05/11/2021 às 00h41min - Atualizada em 05/11/2021 às 00h41min

​ÁGUAS URBANAS

Desenho simbolizando nascentes do Arquiteto e Urbanista Newton Yamato

Imensa represa de água salgada para onde todas as águas da terra fluem. Sem produzir essa água é o local de reprodução de outras formas que a água pode tomar como vapor e gelo e abrigo e morada para inúmeros seres vivos. Essa imensidão de mares e oceanos sempre possibilitou a mobilidade universal e tem sido um elemento de conexão entre os diferentes locais na terra.
Estando em Itacoatiara, cidade ribeirinha distante 120 quilômetros de Manaus, no Amazonas, não é possível enxergar o outro lado da margem. Trata-se de um “mar de água doce” que corre em direção ao outro mar, o salgado, a cada segundo de todos os dias de todos os anos. É o rio Amazonas que caminha em direção ao Oceano Atlântico.
O mesmo acontece com o córrego Bixiga que nasce na região central da cidade de São Paulo. Hoje tamponado, segue seu trajeto para formar o rio Anhangabaú, tributário do Tamanduateí, que desagua no Tietê até engrossar as águas do Paraná. Este, segue por muitos quilômetros dividindo Brasil e Paraguai até entrar e percorrer a Argentina. Junta-se ao rio Paraguai formando o rio da Prata. Este verdadeiro oceano de águas doces vai incorporando todas as contribuições do estuário da Prata e caminhando soberano até encontrar o Oceano Atlântico.
Junto ao olho d´água da nascente do córrego Bixiga, localizado bem próximo da Rua 13 de maio, está sendo prevista a implantação, em 2022, de parte da estação do metrô Bela Vista. Não podemos esquecer que, embora tamponado, esse córrego continua participando ativamente desta rede hídrica que se encontra ainda muito viva.   
Anunciados e conhecidos há décadas, os riscos que o modo de produção e de vida que temos adotado vêm impactando negativamente o planeta. Esses impactos, já amplamente divulgados tornam-se, hoje, uma emergência coletiva e foram tratados durante a COP26 – 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, (Conference of the Parties) que foi realizada em recentemente em Glasgow, Escócia, com atitudes e ações que não poderão mais ser postergadas.
As “ilhas de calor” que representam o aumento da temperatura e a substancial redução da unidade relativa do ar, verificada nos grandes centros urbanos são o resultado da extensa e intensa supressão da vegetação e da impermeabilização do solo. Atualmente tamponados, os córregos urbanos e suas nascentes, suprimidos da paisagem por interesses em valorar e comercializar o solo e suas construções, ocupam indiscriminadamente relevantes e sensíveis lugares tão imprescindíveis para os serviços ambientais. A dinâmica das redes hídricas com a ocupação das várzeas, a retirada das matas ciliares e intensa impermeabilização, resulta atualmente em um escoamento mais rápido das águas pluviais causando muitos pontos de inundações e graves transtornos.
Como parte substancial das medidas de reversão deste processo de urbanização em curso, está a proteção das nascentes dos córregos urbanos e seus cursos d´água.
Ressignificar (*) espaços urbanos, sobretudo aqueles junto dos corpos hídricos, assim como espaços vegetados e construídos, será parte de possíveis reversões de valores até então empreendidos na consolidação dos atuais ambientes urbanos.
Os desafios impostos encontram-se à altura de soluções possíveis. Dispomos de saberes e tecnologias capazes de nos apontar caminhos. A inteligência humana tem capacidade de superar todos os desafios, inclusive aqueles que ainda estão por vir. Existem caminhos. Caminhos são escolhas. Escolhas são subjetivas. Que sejam escolhas inclusivas e generosas para todos os seres vivos.
* A ressignificação é um elemento importante no processo criativo, onde a habilidade de atribuir novas importâncias a um evento comum se torna útil e propicia prazer às pessoas.
Comissão das Nascentes Urbanas Vivas e arquiteto e urbanista Newton Massafumi Yamato


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.