14/02/2024 às 14h45min - Atualizada em 16/02/2024 às 00h00min
Médico da dor
Quem tem dor tem pressa
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@drrobertopaolinelli Entrevistar o Dr. Roberto sobre a medicina da dor e como ele pode auxiliar pessoas com diferentes tipos de dor no corpo oferece uma oportunidade valiosa para esclarecer dúvidas e compartilhar conhecimentos fundamentais sobre esta especialidade médica. Aqui estão 15 perguntas projetadas para obter insights abrangentes do Dr. Roberto:
1. Dr. Roberto, poderia nos contar mais sobre sua jornada na medicina da dor e o que o motivou a se especializar nesta área?
Ainda na graduação conheci a dor como área de atuação médica por meio do meu pai, que à época já era um renomado anestesista e especialista apaixonado no tratamento de dor. Decidi que seguiria o mesmo caminho, mas desejava ter uma formação mais sólida. Completei 3 especializações, Clínica Médica, Terapia Intensiva e Anestesiologia e no curso da minha atividade profissional, utilizando-me dos recursos dessa formação, entendi que era tempo de alçar vôo na direção da medicina da dor
Já se passaram 11 anos desde o primeiro contato formal com essa especialidade. Desde então foram 2 pós-graduações, um fellow, congressos e cursos dedicados ao aprendizado no tratamento de pacientes com dor. A minha formação busca oferecer escuta, acolhimento e o melhor que a técnica pode oferecer na prática dessa complexa e fascinante especialidade. 2. Na sua visão, qual é o maior desafio enfrentado pelos profissionais da medicina da dor hoje em dia?
A medicina da dor é uma especialidade que cresceu muito nos últimos anos, especialmente na parte intervencionista, por meio do uso de bloqueios e infiltrações, o que melhorou e muito os resultados no tratamento de dores crônicas. Entretanto ainda vemos muitos pacientes sofrendo por não conhecerem a especialidade. Esses pacientes passam em médicos de outras especialidades, que não estão habituados a reconhecer a dor crônica como doença em todas as suas dimensões. É necessário, portanto, apresentar novamente a medicina da dor à sociedade como pilar fundamental na condução de pacientes com dores crônicas. 3. Como você descreveria a medicina da dor para alguém que não está familiarizado com o termo?
A medicina da dor é uma área extremamente abrangente de atuação médica voltada para o tratamento da dor em todas as suas peculiaridades, ou seja, ela abraça desde o tratamento da dor após cirurgias até o tratamento de dores de cabeça crônicas por exemplo. Nenhuma dor que seja aguda ou crônica, a última aquela com mais de 3 meses de duração, foge ao olhar do profissional da medicina da dor. 4. Muitos pacientes têm receio de buscar ajuda por medo de serem submetidos a tratamentos invasivos. Como você aborda essas preocupações em sua prática?
Comunicação bem-feita e assertiva é a base para convencer o paciente de que aquele procedimento, embora possa provocar algum desconforto, é o melhor caminho naquele momento. Além disso, os procedimentos feitos em consultórios duram minutos, ou seja, não significam nada quando consideramos todo o sofrimento que o paciente tem vivido. Outros procedimentos, em sua maioria aqueles que têm utilização de raio-X, são feitos em ambiente hospitalar e nesses casos podemos lançar mão da utilização de sedação leve, o que auxilia muito na tolerância dos pacientes ao desconforto gerado pelo procedimento, que geralmente, também é rápido. 5. Poderia nos dar exemplos de tratamentos não invasivos que têm se mostrado eficazes no alívio da dor?
O tratamento da dor, para ser eficaz, deve ser multidisciplinar envolvendo a participação de profissionais de outras áreas (fisoterapeutas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas etc). O acolhimento e a escuta bem-feita são essenciais porque cientificamente tem efeito terapêutico inegável. Outro ponto do tratamento não invasivo inclui a utilização de fármacos por via oral (antidepressivos, antiiflamatórios, , corticóides, anticonvulsivantes, antipsicóticos, opioides etc) ou venosa (anestésicos locais, corticóides, antagonistas NMDA etc). 6. A dor crônica pode afetar não apenas o físico, mas também o emocional dos pacientes. Como sua abordagem trata o paciente de forma holística?
Não gosto do termo holístico, que remete a algo místico. Prefiro utilizar o termo integral. Nesse caso enxergamos o paciente como um todo, procurando entendê-lo em todos os seus aspectos, não apenas naquele em que a dor tem trazido de repercussões físicas, mas também repercussões emocionais, comportamentais e sociais. 7. Na sua experiência, há tipos de dor que as pessoas tendem a ignorar até que se tornem problemas graves?
Sem dúvida nenhuma, sobretudo quando a dor é leve e de início recente. Nesses casos os pacientes tendem a lançar mão da automedicação por meio do uso de analgésicos simples (dipirona, parecetamol) e antiinflamatórios, mascarando a dor como sintoma de uma doença subjacente mais grave. Uma preocupação diz respeito aos circuitos nervosos de transmissão da dor, quando, após atravessarmos um período de 3 meses, eles podem estar sensibilizados de maneira irreversível. 8. Qual é o papel da tecnologia e da inovação no tratamento da dor atualmente?
A medicina da dor, como outras especialidades, vem incorporando tecnologias no seu dia a dia. Atualmente chama a atenção o advento da ultrassonografia como ferramenta imprescindível no tratamento de dores aguda ou crônicas, uma vez que facilita a localização de músculos, vasos, tendões, bursas e nervos, possibilitando a injeção de medicamentos (anestésicos locais, glicose, antiinflamatórios) de forma mais segura e dirigida. 9. Como você se mantém atualizado com os avanços na medicina da dor para garantir o melhor tratamento para seus pacientes?
Educação continuada por meio de participação em congressos, cursos, pós-graduações e estudo regular são as ferramentas das quais lanço mão para me manter constantemente atualizado. 10. Pode compartilhar uma história de sucesso de algum paciente que, graças ao tratamento, conseguiu superar a dor crônica e melhorar sua qualidade de vida?
Lembro-me de uma paciente em especial que chegou com o diagnóstico de enxaqueca crônica e que já tinha passado por alguns colegas e atendimentos em prontos-socorros por causa da crises de dor de cabeça. Essa paciente se encaixava num protocolo de utilização de toxina botulínica, o famoso Botox. Aplicado o protocolo a paciente teve sua doença controlada com controle completo das crises. 11. Existe alguma área ou condição dentro da medicina da dor que você acha que merece mais atenção ou pesquisa?
Acho que é necessário darmos mais atenção a medicina regenerativa, especialmente a utilização de ortobiológicos no tratamento de dores musculoesqueléticas. 12. Como os pacientes podem diferenciar entre um desconforto temporário e uma dor que necessita de atenção especializada?
O paciente deve buscar atendimento especializado quando tiver comorbidades, dor de início recente não relacionada a um traumatismo que exija a utilização de medicamentos corriqueiros de forma frequente e que não melhore com sua utilização. 13. Muitas pessoas buscam alívio imediato para a dor através de medicações. Qual é a sua opinião sobre o uso de analgésicos e anti-inflamatórios a longo prazo?
A automedicação, um tema de preocupação em saúde pública, deve ser fortemente desencorajada, mesmo em casos de dor de início recente e relacionadas a traumas (acidentes de qualquer espécie) ou cirurgias. O uso de analgésicos e anti-inflamatórios de forma indiscriminada, além de não serem isentos de efeitos colaterais, podem mascarar a dor como sintoma de uma doença subjacente mais grave. Permita que um especialista em dor conduza o seu tratamento. 14. De que maneira a alimentação e o estilo de vida influenciam na gestão da dor crônica?
São fundamentais no tratamento da dor crônica. Posso dizer que nenhuma medicação ou tratamento farmacológico ou invasivo funcionarão na plenitude se o paciente não compreender que é peça essencial na engrenagem complexa do controle dessa condição.
De forma bem geral diria que a adoção de um estilo de vida saudável com alimentação adequada, prática de exercícios físicos regulares e sono de boa qualidade são elementos inegociáveis no plano de tratamento de pacientes com patologias crônicas, incluindo a dor. 15. Finalmente, o que você diria para alguém que está sofrendo de dor crônica mas hesita em procurar ajuda especializada?
Busque tratamento. A “dor crônica” é a doença em si e não mais um sintoma. Sentir dor não é normal e a hesitação em buscar tratamento pode ter consequências danosas para o organismo. Lembre-se, você está diante de uma patologia crônica e irreversível mas que tem controle quando se busca atendimento especializado. Estas perguntas têm o objetivo de abordar vários aspectos importantes da medicina da dor, desde os desafios enfrentados pelos médicos até conselhos práticos para pacientes. Através das respostas do Dr. Roberto, espera-se fornecer informações valiosas para indivíduos que buscam entender melhor a dor e como ela pode ser tratada eficazmente.