondas de calor, com o enorme serviço ambiental dessas árvores que sequestram toneladas de carbono por ano”, disse a ativista.

Contramão do mundo 
A conselheira do CADES Butantã, Ana Aragão, lamenta que esse projeto está na contramão do mundo. “Hoje,  muitas cidades estão repensando suas estruturas de drenagem, liberando os rios que foram canalizados no passado, criando parques lineares e áreas de convívio e ampliando os espaços para o excedente de água. Nós, em São Paulo, estamos fazendo o contrário com o pouco de verde e natureza que ainda temos. Estamos cada vez mais substituindo a infraestrutura ‘verde’ pelo ‘cinza’, com o descaso com a criação de parques e a restauração de riachos urbanos”, argumentou.

Embaixo do estádio
Um moradora que prefere não se identificar, torcedora do São Paulo, acredita que tudo seria muito mais fácil e com menor custo se o reservatório simplesmente fosse feito embaixo do gramado do Estádio do Morumbi. “Não teríamos impacto no trânsito, 200 árvores não seriam cortadas e a prefeitura até poderia pagar o aluguel de outros campos para o São Paulo, nesses dois anos de obras”, concluiu.

Nota da SIURB para a matéria do Córrego Antonico 
A Prefeitura de São Paulo lamenta o veículo não ter procurado a gestão para apuração e envio de posicionamento. Em resposta à matéria publicada, a Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) esclarece que a Consulta Pública referente às obras para contenção de cheias do Córrego Antonico ocorreu entre os dias 15 e 21 de setembro do ano passado. O comunicado foi publicado no Diário Oficial da Cidade, no site da SIURB, bem como em jornal de grande circulação, garantindo transparência e acesso de toda população aos projetos.

O projeto em questão foi desenvolvido a partir dos estudos feitos em parceria com a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH) da USP. Os estudos comprovaram que, para o efetivo combate às cheias, as chamadas "soluções baseadas na natureza", como jardins de chuva, poços de infiltração, telhados verdes e mini reservatórios, não são suficientes (além de sua implantação ocorrer em médio e longo prazo, já que dependem de diversas ações). O projeto elaborado pela SIURB prevê dois grandes reservatórios que podem armazenar, juntos, 177,5 mil metros cúbicos de água (volume equivalente à 71 piscinas olímpicas), a serem implantados em áreas públicas e assim promover um alto grau de proteção à bacia hidrográfica em curto prazo. Como foi informado na reunião com a comunidade local no dia 2 de abril, não há desapropriações previstas. 

Após as obras, está sob a responsabilidade da SIURB a recomposição da Praça Roberto Gomes Pedrosa e da rotatória logo à sua frente. Na rotatória serão plantadas espécies de árvores como Carobinha, Uvaia e Ipê-Amarelo. A praça, onde será construído o reservatório, será coberta por uma laje. No local, serão implantadas novamente a base da Polícia Militar e a sede do CONSEG Morumbi. A instalação de outros equipamentos públicos na Praça Roberto Gomes Pedro será discutida com a comunidade local. A obra conta com Termo de Compromisso Ambiental da obra, firmado junto à Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA).

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