Mostra continua exposta no Palácio das Artes. O artista visual santista utiliza o bordado para refletir sobre questões de gênero e do trabalho
Praia Grande (SP), 2 de outubro de 2024 - A exposição "Avesso do Avesso", do artista santista Julian Campos, em cartaz no Palácio das Artes da Praia Grande, pode ser visitada até o dia 5 de outubro, no Hall Superior Professor Osmário Barreto. A mostra, que foi selecionada pelo edital ProAC 13/2023 - Artes Visuais - Circulação de Exposição, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, teve abertura no dia 22 de agosto. O público pode visitar a exposição na avenida Presidente Costa e Silva, 1600, Boqueirão. A entrada é aberta e gratuita.
"Avesso do Avesso" passou recentemente por turnê em Franca e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo e chega ao litoral paulista com mais obras produzidas neste intervalo entre as exposições. A série que foi iniciada em 2018, é formada agora por cerca de 90 bordados produzidos por Julian a partir de toalhas e outros itens adquiridos em brechós e bazares de caridade em São Vicente/SP, cidade onde o artista mora e trabalha. Explorando a representação de suas próprias mãos e gestos típicos do ato de bordar, o artista investiga seu papel enquanto homem na prática do bordado, historicamente associada ao universo doméstico feminino.
“Esse trabalho tem sido ponto central da minha produção. Estou muito feliz de encerrar a circulação desta exposição no Palácio das Artes, na Praia Grande, um lugar que admiro e respeito desde antes de me entender como artista. Por onde passo, em aulas ou outras apresentações sobre o meu percurso, eu sempre falo sobre o Palácio das Artes ser esse lugar ‘mais próximo do ideal’ que temos para as artes visuais na Baixada Santista”, revela Campos. Ele relembra que foi no Palácio das Artes, em 2008, que vislumbrou a possibilidade de transformar a sua dedicação à arte em um ofício. “Tive pra mim que eu saberia ter chegado a algum (primeiro) lugar quando algum trabalho meu fosse selecionado para o Salão da Praia Grande. De lá para cá, já participei cinco vezes do salão, recebi menção honrosa, fui premiado e, agora, abro a minha exposição individual por lá. Que venha muito mais”, expressa.
O bordado como reflexão Os trabalhos expostos são fruto dos questionamentos do artista Julian Campos sobre a tradição do bordado e seu lugar na Arte Contemporânea, fomentando reflexões sobre temas como trabalho e gênero. Segundo ele, o contato com o bordado veio de forma natural, em meio ao seu processo de formação artística. “Eu não recebi de outras gerações este contato com o bordado, como é comum acontecer, de ser quase que um rito de passagem dentro de uma família. Sempre tive um trabalho com o desenho, muito baseado em linhas, e com isso acabei chegando à técnica do bordado, com toda sua poética e seu tempo dilatado de produção, ponto a ponto, no fazer artístico”, relata.
Para a pesquisadora e professora associada da Universidade de São Paulo, Ana Paula Cavalcanti Simioni, que assina o texto crítico da mostra, “Julian questiona as divisões e hierarquias entre arte e artesanato; entre manualidade e técnica; entre objeto e performance. Como um homem artista e que faz uso do bordado, problematiza a distinção entre práticas vistas como masculinas e aquelas associadas à feminilidade. Avesso a essas categorias estanques, [o artista] nos convida ainda a olhar de modo generoso para os objetos presentes no mundo. Eles materializam saberes e tradições que estão sendo perdidos”.
A diretora de Divisão de Artes Visuais do Palácios das Artes, Maria Fernanda Capelli Zanin Zanluqui, destaca que o espaço cultural reconhece a relevância de trazer exposições que exploram técnicas como o bordado, não apenas como forma de expressão artística, mas também como uma ferramenta de conexão social e cultural. “O bordado, historicamente ligado às tradições e ao cotidiano, se torna uma ponte entre o passado e o presente, resgatando memórias coletivas e individuais. Ao trazer esse tipo de exposição, o Palácio das Artes busca criar um espaço onde as pessoas possam se identificar, refletir sobre suas próprias histórias e se reconectar com suas raízes culturais”, analisa a gestora.
“Avesso do Avesso” conta com apoio da Prefeitura Municipal da Praia Grande, tem texto crítico da incrível Ana Paula Cavalcalti Simioni (@anapaulacsimioni). A produção é de Fabiola Notari (@bionotari) e Coletivo EMERGIR *(@emergir.leituras) e assessoria de imprensa da Verbo Nostro Comunicação Planejada (@verbonostro). O projeto conta com o apoio das parceiras de vida do Coletivo EMERGIR (@emergir.leituras), Núcleo de Livros de Artistas (@nucleolivrosdeartista) e Gravurar (@gravurar).
Sobre o artista Julian Campos é artista visual, ilustrador e produtor cultural. Graduado em Comunicação Social pela Universidade Santa Cecília de Santos, realiza trabalhos em diversas técnicas que prezam o fazer manual, como gravura, bordado, cerâmica e colagem, tendo o desenho como assunto e linguagem artística sempre presente em sua produção. É artista colaborador do Núcleo de Livros de Artista, da Casa Contemporânea, em São Paulo/SP, onde coordena o Grupo de pesquisa e produção em Bordado Livre e seus diversos suportes –
Entre Pontos. Ministra cursos e oficinas em espaços culturais como unidades do SESC, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Oficinas Culturais do Estado de São Paulo. Tem participado de exposições, mostras e salões de artes no Brasil e no exterior com sua produção voltada à linguagem gráfica – gravura, desenho, bordado e livro de artista.
SERVIÇO
O que: Exposição “Avesso do Avesso”, de Julian Campos Quando: De 22 de agosto a 5 de outubro de 2024
Onde: Palácio das Artes - avenida Presidente Costa e Silva, 1600, Boqueirão, Praia Grande.
Horários: Terça a sexta-feira – das 14h às 17h
Sábado – das 14h às 19h
Informações: (13) 3496-5719
Fotos: Bete Nagô
