01/03/2019 às 16h38min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h52min

Enel (ex-Eletropaulo) é responsável direta pelas queda de centenas de  árvores

Dados da Prefeitura de São Paulo mostram que Pinheiros, Butantã e o Morumbi são as regiões da cidade onde mais caíram árvores nos últimos seis anos. Ao todo, as duas concentram mais da metade das ocorrências, já que em toda a capital, no mesmo período de um ano atrás, foram registrados aproximadamente 5.000 casos. Entre os motivos para os índices elevados estão as fortes chuvas e a poda criminosa e sem nenhum critério por parte das Concessionária de Energia Enel, da antiga Eletropaulo, além  de uma fiscalização mais apurada e a falta de um trabalho preventivo por parte da administração municipal. Sobre este caso, a Prefeitura de São Paulo estuda adotar medidas judiciais contra a Enel, responsável pelo fornecimento de energia elétrica na cidade. Desde as chuvas que começaram na última segunda (25), o Corpo de Bombeiros já contabilizou 780 quedas de árvores na capital e região metropolitana. O secretário municipal das Subprefeituras de São Paulo Alexandre Modonezi culpa a concessionária pelos problemas. Segundo ele, a empresa precisa desligar a energia elétrica para que a poda seja feita pelos funcionários da Prefeitura, sem que os trabalhadores corram risco de morrer. “Também a poda errada feita em forma de ‘estilingue’ condena as árvores, que praticamente são sacrificadas e perdem a força...”, concluiu Alexandre, mostrando que os verdadeiros culpados da queda excessiva de árvores são a Enel e a Eletropaulo (no tempo que realizou os serviços de geração de energia). A Gazeta de Pinheiros e o Grupo 1 de Jornais denunciaram este fato em março do ano passado, com fotos e relatos da poda criminosa. Somente no perímetro da Prefeitura Regional de Pinheiros, mais de 2.000 árvores caíram desde 2013. O território é composto por bairros como Alto de Pinheiros, Vila Madalena, Pinheiros e Jardins, que contam com ruas densamente arborizadas. Já na região do Butantã foram aproximadamente 1.600 quedas, ao levar em conta os bairros do Butantã, Morumbi e Vila Sônia, onde há diversas praças e vias com vegetação nas calçadas. Em toda a capital, as quedas tiveram aumento em 30 das 32 prefeituras regionais nos últimos seis anos. Um dos indícios de que o problema é causado não só pelas chuvas, mas também pela baixa efetividade dos serviços municipais, é que 2017 foi o ano em que mais árvores caíram. Porém, a precipitação no ano passado foi de 1.547 milímetros, menor do que em 2016, com 1.569, e 2015, com 1.896 milímetros. Os dados são do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Os próprios registros da Prefeitura indicam que os serviços de poda não tiveram aumento significativo. No ano passado, foram realizadas quase 100 mil intervenções, número 7% maior que o de 2016, mas 30% menor que o de 2008, por exemplo. O serviço de poda é realizado prioritariamente pela Prefeitura. Já quando é constatado o contato dos galhos com a fiação elétrica, o trabalho deve ser feito em conjunto com a Enel. Quando executada da maneira incorreta, a ação pode fazer com que grandes árvores percam estabilidade e caiam durante tempestades de fortes ventanias, o que sempre fez a ex-Eletropaulo, sem nenhum critério, e o que vem sendo feito pela atual concessionária de energia da capital. “Existe um senso comum de que poda é a solução para que a árvore não caia, mas na verdade esse procedimento pode ser nocivo. A poda recomendada deve ser feita quando o galho é jovem, com até 20 centímetros de diâmetro”, afirma o botânico Ricardo Cardim. “Se utilizada uma motosserra, a árvore provavelmente não vai conseguir cicatrizar essa ferida, pois ficará exposta a fungos e cupins. É como se cortasse o braço de alguém”, complementa. Além da poda, o botânico recomenda outras ações para prevenir a queda das árvores. “A remoção do cimento sobre as raízes e a retirada das muretas que as cercam nas calçadas poderiam evitar novas quedas, pois essa cobertura cria problemas de saúde para as árvores. Essas ações não representam grandes empecilhos para serem realizadas pela Prefeitura”, diz Cardim.   Projeto de lei A atual legislação, que deixa a cargo da Prefeitura a poda de árvores, foi criada em 1987, na gestão Jânio Quadros. Nas décadas seguintes, tentou-se encontrar alternativas para facilitar a execução do trabalho. Em 2015, por exemplo, o ex-prefeito Fernando Haddad aprovou projeto de lei que autorizava a execução do serviço sem a necessidade de aval dos subprefeitos, bastando apenas a permissão de um agrônomo do Município. Porém, o texto original, de autoria do ex-vereador Andrea Matarazzo, previa também a possibilidade de contratação de profissionais particulares para o trabalho. Eles ficariam responsáveis por eventuais irregularidades cometidas. Já no ano passado foi encaminhado ao Executivo outro projeto de lei que também propunha a terceirização de técnicos para a execução de podas, sem necessidade da autorização das prefeituras regionais. O que diz a Enel O diretor de operações da empresa, Saulo Ramos, justificou que a situação é atípica, com ventos fortes, raios e muitas árvores caídas. Segundo ele, os prazos não são cumpridos porque toda hora aparece uma nova ocorrência. Ele afirma que a Enel está com quase 4.000 pessoas nas ruas para tentar restabelecer o serviço, afetado desde segunda-feira (25)  em algumas regiões. Afirma ainda que, se fosse enterrar toda a rede de São Paulo, a conta de energia poderia aumentar até três vezes.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.