18/03/2021 às 21h55min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h17min

Instituto Butantan faz 120 anos: uma história a serviço da vida, agora enfrentando a pandemia

No ano de 1899, um surto de peste bubônica, que se propagava a partir do Porto de Santos, levou a administração pública estadual a criar um laboratório de produção de soro para combater a doença. Instalado na então Fazenda Butantan, na zona oeste do município de São Paulo. Dirigido pelo médico cientista Vital Brazil, então chamado Instituto Serumtherápico, o laboratório foi o embrião do Instituto Butantan, que em 23 de fevereiro de 2021 completou 120 anos de existência. O Butantan é hoje um destacado centro de pesquisa biomédica, que integra pesquisas científicas e tecnológicas, produção de imunobiológicos e divulgação técnico-científica, buscando a permanente atualização e integração de seus recursos e, com isso, a inovação. Referência nacional, o Instituto Butantan é o principal produtor de imunobiológicos do Brasil. É responsável por grande porcentagem da produção de soros hiperimunes e grande volume da produção nacional dos antígenos vacinais que compõem as vacinas utilizadas no Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Hoje, os laboratórios e fábricas do Butantan produzem 12 soros (contra o envenenamento por diversas espécies de cobras, escorpiões, aranhas e lagartas, e contra difteria, tétano, botulismo e raiva) e sete vacinas (contra raiva, HPV, Hepatite A, Hepatite B, Influenza Trivalente, H1N1 e DTPa). Em 2021, os 120 anos de experiência e tradição do Butantan estão sendo aplicados no desafio de produzir a vacina do Brasil contra a Covid-19. Mais de 30 milhões doses da vacina do Butantan entregues ao Brasil O Governador João Doria acompanhou nesta segunda-feira (15) a liberação de mais 3,3 milhões de doses da vacina do Instituto Butantan contra o coronavírus ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde. Com o novo carregamento, o total de vacinas oferecidas pelo Butantan ao PNI chega a 20,6 milhões de doses desde o início das entregas, em 17 de janeiro. Somente em março, o Butantan já garantiu 7,1 milhões de vacinas em quatro remessas, quantitativo superior a todo o mês de fevereiro, quando foram entregues 4,85 milhões de doses. Até o final deste mês, o Butantan entregará ao país 22,7 milhões de doses. No final de abril, o número de vacinas garantidas por São Paulo ao PNI somará 46 milhões. O Butantan ainda trabalha para entregar outras 54 milhões de doses para vacinação dos brasileiros até 30 de agosto, totalizando 100 milhões de unidades. A produção da vacina segue em ritmo constante e acelerado. No último dia 4, uma remessa de 8,2 mil litros de IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), correspondente a cerca de 14 milhões de doses, desembarcou em São Paulo para produção local. "Cada dose de vacina aplicada nos brasileiros salva e traz esperança. Quanto mais vacinas aplicarmos mais perto estaremos do fim da pandemia", afirmou o Governador João Doria. Outros 11 mil litros de insumos enviados pela biofarmacêutica Sinovac, parceira internacional no desenvolvimento do imunizante mais usado no Brasil contra a COVID-19, chegaram ao país em fevereiro. Com o aporte regular de matéria-prima, o Butantan formou uma força-tarefa para acelerar a produção de doses da vacina para todo o país. Uma das medidas foi dobrar o quadro de funcionários na linha de envase para atender a demanda urgente por imunizantes contra o coronavírus. HIstórico: combate à epidemia de peste bubônica A peste bubônica ficou conhecida por devastar a Europa no final da Idade Média. Nos séculos seguintes, houve diferentes surtos da doença, que reapareceu de forma grave nos últimos anos do século XIX em países como China e Índia. De lá, chegou novamente à Europa, especialmente à cidade do Porto, em Portugal, em 1899, de onde se difundiu em seguida para o Paraguai. A situação deixou em alerta o governo do Brasil, que decidiu isolar os navios vindos do Porto para evitar o contágio e a disseminação da doença, assim como encomendar a fabricação do soro antipestoso (que havia sido desenvolvido alguns anos antes por Alexandre Yersin, Albert Calmette, Émile Roux e Amédée Borrel), a institutos na França e Itália. Apesar da solicitação, o soro não foi fornecido em grandes quantidades, pois já havia uma demanda alta que precisava ser suprida, principalmente em Portugal. No dia 18 de outubro de 1899, foram registrados oficialmente os primeiros casos de peste bubônica no Brasil em Santos (SP). A conclusão foi referendada pelo doutor Vital Brazil, que viria a ser o primeiro diretor do Instituto Butantan. Essa foi a primeira investigação de um surto de doença desconhecida no país que utilizou as descobertas de Louis Pasteur, as quais constituem as bases do que hoje chamamos microbiologia. A partir da chegada da doença a Santos, o número de casos foi crescendo vertiginosamente. Para tentar conter esse aumento, a cidade foi isolada. Os navios que tinham autorização para desembarcar começaram a ser controlados e foram colocados postos de desinfecção nas estradas de ferro. Além disso, medidas de isolamento foram adotadas para os possíveis infectados. Em 1901, a peste bubônica já havia chegado à cidade de São Paulo. Em junho, com o objetivo de controlar de forma mais eficaz o surto, o Instituto Butantan começou a produzir o soro antipestoso - considerado pelo Instituto Pasteur de Paris a grande arma para vencer a peste bubônica. A situação só mudaria no ano seguinte, quando o Instituto Butantan começou a produzir a vacina antipestosa, seguindo a técnica criada pelo italiano Camillo Terni do Instituto de Messina, a partir da vacina desenvolvida pelo médico russo Waldemar Haffkines.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.