17/04/2020 às 18h08min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h33min

O isolamento social não nos roubou a capacidade de sonhar e planejar

Tão ou mais contagioso do que o coronavírus é um “novo” comportamento que tem invadido as casas na quarentena: o tempo dedicado ao planejamento. Não estou me referindo àqueles planos que fazemos nos inícios de ciclos; os feitos no começo do ano, repletos de expectativas e promessas individuais e coletivas. Estou falando dos projetos de vida desenhados enquanto vivenciamos a maior crise contemporânea da humanidade – e principal desafio global desde a Segunda Guerra Mundial. A pandemia causada pela Covid-19 despertou a humanidade para a necessidade de sonhar e planejar. O medo e a tristeza não domaram o nosso espírito; ao contrário, reforçaram a nossa capacidade e vontade de usar o tempo conquistado pelo isolamento social para responder à uma pergunta simples. O que quero fazer depois dessa hecatombe? Em 2020, a vida virou do avesso e, como diria Milton Nascimento, “nada será como antes”. Estamos no quarto mês do ano, no terceiro mês de enfrentamento global da Covid-19 e, aqui no Brasil, convivendo com uma avalanche de sentimentos como medo, insegurança e tristeza.  Na semana passada, recebemos a notícia de mais um tempo nestas condições, de extrema mudança comportamental para a maioria das pessoas, pois não é ficar em casa – muitos amam – sim, ser obrigado a ficar em casa. Perdemos um direito básico: ir e vir. Reconquistamos o direito de planejar. No Instituto Bem do Estar, acreditamos que sairemos dessa experiência mais fortalecidos como humanidade, pois é destino do ser humano ser “humano”. Esta pandemia esgarçou a nossa capacidade de realizar, no momento, muitos de nossos planos, mas não rompeu a nossa capacidade de planejar. Hoje, essa vontade se fortaleceu, mesmo que você não se dê conta. Perguntei para nossa equipe qual seria o primeiro plano pós-quarentena e as respostas mostram duas necessidades claras: a presença do outro e de sair do automático para viver o agora. Camila, nossa conselheira, disse que assim que o isolamento acabar irá pegar qualquer meio de transporte possível e irá para Curitiba ver os sobrinhos – que mudaram dias antes de tudo isso começar. Outra conselheira, Betânia, contou que irá direto para Paraty, tomar um belo banho de mar, respirar aquela energia e encontrar amigos. Milena, cofundadora do Bem do Estar, não vê a hora de conhecer a sobrinha que nasceu.  Já Sofia, uma voluntária, foi enfática e certeira: “quero retomar o meu trabalho”; mesmo um dos conselheiros, Fabio, que diz não ter tido tempo para planejar – é pai do pequeno Leo – pensou em ver pessoas, sair para um barzinho. Ah, eu não podia deixar de dividir o meu plano, que na verdade são três e frutos do olhar para dentro, da saída do automático de algum tempo atrás e que somente se fortaleceram, no agora. O primeiro é correr, correr e correr muito, pois desde que parei de fumar (cinco meses e meio) esse virou meu vício e a abstinência não está fácil. Depois (ou ao mesmo tempo, será que corro 400 km? Acho que não, então, terá que ser de carro mesmo) ir visitar meus pais, a saudade grita. E, por último e não menos importante, cozinhar para meus amigos, com direito a abraços longos, de mais de 20 segundos – pois já é comprovado, pela neurociência, que estes produzem ocitocina, gerando efeito terapêutico sobre o corpo e mente. Ao olhar para as respostas da equipe, percebemos que a pandemia está nos convidando a pensar melhor em nossos planos e nos dando a oportunidade de nos reconectar – conosco e com os outros. Mas como parar para cuidar de nós em meio ao tsunami de informações e do medo diante do futuro incerto? Uma dica: separe alguns minutos no final de cada dia para escrever e refletir sobre a maneira como despende o próprio tempo com cada atividade – desde a meia hora que ficou enviando e-mails, até as duas horas assistindo Netflix. No final da semana, observe o tempo gasto com cada atividade e perceba quais os sentimentos você tem com cada uma delas e, principalmente, o que sente falta. Muitas atividades consideradas “simples” poderiam ser executadas em menos tempo, caso não houvesse outra distração. Será que se você praticar atenção plena, ou seja, fizer uma única atividade com total atenção nela, você não ganharia mais tempo para praticar algum exercício, ler um livro ou qualquer outra atividade que te traga prazer? Pense nisso, lembre-se que não adianta se “atolar” de tarefas e não separar um “respiro” para você. Por fim, lanço um desafio: aproveite que o planejamento entrou na sua vida e pense em formas de cultivar uma mente saudável e descansada – que produz bem mais do que uma exausta!   Texto: Isabel Marçal, fundadora do Instituto Bem do Estar (www.bemdoestar.org)


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