31/07/2020 às 21h23min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h26min

Pernilongos invadem a região e Prefeitura nada faz novamente

Depoimentos de moradores relatam o crescente número de pernilongos infestando toda a região oeste e sudoeste da capital. A época de seca e a onda de calor anormal influenciam o aumento, que prejudica toda a população. A quantidade de pontos com água parada e esgoto in natura na região amplificam a questão, além das margens do rio Pinheiros, que sempre foram os maiores criadouros e que, anteriormente, recebia pulverização da Prefeitura e do governo do estado, prática que foi “esquecida” pelo poder público. De acordo com a população do Alto de Pinheiros, a presença de pernilongos é alta no local. “Tenho visto alguns posts a respeito de aumento no número de pernilongos nos bairros da zona oeste e muitos atribuindo o fato à falta de atenção da Prefeitura no tratamento do Rio Pinheiros (fato). Mas gostaria de dividir uma informação importante: especialistas publicam sempre que quando o pernilongo encontra água para reprodução e alimento (nós) ele tende a permanecer em um raio de 100 metros do criadouro. Quando busca condições favoráveis, faz isso em um raio máximo de 800 metros. (Alguns especialistas informam máximo 400 metros.). Com isso quero dizer que em alguns casos no nosso bairro, não tão próximos ao Rio Pinheiros, a infestação provavelmente se deve ao comportamento dos moradores que permitem que o mosquito encontre condições favoráveis e se instale na região. Vamos aproveitar o momento para avaliar possíveis criadouros nos nossos prédios, vizinhos e evitar que a infestação avance pelo bairro.” – C.L. “Exato. Tem sempre água parada nas sarjetas da rua Itacema. E olha que a rua é uma descida.” – R.J. “Estamos com muitas obras de construção civil e reformas. Agora, a Prefeitura faz também a diferença.” – L.R.D. “Spray! Nunca vi passarem ‘fumacê’ no bairro! Esqueça!” – P.P. “Moro perto do ‘Brascan’. Aqui sempre teve muitos pernilongos, até no inverno. Uso direto tomadas de inseticida.” – R.C.L. “O pior bairro é o Alto de Pinheiros.” – S.M. “Cuidado, gente. A dengue não é brincadeira!” – A.M. “Certos tipos de plantas que estão sendo colocadas nas frentes dos prédios atualmente também são "ninhos" de pernilongos. Pode-se ver nuvens deles subindo dessas plantas ao final do dia.” – A.l. “Eu uso toda noite o protetor, tenho muito medo, se cuidem.” – M.A. Saneamento ambientalGazeta de Pinheiros – Grupo 1 de Jornais relembra uma conversa com Maria Anice Mureb Sallum, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com a especialista, por causa da falta de saneamento ambiental, especialmente pelo fato de o Rio Pinheiros receber elevada quantidade de esgoto in natura e ter sido transformado em “lagoa de estabilização”. As margens são sujas, com plantas que facilitam o desenvolvimento das fases iniciais de vida do pernilongo doméstico e oferecem abrigo aos adultos, machos e fêmeas. O pernilongo doméstico é o único mosquito que sobrevive às condições extremamente poluídas do rio, não tendo nem predadores nem competidores. Ali ele é o “rei” e prolifera sem dificuldade, inclusive com fontes de sangue abundantes nas margens (roedores) e áreas no entorno do rio (humanos, roedores, cachorros etc.). O Rio Pinheiros não é o único responsável pelo aumento. A falta de chuva torna a água estável, com maior nível de poluentes e eutrofização, com muita matéria orgânica que serve de alimento para as larvas do mosquito. As temperaturas elevadas em decorrência das mudanças climáticas e da ilha de calor urbano tornam as condições ambientais e climáticas ainda mais propícias à proliferação do “Culex quinquefasciatus” (pernilongo doméstico). Em temperaturas mais elevadas, o desenvolvimento das fases iniciais de vida (larvas e pupas) é mais rápido. Esse fato, juntamente com a maior oferta de criadouros por causa da água que se acumula no ambiente, inclusive em recipientes diversos, favorece a proliferação do pernilongo. Dessa maneira, é fácil entender a presença de grande quantidade de “Culex” em áreas próximas aos rios poluídos do município de São Paulo. Fossas negras e sépticas, calhas entupidas, galerias de água pluvial entupidas, rios e córregos contaminados com esgoto, piscinões, calçadas quebradas que permitem o acúmulo de água sob o revestimento e recipientes e resíduos sólidos de plástico, pequenos e grandes, acumulam água, podendo representar excelentes ambientes para a proliferação do pernilongo. Os mosquitos podem apresentar resistência aos inseticidas usados no controle. Além desse problema, há o fato de que nem sempre é possível utilizar o “fumacê”, pois as condições climáticas podem não ser as adequadas. As partículas do inseticida têm de permanecer suspensas no ar por certo período para que matem os mosquitos. Por exemplo, se estiver ventando, não é possível fazer a aplicação, pois ocorrerá a perda do produto, agravada pela contaminação do ambiente, sem ter o resultado esperado. A aplicação de inseticidas pode ser feita durante o dia nas margens de rios e córregos poluídos, pois visa eliminar os pernilongos que estão em repouso na vegetação. O controle seria mais efetivo com a aplicação de produtos larvicidas, mas as condições climáticas devem ser avaliadas para evitar a perda do produto antes que possa causar o efeito desejável, matar as larvas. Maria Anice ainda afirmou que muitas medidas deveriam ser adotadas pelos governantes, mas não o são ou são inadequadas e descontinuadas. Por exemplo, seria tarefa deles a adoção de amplas medidas de saneamento ambiental que permitissem a eliminação dos habitats das fases iniciais de vida do mosquito, ou seja, água acumulada em recipientes e rios, riachos, lagos poluídos por esgoto doméstico e industrial. Obviamente, a população deveria colaborar, não jogando lixo em bueiros, nas ruas, nos rios, no ambiente em geral e cuidando de suas residências, evitando que as calhas acumulem água e o revestimento fique quebrado de maneira a permitir a formação de pequenas poças, além de limpar os ralos, descartar o lixo em locais adequados etc. Ou seja, mosquito é problema ambiental e, portanto, medidas de saneamento devem ser adotadas para eliminá-los ou mantê-los em baixa densidade.


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