08/05/2020 às 20h43min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h32min

No Morumbi é permitido degradar. É o princípio do fim

Carlos Magno Gibrail Em 2016, na reunião a respeito do zoneamento da cidade, atendendo o Plano Diretor, a Prefeitura, em cumprimento da lei, reuniu os moradores e proprietários de imóveis da região do Morumbi, para decidir os parâmetros para o zoneamento da área. Com marcante atuação, especificamente os proprietários de grandes áreas situadas na av. Morumbi, por meio de agressivas sustentações tiveram satisfeitas suas proposições. Elas objetivavam atender os seus interesses comerciais, bem distantes dos desejos dos moradores, cuja meta era a preservação do meio ambiente. A alegação básica dos proprietários apontava para o fato de que ninguém mais queria morar na av. Morumbi, e eles não tinham como comercializar os terrenos que possuíam. Cabe lembrar que nesta avenida está situada a maior mansão do município, e moram personalidades ilustres da cidade, a começar pelo Governador do Estado, e banqueiros ilustres, assim como expoentes do empresariado brasileiro. E não se tem notícia de que eles estejam mudando. Historicamente a av. Morumbi abriga a Casa da Fazenda, sede da origem da plantação de chá que originou a região, a Capela do Morumbi, a Fundação Oscar Americano, com museu e rico acervo de arte, e o local da residência projetada por Oscar Niemayer e Burle Marx para Francisco Matarazzo (Baby) Pignatari, famoso industrial de cobre, prata e aviões paulistinha, que morou com a princesa Ira Von Fürstenberg, após raptá-la, protagonizando um pitoresco caso do jet set internacional. Os proprietários dos grandes terrenos também alegaram tráfego intenso e excesso de linhas de ônibus que deixam a área em comunicação com toda a cidade. Fatores, que somados ao meio ambiente preservado, torna a avenida uma mina de ouro para os primeiros empreendimentos imobiliários que ali se instalassem. A sequência do processo que atendeu aos proprietários dos grandes terrenos fez com que a av. Morumbi passasse a ser categorizada no zoneamento como ZCOR Corredor Comercial, chegando a ZCOR3 em vários trechos. Os moradores que vieram para a avenida Morumbi em busca das características originais de urbanização passaram a correr o risco da descaracterização ambiental. Avenida degradada e probabilidade de contaminação das áreas próximas. E foi o que começou a acontecer a partir de 2018. Iniciaram-se as derrubadas da flora, até com aspectos surpreendentes. No dia da posse do governador João Doria, um terreno a uma quadra do Palácio dos Bandeirantes recebeu multa de tráfego por toras de parte das 100 árvores que foram cortadas e depositadas em cima da calçada. Veja bem, multa da CET e não da Secretaria do Meio Ambiente. Atente também que nenhum dos convidados percebeu o desmatamento, apenas o marronzinho. A propósito, este terreno devastado completamente pela derrubada de toda a flora, não sobrou nenhuma, até hoje está absolutamente vazio e sem indício de operação. As placas de “autorização” para o “desmatamento” foram retiradas e o solo, agora sem sustentação, ameaça a casa vizinha.   Hoje, já podemos “concretamente”, sem trocadilho, vislumbrar na ZC (Zona de Centralidade) definida pelo novo zoneamento, situada na esquina da Morumbi com a Adibo Ares, um robusto canteiro de obras preparando para a elevação de torres de moradias de alto padrão. Em sentido amplo. Preço e altura, que contradiz, e ao mesmo tempo reafirma, a alegação de que ninguém quer morar na av. Morumbi por causa do transito.   Neste momento, ao longo da av. Morumbi, outros terrenos de porte em trechos absolutamente residenciais estão também sendo preparados para grandes construções, cuja operação se inicia com o corte de todas as árvores. É uma estranha equação, pois estes empreendimentos irão oferecer as vantagens existentes de infraestrutura e do meio ambiente da av. Morumbi, mas começam por destruir o meio ambiente.   Até quando vamos atender aos interesses dos empresários do mercado imobiliário? Até as próximas eleições?   Texto de Carlos Magno Gibrail, consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung (https://miltonjung.com.br/) .
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