10/03/2022 às 22h14min - Atualizada em 10/03/2022 às 22h14min

Comunidade debate no CADES os impactos da poluição e saúde pública que serão provocados pela Estação de Esgotos da Sabesp no Morumbi

Como resultado dos insistentes pedidos da comunidade do Butantã e das solicitações do Ministério Público – da 2° Promotora de Justiça do Meio Ambiente, Dra. Maria Gabriela Ahualli Stenberg, para esclarecer os objetivos e impactos da construção em andamento no Morumbi, da ‘Unidade de Tratamento do Córrego do Antonico’, a Sabesp realizou no último dia 3, apresentação sobre este assunto, que traz muitas opiniões divergentes de especialistas, e do Projeto Novo Rio Pinheiros, que teve a participação de moradores, associações dos bairros e ambientalistas.
Como se sabe, a região próxima ao Estádio do Morumbi sofre há muitos anos com inundações que não foram incluídas nas obras previstas, e desconhece-se como Cetesb e a Sabesp propõem evitar as enchentes no local, à exemplo do ocorrido no início de 2021 e anos anteriores, que inundou toda a área social do São Paulo Futebol Clube e no entorno.
Em relação à obra bastante polêmica, que propõe o tratamento das águas do córrego do Antonico por meio do Sistema de Flotação, várias questões que preocupam os moradores, ficaram sem respostas convincentes.

Perguntas sem respostas
Por exemplo, por que colocar uma verdadeira Estação de Tratamento de Esgoto -ETE no meio de um bairro estritamente residencial? Qual a eficiência do tratamento proposto e quais seus impactos ambientais e de vizinhança? Para onde será encaminhado o lodo retirado do córrego após o tratamento? O lodo é um problema gravíssimo, sem solução em quase todos os países do mundo. Em caso de chuvas a unidade perderia sua eficiência na retirada dos sólidos presentes? Vão colocar barreiras de vegetação para minimizar o odor e os impactos na paisagem? Como vão controlar a geração de vetores de doença atraídos pelo lodo?
Enfim, durante a apresentação do coordenador de planejamento da SABESP, Arisnandes Antônio da Silva, muitas questões técnicas não esclarecidas e possibilidade de haver impactos ambientais negativos, permaneciam sem uma resposta consistente à comunidade, em razão da rapidez na execução e pouca transparência dada à divulgação da obra e de seu, também polêmico e duvidoso, licenciamento ambiental.

Contra o sistema de flotação: Ação Civil Pública
Pesquisando o assunto, resgatamos a Ação Civil Pública movida pelo Promotor José Eduardo Luti, contra o uso do mesmo sistema de flotação utilizado no caso do Rio Pinheiros, que exigiu o acompanhamento e a avaliação do processo por especialistas da área. O uso do sistema para despoluição do rio, proposto pela EMAE, foi considerado ineficiente pelo fato de não atender às exigências de qualidade, que mal chegou à ‘Classe 4’, mas que deveria atingir a ‘Classe 2 de Qualidade’, de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA nº 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
O Rio Pinheiros tem seu fluxo reversível mediante estações elevatórias como a Usina de Traição próximo a ponte da Avenida dos Bandeirantes e que pode levar suas águas para a represa Billings, mas por razões ambientais suas águas correm apenas em direção ao Rio Tietê e segue para o interior do Estado.

Fluxo revertido do Rio Pinheiros
Somente em casos emergenciais e excepcionais, o Rio Pinheiros pode ter seu fluxo revertido e lançado na Represa Billings, que é um manancial de tratamento de água da região metropolitana de São Paulo. Mas para tal, a qualidade de suas águas deveria atingir a ‘Classe 2 de Qualidade’, para não provocar impactos na Represa Billings. Assim, o sistema de flotação utilizado no Rio Pinheiros foi considerado ineficaz por não elevar a esse padrão de qualidade de suas águas. Outra exigência do Promotor Luti à época, foi estabelecer multa de R$50.000,00/dia para que a grande quantidade de lodo gerado pelo sistema de tratamento por flotação,  gerado e armazenado numa cava pela EMAE, autora do projeto, fosse retirado e levado para um aterro sanitário, uma vez que esse lodo gera odores e vetores como mosquitos e outros organismos.

Sistema ineficiente no Córrego Antonico
Pois bem, o ineficiente sistema de flotação volta a ser aplicado, mas agora, não diretamente no Rio Pinheiros, mas em quatro de seus afluentes, como é o caso da obra em execução no córrego do Antonico, mas com o mesmo objetivo de reduzir a poluição no Rio Pinheiros. As explicações do representante da SABESP dadas na reunião, informam que haverá a “recuperação” do córrego do Antonico, e a consequente despoluição do Rio Pinheiros, e que “haverá tratamento dos odores gerados, e que não haverá ruídos”.
São 4 unidades previstas para a Região do Butantã: Pirajuçara, Cachoeira, Jaguaré, e Antonico e na outra margem do Rio Pinheiros, a Unidade Água Espraiada.
Na reunião citou-se a capacidade de 1.560 litros/segundo das cinco unidades, e que estas deverão ser desmobilizadas quando a carga orgânica (poluidora) dos córregos for reduzida a níveis aceitáveis. Parece bem estranho que sem redes de esgoto na região da unidade, essa qualidade será atingida? Por que investir numa obra temporária e não em obras de saneamento definitivas? Ainda há esgotos não coletados na região?

Erros recorrentes
Portanto, um método considerado ineficaz para o Rio Pinheiros seria eficaz para um afluente como o Antonico e para os demais córregos? Não. Apenas no caso do córrego do Jaguaré é que será tratado por lodos ativados e por ozonização. Todas essas unidades gerarão em grande quantidade odores e vetores de doença como mosquitos. Em artigo recente publicado na página do Instituto de Engenharia, o engenheiro Jose Eduardo W. de Cavalcanti analisou a concepção dessas Unidades Recuperadoras de qualidade das águas, para colocar suas águas em um nível pelo menos de ‘Classe 4 de Qualidade’, para poder de fato contribuir para a qualidade das águas do Rio Pinheiros. https://www.institutodeengenharia.org.br/site/2021/10/27/por-jose-eduardo-w-de-a-cavalcanti-a-concepcao-de-tratamento-das-urs-unidades-recuperadoras-da-qualidade-das-aguas/

Anteprojeto orientativo
Ele cita ainda que “Como o anteprojeto ofertado pela Sabesp teve caráter apenas orientativo, as empresas contratadas se puseram a desenvolver os projetos definitivos com base nas suas “expertises”, desvinculando-se da Sabesp, porém sujeitos à aprovação da Cetesb para emissão das respectivas Licenças de Instalação.”
E na sua conclusão coloca um grande problema não solucionado pelo Programa Novo Rio Pinheiros: “a preocupação que fica é sobre a ausência de tratamento que teria de ser dado ao lodo químico e principalmente aos lodos biológicos excedentes estimados em 60 ton/dia a 20% de SS, uma vez que os projetos previram apenas a desidratação em centrífugas do lodo tal e qual, isto é, sem estabilização, conforme confirmado pela Sabesp em “live” da ABES em setembro último”.
“Este receio é ainda mais preocupante quando se sabe que o manuseio e transporte destes resíduos, incluindo também material gradeado, areia e óleo separados no tratamento preliminar, se darão em áreas intensamente habitadas, podendo provocar incomodidade na forma de desprendimento de odores, com o risco de se criar um impasse de ordem sanitária”

Como resolver
O engenheiro Cavalcanti até sinaliza uma solução, para resolver esse problema do lodo gerado: “uma alternativa seria lançar o lodo excedente e o lodo químico à rede de coleta mais próxima das URs, de modo que, interligadas aos coletores-tronco e aos interceptores do Pinheiros, alcancem a Estação de Tratamento de Esgotos - ETE Barueri onde seriam tratados, no âmbito do sistema de saneamento metropolitano”.
Essa questão sequer foi apresentada pelo representante da Sabesp na reunião do CADES Butantã, e trouxe assim, novas apreensões para uma obra já tão polêmica, entre outras questões por ter gerado o desmatamento de 250 árvores e pela utilização de área pública, no caso do Antonico, como as perguntas sobre impactos de vizinhança apontadas.

Sistema ineficaz
E a principal pergunta que fica ainda é: por que resgatar um sistema de tratamento para o Córregos Antonico e demais córregos, que já foi considerado ineficaz na ACP realizada no caso da experiência com o Sistema de Flotação no Rio Pinheiros, e em especial, na Unidade de Recuperação do Córrego do Antonico, que traz tantas apreensões sobre os impactos de vizinhança.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.