30/09/2021 às 21h36min - Atualizada em 30/09/2021 às 21h36min

Região sob ataque implacável das construtoras. Quarteirões inteiros no chão

O Plano Diretor Estratégico de 2016, permitiu a possibilidade de se construir até seis vezes mais a área do terreno, ao longo dos eixos das avenidas e das estações de metrô, que compõem uma área de circunferência de 300 a 600 m2 no perímetro, com o potencial construtivo muito maior do que a cidade poderia ocupar ou de sua capacidade de suporte. A observação é da arquiteta e urbanista, Maria Laura Fogaça, especialista em Gestão Ambiental, Mestra em Cidades Inteligentes e Sustentáveis e presidente do Conselho Deliberativo do Movimento Defenda São Paulo. Ela crítica o que estamos vendo atualmente, com a última revisão do Plano Diretor, em 2016 e com a proposta de uma nova mudança agora, considerada descabida porque vivemos um momento atípico de pandemia, que gera uma pressão enorme do mercado imobiliário e das incorporadoras, efeito que está acontecendo no mundo inteiro. São capitais estrangeiros que vem investir nos grandes centros comerciais dos mercados urbanos, onde já existe uma infraestrutura implantada. Desmonte da cidade A urbanista aponta que “estamos assistindo o desmonte e a destruição em todas as zonas da cidade, com espigões em bairros, sem estrutura para tanto”. Na verdade, o mercado especulativo reescreve os Planos Diretores e põe em curso um articulado movimento de descaracterização dos espaços urbanos. Estamos vendo cada vez mais, bairros darem lugar a torres que podem atingir 50 andares (até mesmo em cidades de porte médio), forçando a depreciação da qualidade de vida cotidiana. Mais além, e combinada, à demolição de sobrados ou casas térreas em bairros consolidados, para cederem espaços aos grandes capitais de investimento, não favorece em nenhum momento, a produção de ‘Habitação de Interesse Social’ ou investimentos em melhorias nas periferias. Ou seja, nós temos um dinheiro imenso no FUNDURB -Fundo de Desenvolvimento Urbano - e, estamos adensando justamente os centros urbanos, para expulsar as pessoas que são os leitos habitantes desses bairros. Isso está acontecendo na cidade inteira, alerta a arquiteta que preside o Conselho do MDSP. “A cidade parece um canteiro de obras, pois nunca vi tanta demolição e tantos prédios na vida e me pergunto: essa infraestrutura de hoje vai precisar de logística, luz, água, esgoto, transporte... Onde vamos parar?” Bairros destruídos A especialista em ‘Cidades Inteligentes e Sustentáveis’, questiona ainda o fato de os bairros cada vez mais destruídos e edificados com prédios enormes, fora da realidade do contexto da nossa metrópole, e as áreas das periferias cada vez mais adensadas e ocupando as zonas de mananciais. “Isso só favorece o crime! Impossível que a gente não tenha a possibilidade de discutir esse Plano Diretor por uma cidade mais justa e igualitária e para todos”. ”A ‘Frente São Paulo Para a Vida’ tem mais de 500 entidades unidas para tentar adiar a “Revisão do Plano Diretor’ e tentar brecar esses absurdos, sem estudo de impacto, de vizinhança. Uma barbárie, uma desconstrução, sem nenhum planejamento”. Rua Sapetuba toda no chão Maria Laura, ressalta o perigo acontecendo no miolo do Butantã, na rua Sapetuba e travessas, inteiras no chão. Onde estão demolindo tudo, inclusive próximas às áreas residenciais. “Alí, você perde inclusive essa escala humana de viver, passear, olhar o céu, as estrelas, as áreas verdes, pois tudo se transforma numa massa de concreto. Nós estamos passando por uma época de transfiguração da cidade, que brevemente será impossível de ser habitada”. Esses prédios, que possivelmente vão ficar ociosos numa provável crise mundial, com aumento da inflação e falta de abastecimento nas commodities principais, pois se configura uma crise até na China, que poderá se refletir justamente nos grandes centros urbanos. Quem viver, verá. Colaboração Ana Aragão, jornalista, radialista e ambientalista


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