01/06/2023 às 23h15min - Atualizada em 01/06/2023 às 23h15min

​Níveis de nicotina encontrados em usuários de cigarro eletrônico equivalem ao consumo de 20 cigarros

Análise urinária mostra que uso de novos dispositivos correspondem a um pacote de cigarros tradicionais

Exames realizados em pessoas que usam cigarro eletrônico e passam por tratamento no InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), detectaram níveis elevados de nicotina e equivalente ao consumo de 20 cigarros tradicionais. O alerta é do Programa de Tratamento do Tabagismo. 
“Esses dados são alarmantes e revelam que a luta contra o tabagismo no Brasil enfrenta um inimigo de roupa nova, o cigarro eletrônico, que surgiu em um formato atrativo e com a falsa promessa de ser menos nocivo à saúde em comparação com o cigarro tradicional”, alerta Dra. Jaqueline Scholz, cardiologista diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor. 
A análise foi realizada com 21 usuários de cigarro eletrônico que procuraram o Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor para abandonar o consumo desses produtos. Os pacientes têm idades entre 13 e 49 anos, e 15 deles relataram que fumavam cigarro comum no passado e substituíram por cigarro eletrônico. Em todos os pacientes, os valores de cotinina (substância identificada pelo exame de urina) encontrados no organismo foram de 600 ng/ml (nanograma por ml), que corresponde ao consumo de mais de 20 cigarros convencionais por dia. 
A cotinina é um metabólito da nicotina, ou seja, o principal produto gerado pelo organismo a cada tragada de cigarro. Ao entrar em contato com a corrente sanguínea, a nicotina alcança diversos órgãos, entre eles o fígado, onde é transformada em cotinina e pode permanecer no organismo por 17 horas. 
A nicotina é uma substância altamente viciante, pois também alcança o cérebro e causa um aumento na liberação de dopamina, um neurotransmissor que promove sensações de prazer e tranquilidade. Esse efeito dura até 60 minutos e, quando termina, pode levar a sintomas de abstinência, irritabilidade e estresse.
“Com o cigarro eletrônico acontece um processo parecido. A diferença é que o vape é composto por sal de nicotina, que é ainda mais absorvido pelo organismo. Os níveis de cotinina que encontramos foram os mais elevados que o teste poderia identificar, demostrando que a velocidade do vício com este produto é assustadoramente mais elevada que do cigarro convencional”, ressalta Jaqueline Scholz. 
A alta exposição à nicotina também causa efeitos cardiovasculares, como aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e dano na parede dos vasos sanguíneos.
Outro problema apontado pela especialista é o número de usuários com menos de 18 anos. Dos 21 analisados pelo estudo, quatro eram menores de idade e estavam acompanhados pela família durante o tratamento. “É preocupante a exposição ao tabagismo e seus efeitos nocivos com tão pouca idade, em uma velocidade ainda maior. Fumar mais de 20 cigarros por dia ocorreria ao longo de anos de consumo do cigarro convencional, e o cigarro eletrônico acelera o vício e o comprometimento do organismo”, completa a cardiologista.
O InCor é um hospital público de alta complexidade, especializado em cardiologia, pneumologia e cirurgias cardíaca e torácica.

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