28/04/2023 às 00h52min - Atualizada em 28/04/2023 às 00h52min

Dia do Trabalho: da manipulação das Redes de TV às Big Tecs

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Na década de 1970 a televisão estava no auge: a primeira Copa do Mundo em cores, o primeiro pouso na Lua e uma guerra televisionada através de um tubo que ditava a realidade, conduzindo a audiência para onde quisesse: a televisão se tornou a verdade dentro de uma enorme Rede de Intrigas (1976). “Não existem nações, não existem pessoas; só há IBM e ITT, e AT&T e Du Pont, Dow, Union Carbide e Exxon. O mundo é um colegiado de corporações inexoravelmente determinado pelas leis imutáveis dos negócios. O mundo é um negócio. Tem sido desde que o homem saiu da caverna” — Arthur Jensen (Ned Beatty), da fictícia UBS (baseada diretamente nas TVs CBS, NBC e ABC), explica para Howard Beale (Peter Finch) o que é o meio onde ele vive. No Brasil, 70% da indústria cultural sensacionalista, responsável por conduzir as massas e faturar em cima, pertence a seis famílias: Marinho (Organizações Globo), Frias (Folha de S. Paulo, UOL), Mesquita (O Estado de S.Paulo), Saad (Bandeirantes), Abravanel (SBT) e Civita (Abril). Nossos cinco maiores bancos (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica e Banco do Brasil) controlam 82% dos depósitos do país. Atualmente, é o globalismo quem molda o comportamento da nossa sociedade, padronizado pela agência de notícias: Reuters, em cujo monopólio se estabeleceu uma concorrência ilusória entre os principais jornais do planeta, incapazes de estabelecer um debate consciente para a população. Na trama dirigida por Sidney Lumet, disponível na BP Select, Beale fala verdades ao vivo em horário nobre, aumentando consideravelmente a audiência do jornal, o que leva a diretora de programação: Diana Christensen (Faye Dunaway), sedenta por audiência, dar um programa de auditório exclusivo àquele “Profeta Louco” com o aval do diretor-executivo materialista, Frank Hackett (Robert Duvall). Ocorre que esse novo formato de manipulação intensa, proposto pela fria e psicótica workaholic, obriga o colega ético e tradicional Max Schumacher (William Holden) a pedir demissão do cargo.
Herói por Acidente (1992) é outro caso de imposição da mídia ao definir as características de um herói: bonito, elegante e educado, sobretudo engajado numa agenda social politicamente correta ao visitar crianças e idosos em hospitais; preservar o meio ambiente, defender os pobres e as minorias, já que “o verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento quando tudo parece perdido” — W. F. Grenfel. Na trama, Bernie Laplante (Dustin Hoffman) é um vagabundo, mentiroso e trapaceiro: propenso ao heroísmo desde a sua participação na Guerra do Vietnã. O taciturno condenado à prisão era admirado apenas pelo filho antes de salvar todos os 54 passageiros de um avião em chamas, carregando no colo metade dos feridos. Ao contrário dos bombeiros que apenas cercaram a aeronave danificada antes da explosão: sem assumir riscos. Entre os sobreviventes estava Gale Gayley (Geena Davis), outra repórter de TV sem escrúpulos, que oferece um milhão de dólares por uma entrevista do herói anônimo, embora quem apareça na emissora é o seu melhor amigo, John Bubber (Andy Garcia), especializado em comunicar virtudes. Bubber adora holofotes enquanto Bernie, repulsa-os, contanto que os estudos do filho sejam pagos. Por isso, a troca de identidade é mantida em segredo sem desconstruir o mito, uma vez que o público ama o personagem em vez do herói de verdade.
O diretor Dan Gilroy define O Abutre (2014), na HBO Max, como uma “história de sucesso”, ambientada numa Los Angeles decadente, uma vez que lá o crime compensa. Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) é um fracassado sem empatia por ninguém: tanto pelas vítimas que filma quanto pela concorrência, após sabotar a van do cinegrafista interpretado por Bill Paxton, de modo a chegar primeiro no local do acidente. Desempregado — aquele autodidata inconsequente — arranjou uma câmera e um receptor de rádio da polícia, a fim de prosperar na profissão de Nightcrawler — acima da ética profissional —, ignorando o certo do errado com o intuito de se dar bem da vida a qualquer custo. A empreitada do sedutor é estimulada pela editora de um canal de TV, Nina Romina (Rene Russo), sustentada pelo público sedento por violência gráfica com muito sangue nos noticiários sensacionalistas da calada da noite. O ousado sociopata teve visão de mercado ao estabelecer um império de reportagens em vídeo: adquirindo duas vans e três estagiários, tão fácil de manipulá-los quanto o ingênuo Rick (Riz Ahmed).
O Círculo (2017), disponível na BP Select, é uma comunidade global que se mistura à nossa realidade, confundindo público e privado, cujo excesso de segurança busca eliminar paulatinamente a liberdade dos membros até a “transparência total”, fazendo-os trabalhar cada dia mais de forma integral, num ambiente jovem e arborizado, repleto de atividades prazerosas e hipnotizantes, com shows ao vivo. O logo da empresa no Vale do Silício, assemelha-se ao do Google, enquanto Eamon Bailey (Tom Hanks) ao líder de uma seita totalitária: o único vigilante que não é vigiado, tampouco investigado. Na trama, a novata Mae Holland (Emma Watson) precisa pagar o tratamento do pai com esclerose múltipla, indo trabalhar lá como uma simples atendente que por questão de pertencimento, passa a dormir no local e filmar o seu dia a dia artificial de forma intensa e estressante, lembrando O Show de Truman. Esse foi o último filme de Bill Paxton, que faleceu em fevereiro de 2017, aos 61 anos, interpretando o pai de Mae Holland.

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