10/10/2024 às 21h42min - Atualizada em 10/10/2024 às 21h42min
O direito de preservação das Vilas do Sol deve ser respeitado
As Vilas do Sol, um conjunto de 52 casas construídas entre 1930 e 1970, são um ícone do ativismo urbano e da cidadania em Pinheiros. Suas características horizontalizadas, que permitem ampla incidência de sol, sobrevivem às drásticas mudanças no bairro. Em 2014, foi proposto durante a gestão de Fernando Haddad um novo zoneamento que visava adensar a área e facilitar a mobilidade para os trabalhadores, trazendo mais moradores para perto dos eixos de transporte de massa. No entanto, interesses imobiliários distorceram esse plano, resultando em prédios altos e vazios, destinados a locações temporárias.
Sustentabilidade
Apesar da pressão imobiliária, Vilas do Sol tem feito um esforço contínuo para manter sua identidade cultural. Construtoras como a Cyrela respeitaram os moradores, desistindo de investimentos. Em contraste, a Zabo Engenharia continuou oferecendo propostas de compra sigilosas aos proprietários, desconsiderando o contexto da vizinhança. Essa especulação não só prejudica Vilas do Sol, mas também desequilibra a paisagem de toda a cidade, agravando problemas como as ilhas de calor e a perda da permeabilidade e arborização. A impermeabilização da Bacia do Rio Verde é um agravamento para as enchentes em toda região.
Identidade Cultural
As casas no meio das quadras, rodeadas por charmosos comércios, unem o espírito familiar, passeio a pé e gastronomia. O bairro deseja preservar essa microrregião, garantindo que continue a ser um lugar vibrante e significativo para moradores e visitantes de todo Brasil e outros países. Pinheiros, atualmente uma zona predominantemente residencial (ZPR) e em processo de tombamento junto com outros núcleos históricos que contam a história da arquitetura e do modo de vida local.
A comunidade aguarda a construção de uma praça sustentável, que abrigará uma livraria, auditório, café e espelho d’água, tornando Vilas do Sol ainda mais especial. A população pode apoiar a preservação assinando o abaixo-assinado digital no Instagram @quadriláterovilasdosol e enviando depoimentos de apoio.
Incorporadoras protestam, mas tombamento segue
Uma decisão preliminar do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP) abriu um estudo de tombamento e incluiu Vilas do Sol e outras localidades de Pinheiros. Essa decisão paralisa todos os processos de aprovação de obras na Prefeitura nas áreas dentro desses perímetros. Uma matéria recente do ‘Brazil Journal’ abordou o tombamento provisório e as consequências para a indústria de construção civil, gerando insegurança jurídica para os investidores. O artigo não comenta a insegurança das famílias que vivem há mais de 50 anos no bairro e se sentem despejadas de seus locais de moradia para lugares distantes, sem laços afetivos.
Qualidade de vida
Enquanto construtores podem ter um rombo milionário, o bairro perdeu dramaticamente em qualidade de vida e ambiental, num momento de intensa crise climática. Como se o dinheiro fosse mais importante do que a própria vida. A indústria imobiliária deveria servir para atender a necessidade de moradia e não apenas para investimento.
O tombamento é um conjunto de ações do poder público para preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo para a população. Quando um bem é tombado, ele passa a estar sob a proteção do poder público e não pode ser destruído ou descaracterizado. Os investidores são suficientemente criativos para gerar outros negócios com os imóveis adquiridos, preservando o bairro.
Preservar a diversidade e a qualidade urbana como um Greenwich Village é um fator de valorização de Pinheiros e seus valores culturais e ambientais e a favor da sustentabilidade.
*A matéria teve a colaboração dos coordenadores da Vilas do Sol.
