23/04/2020 às 18h39min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h33min

De R$ 800 mil para R$ 180 mil: Prefeitura não explica o superfaturamento da Praça Pôr do Sol

Documento aponta discrepâncias entre valores divulgados para cercamento da Praça Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros Em decisão polêmica em meio à pandemia, a Prefeitura de São Paulo decidiu cercar a Praça Pôr do Sol em virtude do movimento de pessoas no local. Entretanto, o custo exorbitante da operação gerou críticas e desconfiança na comunidade. Ainda não há previsão de reabertura do local. Esclarecimentos A Gazeta de Pinheiros solicitou esclarecimentos sobre o gasto anunciado de R$ 800 mil. Vereadores também abriram requerimentos solicitando explicações. Em nota enviada para a Gazeta no dia 13 de abril, a Secretaria Municipal das Subprefeituras afirmou que “a Administração Municipal esclarece que o custo para poder isolar um local como a Praça do Pôr do Sol é de R$ 800 mil”. Assim, logo nossa reportagem recebeu muitos questionamentos sobre o custo abusivo. Deste modo, entramos em contato com a Prefeitura, solicitando esclarecimentos. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. Apoio dos vereadores Assim, a reportagem procurou os vereadores Caio Miranda, que já havia protocolado pedido de esclarecimentos, Gilberto Natalini, que também protocolou um pedido, e Mario Covas Neto, que conseguiu dados divergentes dos expostos pela Prefeitura. SPTuris informa outro valor De acordo com o documento, a SPTuris afirma ter gasto menos de 20% deste valor. “Informamos que a instalação das placas metálicas (com a devida manutenção), foi realizada por meio de contrato específico, firmado em 31 de janeiro de 2020, para diversos eventos da cidade. Já o serviço de segurança foi viabilizado por meio de contratação emergencial (visando as ações de combate à Covid-19), firmado em 31 de março de 2020, após ampla pesquisa de mercado”, consta no documento ao qual a Gazeta de Pinheiros teve acesso. Os valores são explicados no quadro a seguir. Variam entre a locação de placas metálicas e a contratação de serviços de segurança contratados para 30 dias. “Referente ao fechamento/isolamento da Praça Pôr do Sol, a SPTuris realizou a instalação de 500 (quinhentas) placas de fechamento metálico e 06 (seis) seguranças por meio do Contrato já existente com a Prefeitura de São Paulo  (nº 025/2019-SMTUR), que tem como objeto a contratação de empresa visando à prestação de serviços de concepção, organização, produção e execução de eventos com viabilização de infraestrutura e fornecimento de apoio logístico. Desta forma, o pagamento total pelos serviços será de R$ 187.287,50 (cento e oitenta e sete mil duzentos e oitenta e sete reais e cinquenta centavos)”, contextualiza o documento.   De R$ 800 mil para R$ 187 mil Questionada sobre a discrepância entre os números apontados previamente à reportagem, a Prefeitura não ofereceu explicações até o fechamento da edição. Os dados iniciais também constam em matéria divulgada no site da própria Prefeitura. “Questionado sobre uma possível ação em outras praças da cidade, o Prefeito enfatizou que o custo para poder colocar tapumes na praça é de R$ 800 mil”, lê-se na matéria “Capital ainda não atingiu índice ideal de 70% de isolamento social” do dia 13 de abril. O texto ainda contava com comentário do próprio Prefeito Bruno Covas: “Você imagina colocarmos tapumes em cinco mil áreas verdes e ajardinadas na cidade de São Paulo. Estaríamos falando de um custo de R$ 4 bilhões. Então, é impossível dizer que nós vamos tapumar todas as áreas verdes da cidade”. Valores geram confusão Tão logo estes números vieram à tona, começaram os questionamentos. Leitores escreveram ao jornal. “Quero fazer uma denúncia. A Prefeitura gastou R$ 800 mil para fazer o fechamento de tapume na Praça Pôr do Sol. A volta da praça tem aproximadamente 1.322mts metros. Cada placa de fechamento tem 2 metros de largura. Bom, levando em consideração as placas para travamento e as placas sobrepostas, podemos arredondar para 1.800 metros, que equivalem a 900 placas. No mercado, o aluguel mensal da placa custa em torno de R$ 60. Logo, a locação mensal do fechamento da praça deveria custar R$ 54 mil. Como a locação foi contratada por um período de 2 meses, chegamos ao valor de R$ 108 mil. Quando a placa é adquirida por meio de locação, via licitação, a mesma sai por R$ 40, mas vou dar esse desconto. A diferença na locação fica em R$ 692 mil, somente nesse item e nesta Praça...” . Leitores indignados “R$ 800 mil? Não é possível” – T.T. “Ah, tudo isso para colocar tapumes. Acho que sim, a ação foi necessária, infelizmente, mas por R$ 800 mil não dá!” – B.T. “Atitude foi correta, mas o valor foi exagerado. Bruno Covas com a palavra.” – P.B. Vereadores Envolvidos com a comunidade de Pinheiros, os vereadores Caio Miranda e Gilberto Natalini protocolaram pedidos de esclarecimentos para a Prefeitura. Mario Covas Neto também prometeu observar o caso, buscando as informações acima mencionadas. “Tão logo houve a notícia de que o custo para a aplicação de tapumes (Bruno Covas anunciou o custo de R$ 800 mil em coletiva), o Gabinete enviou ofício ao Prefeito Bruno Covas e ao Secretário de Coordenação de Subprefeituras, Alexandre Modonezi, questionando os valores e solicitando a documentação pertinente, relativa à contratação dos serviços. A equipe do gabinete não localizou contratação específica para a tapumação e cremos que a execução tenha onerado algum contrato de fornecimento global”, afirmou o vereador Caio Miranda. A mesma atitude teve o vereador Gilberto Natalini. “Nós estamos encaminhando para a Prefeitura um requerimento de informações. Só teremos as respostas referente às suas perguntas, quando a Prefeitura nos retornar”, comentou. Assim, foi registrado o requerimento “13-RDS-2020-287” na Câmara Municipal. No documento, o vereador afirma que “o volumoso gasto divulgado, de mais de R$ 800 mil dos cofres públicos, para cercar temporariamente a Praça Pôr do Sol durante a quarentena” precisa de esclarecimentos. Desse modo, questiona “Quais argumentos e estudos embasaram a escolha por cercamento em tapume de todo o perímetro da praça? Por acaso foram consideradas outras medidas, menos extrema, mais rápida e econômica para impedir o acesso das pessoas no local?”, entre outras posições. Revitalização A iniciativa somou-se ao Ofício CMSP nº 246/2020/5GV/2020/CMSP feito por Caio Miranda direcionado à Secretaria das Subprefeituras informando que “foi cobrado por munícipes que questionaram os custos afetos à colocação de tapumes na Praça do Pôr-do-Sol, em Pinheiros, para evitar aglomerações, ao custo de R$ 800 mil”. O valor é maior do que o dobro do investido nas medidas de revitalização da Praça, com recursos advindos do Gabinete do vereador. “Com efeito, o valor em questão iniludivelmente decorre de algum equívoco, dado que elevadíssimo e incompatível com aqueles praticados na própria requalificação do equipamento ao custo de R$ 350 mil destinados por este vereador para tanto – ocasião em que foram realizadas obras de recuperação das escadas, colocação de corrimãos e sinalizações de acessibilidade, criação de dois playgrounds e um espaço para animais de estimação, além plantação de árvores frutíferas da Mata Atlântica”, argumenta. Questionado pela Gazeta de Pinheiros, Miranda explica que “não se trata de orçamento investido, mas executado. Com o aporte de R$ 350 mil através de emendas parlamentares minhas, foram realizadas obras de recuperação das escadas, colocação de corrimãos e sinalizações de acessibilidade. Também foram criados dois playgrounds e um espaço para animais de estimação e foram plantadas árvores frutíferas da Mata Atlântica. Por isso o valor de R$ 800 mil nos parece absolutamente desproporcional e estamos cobrando explicações. Acredito que o Prefeito tenha se equivocado no número. A recuperação da praça era uma demanda da Associação dos Amigos de Alto dos Pinheiros (SAAP)”.

Onde está nossa segurança e o que faz o governo municipal?

No dia de hoje (17), tomei conhecimento que a prefeitura gastou R$ 800 mil para fazer o fechamento de tapume na Praça do Pôr do Sol. Pelo que li em matéria publicada na Gazeta de Pinheiros/Morumbi News, a Prefeitura supostamente  superfaturou o valor de R$ 692 mil somente neste item e nessa praça. Então me pergunto: porque ao invés do fechamento com tapume não transformar a praça em parque e, nessa situação de pandemia, como vem ocorrendo em todos os parques, manter a Praça do Pôr do Sol fechada? E aqui elogio à função da imprensa e particularmente do jornal. Diante dessa notícia não pude me esquivar de rememorar a epopeia minha e de minha família nesse local. Moramos, eu e família, de 1973 a 1986, na rua Haiti, no Jardim Paulista. Uma rua bucólica, totalmente habitada por residências, até que começaram a derrubar casas e construir edifícios. Fui um dos “últimos moicanos”. Assediado insistentemente por corretores, só faltava minha casa para viabilizar a construção de um edifício. Eu resistia e argumentava que compramos a casa para morar e não para comercializar. Até que não houve mais jeito. Vendi a casa e mudamos para Alto de Pinheiros, em uma casa em frente à Praça do Pôr do Sol. No primeiro domingo lá, por volta das 21h, ouvi um barulho e me dirigi à sacada em frente à praça. E vejo a seguinte cena: um homem apontando um revólver na cabeça de um jovem, e atirando em seguida. De súbito, minha reação foi correr imediatamente para a porta a fim de socorrer o jovem. E aí me dou conta da minha imprudência. Volto, entro em contato com a polícia que, ao chegar, verifica que o jovem está morto. Sento em frente ao computador e redijo uma carta endereçada aos moradores. Distribuo cerca de 150 cópias convocando-os para uma reunião em minha residência. Resultado: fundamos a Associação Amigos da Região da Praça do Pôr do Sol. A Praça, até então chamada por alguns de Praça dos Namorados, era um verdadeiro paraíso durante o dia, com exceção da presença de um carro, que ficava estacionado junto a um telefone público. Com o tempo, descobri que se tratava de um traficante de drogas que ficava aguardando pedidos de compra. Durante a noite era um inferno; dezenas de carros estacionados, em cujo interior ficavam casais namorando. E, nas calçadas, traficantes vendendo drogas e aficionados se drogando. A algazarra era tanta que eu passava várias noites “em vigília”. A partir de um determinado momento, passei a procurar meios para solucionar essa situação. Prefeitura, Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Cheguei a levantar fundos entre os moradores a fim de cercarmos a Praça. Nada feito. Segundo a Prefeitura, seria necessário transformá-la em Parque, e para isso só com a aprovação da Câmara Municipal. Consegui me reunir com o Presidente do CET para a colocação de placas com “proibido estacionar”, e fui atendido. Só que a situação continuou a mesma, pois ninguém obedecia à sinalização e não havia nenhum policiamento para coibir a desobediência. Então nossa reivindicação (moradores, escolas, paróquia) passou a ser “um posto da polícia na Praça”. Tivemos uma reunião na própria Secretaria, mas resultou em vão. Cansado de tanto tentar sem resultado, resolvemos (apesar de ser contrário) contratar um esquema de segurança particular, com viatura percorrendo 24 horas a vizinhança da Praça. Todos em casa, ao chegar à noite, ligávamos para a viatura que ficava nos aguardando na porta de entrada para nos garantir um mínimo de segurança. Para minha casa em particular, contratei um sistema de segurança com a Siemens, que incluía, além de cerca elétrica, uma comunicação permanente com a central. Resolvi também recorrer à imprensa. Em um domingo à tarde, juntamente com uma jornalista, fomos à residência do então Secretário de Segurança Pública. Ao chegar, coincidentemente, o próprio Secretário estava chegando com a família. Sua mulher, ao tomar conhecimento, nos disse “nem aos domingos vocês nos dão descanso!”. Ao que a jornalista retrucou “e os bandidos nos dão sossego aos domingos, dondoca?”. Passei a noite de sábado (27/2), para domingo, com repórteres do jornal Diário de S. Paulo, na minha residência. Na segunda-feira, sai a seguinte reportagem na primeira página do jornal: “Veja como o tráfico age em praça de bairro nobre”, com a foto de um carro da PM e traficantes vendendo drogas. Nessa mesma segunda-feira, à noite, uma coronel da PM toca a campainha de casa. E me diz “por que o senhor está denegrindo nossa corporação? Qual a sua fonte na imprensa?” E eu respondo “por que a senhora ao invés de nos propiciar segurança vem me ameaçar?”. No final dessa semana, viajei com minha mulher para Ilhabela. Na época o celular não tinha sinal na Ilha. No domingo à noite, ao chegarmos à balsa, havia vários recados no celular, alertando que nossa casa tinha sido assaltada. Espalharam todas as nossas roupas, derrubaram muros etc. Chamei a polícia científica e verificaram que foi “coisa de profissional”. Não localizaram nenhuma impressão digital. Para finalizar: vendemos a casa e mudamos para um apartamento. E, no início do ano de 2012, a três edifícios do nosso, houve um arrastão. Onde está nossa segurança e o que faz o governo municipal? ——————- *Julio Tannus é engenheiro, consultor em estudos e pesquisa aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), autor do livro “Razão e Emoção” (Scortecci Editora)
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