02/09/2022 às 00h52min - Atualizada em 02/09/2022 às 00h52min

​Um conselho para participar

por Mônica Soutelo

É hora de agir e se fazer ouvir! Tá todo mundo chocado com a brutal transformação por que a cidade está passando por causa da especulação imobiliária. Mas não sabe que existe esse canal do munícipe para dialogar com o poder público Não sei você, mas eu vou votar no domingo, 11 de setembro, para eleger meus representantes no Conselho Participativo Municipal (CPM) da cidade de São Paulo.
Na ocasião deverão ser eleitos 569 conselheiros das 32 subprefeituras da cidade. Todo mundo pode – e deve – votar. Basta comparecer entre 9h e 17h à sede da subprefeitura de sua região. É preciso levar comprovante de residência, título de eleitor e RG. Cada pessoa vota em até três candidatos da subprefeitura de onde mora. O nome já diz tudo: Conselho PARTICIPATIVO. Mas pouca gente participa. Constato que poucas pessoas das minhas relações já ouviram falar do CPM e raríssimas são as que sabem que haverá eleição. E das que sabem, meia dúzia de gatos pingados vai sair de casa num domingo pra votar.
E no entanto… é hora de agir e se fazer ouvir! Tá todo mundo chocado com a brutal transformação por que a cidade está passando por causa da especulação imobiliária. Mas não sabe que existe esse canal do munícipe (êta, palavrinha feia!) para dialogar com o poder público. Dialogar não só para esse tipo de assunto, mas para inúmeros outros referentes ao lugar em que vivemos.
Mas atenção! Não sejamos ingênuos. Um conselho como esse não vai impor um freio ao desvario imobiliário. Mas pode ajudar para que demandas sejam ouvidas, questionamentos sejam realizados oficialmente e se garanta minimamente a qualidade dos bairros. É uma oportunidade para tentar melhorar o local onde moramos. E se o CPM não tem poder decisório (é um conselho), por outro lado, tem o poder de pressionar. “Podemos sinalizar para o poder público que a sociedade não está inerte ao processo de transformação do bairro”, comenta o arquiteto Michel Chaui do Vale, um dos candidatos do distrito de Pinheiros e co-coordenador do ‘Pró-Pinheiros’. “É um espaço para colocarmos nossas indignações e preocupações, é um canal merecedor de resposta do poder público”, acrescenta.
O movimento ‘Pró-Pinheiros’, nascido no ano passado para se contrapor à verticalização radical e sem controle do bairro, é berço de várias candidaturas. Para um membro do movimento candidatar-se ao CPM, é uma “consequência natural ao que já vem fazendo no coletivo; é uma continuidade”, conforme explica a artista visual e professora universitária Laurita Ricardo Salles, também co-coordenadora do Pró-Pinheiros. “Abre-se aqui uma possibilidade de acesso direto ao diálogo com o poder público e fica-se mais próximo das esferas de decisão”, segundo sua visão.
Verônica Bilyk, publicitária e coordenadora do Pró-Pinheiros, já foi conselheira do CPM no biênio 2018-2019 e agora se candidata para um segundo mandato. Um dos focos da sua candidatura, como dos demais, é “lutar pela realização do Plano de Bairro” – dispositivo previsto no Plano Diretor Estratégico e não incrementado. Outros pontos da plataforma dos três são a luta por uma participação democrática na gestão da cidade, a fiscalização da zeladoria e a preservação do patrimônio cultural e arquitetônico construído na região.  
Para Og Doria, geógrafo por formação, cozinheiro por ocupação atual e também do Pró-Pinheiros, “a voracidade do capital imobiliário” foi um elemento que o impulsionou a se candidatar. Ele, que sempre trabalhou em administração pública, com passagens pelos governos Luiza Erundina e Marta Suplicy, quer fazer política com ‘P’ maiúsculo no CPM e trabalhar em prol“ do empoderamento e articulação dos conselhos municipais e contribuir para a boa execução do orçamento público e dos planos de meta”.
Sobre adensamento, Og afirma que não é contra. “Sou contra o processo que não o discuta”, diz. “Sou a favor de um plano urbanístico saudável que inclua as pessoas e não as exclua; não quero viver numa bolha.”
Um dos slogans do ‘Pró-Pinheiros’ é “Pinheiros quer ser ouvido”. Taí um lugar pra se fazer ouvir: ocupar espaços numa instituição como o CPM! E isso não vale apenas para Pinheiros, mas também para todos os bairros de São Paulo que nos últimos anos conseguiram mobilizar moradores para defender seus interesses. Em alguns o fenômeno foi maior, em outros, menor. Mas em todos o ataque imobiliário surtiu esse efeito mobilizador muito salutar.
Um aspecto interessante nessa eleição é que 50% das vagas são reservadas às mulheres (nem precisava: elas são maioria absoluta no ativismo de bairro). E em cada subprefeitura há duas vagas para imigrantes. O trabalho do conselheiro é voluntário, sem remuneração.
Em tempos em que a democracia vem sendo ameaçada (e não só nestes tempos), é importante exercê-la em todos os níveis – local (bairro), municipal, estadual e federal. Vamos ajudar a construir a cidade que queremos com mais praças, mais verde, mais inclusiva, mais humana – e mais democrática!
*Mônica Soutelo é jornalista, trabalhou na fase áurea do ‘Jornal do Brasil’ e ‘Veja’ e teve escritório de assessoria de imprensa

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.