21/07/2022 às 23h59min - Atualizada em 21/07/2022 às 23h59min

​‘Floresta de Bolso’ bosque do Largo Batata precisa de mais cuidados

Em pleno concreto do Largo da Batata, surge um espaço de verde, após cinco anos de seu início, com plantas nativas e da Mata Atlântica que costumavam ocupar a região, e que agora já despontam e aparecem vizinhos ao árido local, dando uma sensação de frescor e ar límpido. O responsável pela “Floresta de Bolso” foi o paisagista Ricardo Cardim, sua equipe de ambientalistas e colaboradores, que doaram tempo, materiais e as importantes mudas. Porém, segundo os moradores e frequentadores do local, e para desânimo da comunidade, a área deu sinais de abandono, com acúmulo de lixo, moradores de rua que se abrigam com ‘banheiros a céu aberto’, sem iluminação e cuidados necessários. A Subprefeitura de Pinheiros, informa que  que a zeladoria no ‘Bosque da Batata’ é realizada mensalmente, mas não é o que está acontecendo. Sabendo da publicação da reportagem da Gazeta de Pinheiros, o órgão público providenciou na última quarta-feira (20/7), a limpeza geral da área, o que precisa ser feito frequentemente e com fiscalização dos serviços, para não comprometer sua atuação.

Moradores fazem depoimentos
“A ideia foi boa, mas o local hoje está escuro, perigoso e com invasão de moradores de rua.” D.A.

“A Prefeitura precisa fazer uma poda geral, limpeza completa e talvez o cercamento parcial das mudas da Mata Atlântica. “ M. R.

“O Largo da Batata teve um projeto totalmente voltado para o concreto e aridez. Este cantinho que agora respira um pouco do verde da Mata Atlântica, precisa ser preservado, “. A. L

“Todos ficaram entusiasmados com o plantio e revitalização do local. Agora, sem cuidados e sem fiscalização e manutenção, tudo vai ser parcialmente perdido.” W.L.

“Ontem (20 de julho), várias pessoas estiveram limpando, tirando os galhos secos e rastelando o interior do local. Ainda bem que temos a Gazeta de Pinheiros em defesa da comunidade.” A.A.

Arqueologia urbana
Em uma cidade de poucos espaços verdes, a má condução da “Floresta de Bolso” em Pinheiros chama a atenção, pois espécies nativas, como todos jardins, precisam de manutenção e os órgãos públicos não fazem. A área tem um histórico da comunidade. O mestre em botânica, pela Universidade de São Paulo, Ricardo Cardim, explicou todo o processo que foi feito em 2017 e que deveria ser um exemplo para a municipalidade.

Floresta de Bolso
 “Um verdadeiro trabalho de arqueologia urbana, assim foi a sensação de realizar a ‘Floresta de Bolso’ no coração do bairro de Pinheiros, atrás de sua tradicional igreja. Após as obras de remodelação do Largo da Batata restaram algumas áreas entre as novas vias, que receberam na ocasião apenas um gramado exótico e árvores enfezadas (raquíticas), transformando-se em um local árido, inóspito e depósito viciado de lixo e entulhos por carroceiros e comerciantes da região.  Essa área degradada chamou nossa atenção, e junto com os parceiros Nik Sabey, do ‘Novas Árvores Por Aí’, Sérgio Reis, da ‘Set Investimentos’ e Alex Vicintin, do ‘Fábrica de Árvores’, foi resolvido transformá-la em uma ‘Floresta de Bolso’ que recuperasse o local como espaço público e trouxesse de volta a extinta Mata Atlântica no bairro”.

Antiga terra fértil
“Após o apoio da Subprefeitura de Pinheiros, fizemos as primeiras sondagens com picaretas que mostraram um solo argiloso e pobre, repleto de entulhos, com 20 cm de espessura sobre um colchão de brita e cimento. Estava explicado porque as árvores não cresciam ali. Usando uma potente retroescavadeira que alugamos, conseguimos atravessar a camada de solo ruim e entulhos, e para nossa surpresa, achamos uma terra preta, de ótima composição e cheiro agradável. Era a antiga terra fértil das margens do Rio Pinheiros, sepultada há mais de 300 anos pela urbanização”.

Composto orgânico
“Toda a área foi escavada e o solo revirado, incorporando três carretas de composto orgânico de triturado de podas urbanas doado pela ‘Prefeitura de Carapicuíba’ e de composteira de alimentos doada pelo ‘Edifício Vitor Malzoni’. Também foi aplicado adubo organomineral de liberação lenta. O solo estava pronto para receber a floresta. Durante os 4 dias de escavações, quase toda a manhã surgiam novos despejos de entulhos e lixo, como móveis velhos e pneus, mostrando que o local era realmente um depósito de lixo para muitos do bairro”.

350 voluntários
“No dia 7 de maio de 2017, cerca de 350 voluntários plantaram coletivamente 400 mudas de 90 espécies diferentes da Mata Atlântica original da região, com ênfase no ‘pinheiro brasileiro’, a araucária, que batizou o bairro por sua abundância ancestral. O cenário de terra nua em pouco mais de uma manhã de trabalho se transformou completamente. Antes do plantio um mutirão foi formado para a remoção dos entulhos aflorados e rapidamente se encheu uma caçamba de entulhos, depois crianças e adultos plantaram a floresta acompanhados por um caminhão pipa doado. Também foi formada uma agrofloresta entre as árvores, com projeto e sementes de ‘’Patrick Assumpção e Keyla, da ‘Guanandi’, em ação conjunta ao ‘Feira Viva’, evento de gastronomia sustentável ocorrido na véspera no Museu Brasileiro de Escultura. Espécies como tremoço, abóbora e outras fixadoras de nitrogênio foram semeadas. Passados mais de um mês do plantio, a população mudou sua percepção sobre o novo espaço que despertou a curiosidade e respeito naquela movimentada passagem. Nenhum lixo e entulho mais foi ali jogado”, concluiu Cardim.

Prefeitura diz que zeladoria é apenas mensal
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Pinheiros, informa que a zeladoria no ‘Bosque da Batata’ é realizada mensalmente. A próxima limpeza no local citado estava programada para ser executada no dia 18, mas não foi realizada. Segundo a Secretaria Municipal das Subprefeituras, o serviço de poda não foi realizado no local, pois os exemplares foram plantados há “aproximadamente um ano e ainda não formaram copa”. A comunidade acredita que a Secretaria desconhece que as árvores nativas tem cinco anos, pois o local estava abandonado, e só teve a sua “limpeza e “desinfecção” urgente no último dia 20 de julho, quando o órgão publico soube com antecedência da reportagem que foi publicada hoje (22/7).

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