A origem do Saci-Pererê: de Monteiro Lobato a Mauricio de Sousa e Ziraldo 

Outrora, um sátiro curumim de rabo comprido chamado Yaci-Yaterê, originário do período colonial nascido dentro de um broto de bambu após 7 meses de gestação, a exemplo da Princesa da Lua, Kaguya, lá onde cantam os ventos simbolizados pelo espírito africano Exu ou pelo hálito do Deus bíblico que pairava sobre as águas na aurora dos tempos. Influenciado pela cultura africana, o indígena tornou-se o famoso Saci-Pererê, integrante do Sítio do Pica-Pau Amarelo de Monteiro Lobato, incluindo a Cuca, além de líder da Turma do Pererê escrito pelo pai do Menino Maluquinho, Ziraldo, e finalmente, membro da Turma da Mônica de Mauricio de Sousa. Deficiente como o deus-coxo Hefesto, o moleque travesso é capaz de volitar rapidamente numa perna só formando um redemoinho ao seu redor, devido a um acidente jogando capoeira. Vestido de suspensório e pito aceso na boca, ele evola através da fumaça o sopro da vida pelas florestas tropicais brasileiras ao lado de Iara, a mãe d'água, do Curupira, da Caipora, do Boitatá, da Mula-Sem-Cabeça, do Lobisomem, entre outros, enriquecendo nosso folclore. A única forma de capturá-lo no terreiro, é retirando a típica carapuça vermelha da cabeça de onde vem seus poderes mágicos (semelhante à capa da invisibilidade do Harry Potter) e depois colocar sobre o redemoinho uma peneira de cruzeta ou rosário bento. Já imobilizado, prendê-lo, finalmente, apenas numa garrafa lacrada de rolha de cruz riscada como se prende o espírito do gênio da lâmpada. É possível vê-lo, somente durante o sono. Após eternos 77 anos, esses queridos trickster travessos (entidades dúbias) viram cogumelo venenoso ou orelha de pau, representantes da vida regenerada pela fermentação e decomposição orgânica, isto é, pela morte. Comemora-se no dia 31 de outubro o Dia do Saci em substituição ao Halloween norte americano.   Texto de Rogério Candotti, articulista deste jornal