27/07/2019 às 14h11min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h47min

E agora, Rua dos Pinheiros?

O bairro de Pinheiros passa por constantes mudanças, desde sua infraestrutura aos negócios que passam pela região. A Gazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais acompanha este crescimento há 63 anos. A nossa reportagem conversou com o arquiteto e urbanista Nadir Mezerani para comentar um pouco do processo que está se refletindo no cotidiano de seus moradores, empresários e visitantes. Gazeta de Pinheiros – O bairro de Pinheiros passa por muitas mudanças. A entrada do metrô há cerca de uma década, acelerou esse processo, por exemplo. Como preservar esta qualidade e acrescer outras benfeitorias com as fortes mudanças que vêm ocorrendo na Pinheiros e entorno? Nadir Mezerani - A transição da Rua dos Pinheiros já vem sendo sentida por nós, usuários. A Gazeta de Pinheiros vem registrando esta mudança e pode nos ajudar nesse processo. A comunicação é um instrumento eficiente de análise urbana para o entendimento ou leitura de um fato. Sequencialmente pode-se deduzir caminhos ou propostas geradoras de melhorias indispensáveis à praças e ruas, com novas demandas de funções, que nascem da dinâmica da cidade. Infelizmente, para pensar a Rua dos Pinheiros, diante da descrença ou decepção com o poder político , temos que nos organizar, sem trilhas partidárias e dependentes de órgãos oficiais conhecidos. Serão necessárias ações organizadas, políticas locais contínuas, onde somos os protagonistas, conhecedores da historia local que auxiliará a receber, sem ruído, os novos vizinhos em nossa sala de estar. Nesta realidade, o bairro torna-se célula urbana vital, que requer equilíbrio de funções, rejeitar comuns aberrações por vezes enraizadas, e se organizar para tornar seu ambiente culturalmente critico, forte em urbanidade, cidadania. A Rua dos Pinheiros , em suspense, requer ordem e pode reencontrar–se em bom caminho. Ruas e Praças são espaços de caminhos e encontros sociais da cidade, e nelas o homem perde seu egoísmo. GP - Os bairros, em uma grande metrópole como São Paulo acabam se tornando minicidades. Qual é o papel da imprensa local? NM - Sim, os bairros hoje poderão ser a cidade do interior onde as pessoas se cumprimentam e conversem nos passeios. A televisão, o jornal do município, publicam os ruídos cotidianos de alguns bairros, mas não lhes cabe solucionar conflitos. A imprensa é livre ouvinte e investigadora por circunstância, mas em hipótese alguma se coloca como propositora, a menos que queira se valer de poder. Cabe a sociedade se instruir e comandar ações pertinentes. É irreal ter a expectativa que o Prefeito conheça em detalhes uma gigante Metrópole como São Paulo. O Prefeito sabe que a esquina da rua dos Pinheiros com a Fradique Coutinho inunda, como outros tantos pontos da cidade. Nós, cidadãos moradores antigos, e a Gazeta de Pinheiros, sabemos que a estação Fradique foi implantada praticamente na confluência dos rios “Verde I” e “Verde II”, e como o local ainda continua inundando, pode se concluir que ao invés desta estação ter acesso com passeios horríveis em declives perigosos, deixando a inundação para nós, deveria ter sido resolvida com conhecida engenharia. GP - Como um bairro como Pinheiros pode planejar melhor seus deslocamentos? NM - Mudar hábitos, muitas vezes impostos por minoria, quando não há meio crítico, gera o radicalismo diante do medo do novo, e a verdade passa ser aquela do interlocutor, que sob recurso, cria propostas nem sempre abrangentes, mas que podem ser marcos de mudanças, geram símbolos. O heróico símbolo bicicleta, sadio, leve, silencioso e inofensivo abafou até a ensurdecedora moto. Ela, a moto, atualizada à segurança, elétrica e sem ruído maldoso, respeitada em faixas exclusivas de locomoção, seria um dos caminhos para nossa imensa cidade em topografia, além de ondulada. Redesenho de vias urbanas e a competente indústria são capazes de viabilizar a nova moto, e não simplesmente a rejeitar. Sob descomunal aversão ao disputar espaço, nas ruas, a moto é culpada por existir, e o motoqueiro pobre e trabalhador, que nos ajuda, perde a vida no otimismo de conquistar sozinho espaço, com velocidade, contra o carro ainda poderoso. Marginal que tem ciclovia cabe motovia. Quanto ao “Caminhar Pinheiros”, proposta audaciosa, assustadoramente perigosa, teve enredo maior do que o objeto, o trecho sob experiência no inicio da rua tornou-a caótico. O inadequado e inseguro deck ativou ruído entre pedestres, garçons, usuários, carros, manobristas e moradores. Bons conteúdos podem ser aprofundados. Projeto urbano é complexo, mas necessita propiciar soluções plenas e se possível prospectiva. GP - A sociedade exige do poder público melhorias. A Gazeta de Pinheiros incorpora uma grande sessão de reclamação de leitores, por exemplo. A Rua dos Pinheiros é um dos locais que mais atraem atenção em virtude do grande comércio. Como poderia ser um projeto de melhoria para esta via? NM - Na Praça do Pôr do Sol, graças a ajuda de vocês, o sol ainda se põe redondo e iluminante, sem que o público se feche em si mesmo. Na ocasião contribui com artigo endereçado à AAP (nadirmezerani.blogspot.com.br). A Rua dos Pinheiros ocupa hoje destaque no bairro com mérito, mas necessita de identidade estética, não com enfeites ou meio de consumo, mas ao fim lúdico de produzir bem estar e qualidade urbana! A proposta de reurbanização da rua dos Pinheiros deve atender a “função” , “estética” e “sua pertinência”. O projeto deverá contemplar, no mínimo: a substituição dos inócuos pisos inter travados nos passeios; eliminação dos postes com transferência de todas as fiações das concessionárias em shaft no sub solo; iluminação adequada; eliminação de foco de enchentes; comunicação visual ; legislação especifica de usos e paisagismo adequado. A pessoa respeita as obras de estações de metrô como sendo seu, que funciona e é limpo. A rua também deve conter estes sintomas que nos auxilie como sendo nossa , sem o egoísmo singular. São valores que não conseguimos quantificá-los, são sintomas como arte imponderável, mas identificável por analogia. A rua precisa conter esta força para merecer este respeito GP - Você pode dar alguns exemplos para ficar mais concreto para o público? NM - Conforme tenho exposto há uma relação estreita entre a concepção de obra arquitetônica e o contexto urbano, em processo de reestruturação, que direcione a funcionalidade do ambiente. São contextos diferentes, guardam sintomas semelhantes, não diferencio importância pois todo projeto requer igual responsabilidade. Ambas são marcantes, praticamente planas com bons passeios, maiores que a média das ruas. Em 2005 a Associação Paulista Viva nos contratou para desenvolver o projeto de sua requalificação de passeios e novos equipamentos urbanos. O conceito e proposta foram desenvolvidos, apresentados em audiência pública, aprovados pelo cliente e Regional Sé. Posteriormente a Prefeitura resolveu desenvolver projeto e a obra em cimentado liso padrão para priorizar pessoas com dificuldades motoras. Exponho novamente que não podemos resolver somente uma das funções do objeto, por mais importante que o mesmo seja, realçando por exemplo, “símbolo” que atenda pessoas com mobilidade reduzida, “PNE”, em demérito de outras funções. Expondo nosso projeto para a Paulista, o leitor poderá instrumentar-se criticamente. Após pesquisas, levantamentos cadastrais, demais elementos técnicos e amplas reuniões propusemos essencialmente: excluir o condenável piso de mosaico português; implantar placas de concreto armado pré moldadas drenantes, removíveis, resistentes; mobiliário exclusivo com módulos unitários às bancas de jornal ,flores e demais . O trabalho foi debatido exposto publicamente em audiência no MASP.   BOX No quadro abaixo, veja algumas ideias do arquiteto que poderiam ser adotadas na rua: “Mosaico Português”: considero dispensável mais esclarecimentos sobre a porque eliminação deste piso no passeio público da Paulista. Mesmo porque, em 1994, pertenci ao grupo que elaborou as primeiras Normas Técnicas de Acessibilidade da ABNT NBR 9050. “Piso de concreto armado”: proposta versátil em pré-moldado resistentes e removíveis para troca e acesso ás instalações de redes de concessionarias. Dimensão de 110 x 110 x 0,05 cm, identificável à PNE e Concessionárias de serviços. Li recentemente em jornais a intenção da PMSP adotar esta solução como padrão para a cidade. “Guias sem rebaixo”: o automóvel ao “planejar” a cidade, rasga o passeio de pedestre e guia com absurdo rebaixamento, além de inviabilizar a condução de águas pluviais pelo passeio. Guias arredondadas, identificadas pela cor, permitem o acesso de veículos e viabilização de canalização de águas pluviais das edificações nas sarjetas. “Iluminação Pública”: os automóveis também planejaram as iluminações das ruas voltadas a seu leito, mesmo que este tenha luz própria, e esqueceram dos passeios dos pedestres que habitualmente ficam na escuridão, sob belas árvores. O desenho abaixo ilustra postes com luminárias duplas aos passeios e pistas. “Abrigos de Ônibus”: conceituamos grandes “luminárias” suspensas e modulares como cobertura de pessoas em pontos de ônibus. A limpeza da proposta evita obstruções visuais. Sob a cobertura instala-se painel multimídia e monitoramento. “Bancas de revista, flores, demais”: foi proposto pequenos módulos, suspensos do chão, coerentes com o respeito aos pedestres, instala-se módulos conforme necessidade, incluindo atendimento público e segurança.


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