02/08/2024 às 00h54min - Atualizada em 02/08/2024 às 00h54min
A volta dos heróis que queremos
Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com
Para não falir, a Marvel vendeu seus mutantes a Fox e o Homem-Aranha a Sony, cuja primeira trilogia do Amigão da Vizinhança foi dirigida por Sam Raimi enquanto a franquia dos Filhos do Átomo foi dirigida por Bryan Singer, embora o cineasta tenha a abandonado antes de X-Men — O Confronto Final (2006) para dirigir Superman — O Retorno (2006) onde o Jesus da DC Comics, vivido por Brandon Routh, acabou sendo rebaixado ao Universo das Séries da CW junto á Supergirl e ao Arqueiro Verde, enquanto a franquia dos X-Men no cinema ficava bastante prejudicada com a troca de diretor, a exemplo do que aconteceu com Star Wars: Os Últimos Jedi, dirigido por Rian Johnson em vez de J. J. Abrams.
Ao lado de Ian Mckellen como Magneto (o Malcolm X da Marvel) e Patrick Stewart como o Professor Xavier (o Martin Luther King), Hugh Jackman encarna Wolverine assim como Sylvester Stallone encarnou Rocky Balboa na sua vida. Contudo, o restante do elenco de visual cyberpunk, inspirado em Matrix (1999), não teve o mesmo impacto dos respectivos personagens na série animada noventista, incluindo Halle Berry.
Por conseguinte, X-Men: Primeira Classe (2011) apresenta um novo diretor, amparado num elenco de peso, no auge da Guerra Fria, provocada pelos capangas do mutante aristocrata do Clube do Inferno, Bernard Shaw (Kevin Bacon), que matou a mãe de Magneto (Michael Fassbender) quando ele era ainda uma criança, cujo desejo de vingança o uniu ao Professor Xavier (James McAvoy) e aos seus alunos superdotados, cuja metamorfa Raven (Jennifer Lawrence) quase provocou a Terceira Guerra Mundial e a criação do Projeto Sentinela, mas se redimiu a tempo com a cautela e a ousadia necessária, ensinada por aqueles mentores antagônicos — complementado em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014).
Isso até a Disney comprar a Fox e colocar todos os medalhões da antiga empresa no Vazio: tanto mutantes como os heróis suburbanos, substituídos por militantes políticos chatos e desconhecidos do público em geral. Chega de Thor gordo e Hulk intelectual; Eco, Shang-Chi, Agatha, America Chavez, Thunderbolts e Capitão América sem soro.
Por isso, coube a Deadpool & Wolverine (2024) fazer uma justa homenagem àqueles heróis esquecidos da Fox, assim como aos Vingadores originais da Fase de Ouro da Marvel, uma vez que as fases 4 e 5 atuais tem desagradado demais a galera, sobretudo àquele fã assíduo de quadrinhos. A Disney simplesmente copiou os defeitos da Fox e ignorou as suas qualidades.
Um dos motivos do terceiro filme do Deadpool bater inúmeros recordes de bilheterias foram as piadas bem trabalhadas que se encaixam naturalmente no roteiro, sem prejudicar com isso a imersão do espectador. Aqui o papel de Deadpool é o do fã dentro do filme — produzido e atuado por Ryan Reynolds, reagindo com entusiasmo a tudo aquilo que ele sonhou ver num filme de super-heróis da Marvel — amparado por uma trama simples e objetiva, apesar da greve dos roteiristas no ano passado. Outra facilitação de roteiro absurda, assinado também pelo ator irreverente, é o fato de Deadpool & Wolverine pertencer ao mesmo multiverso controlado pela agência de burocratas apresentados na série do Loki (a TVA), possibilitando assim, a ajuda de um Logan fracassado, tentando salvar o universo de Deadpool: o Jesus da Marvel, após Wolverine falhar miseravelmente com os aliados do seu universo.