28/04/2022 às 22h19min - Atualizada em 28/04/2022 às 22h19min

​Dia do Trabalho Jornalístico

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

Em 1933, Gareth Jones (James Norton) após entrevistar Hitler vai à terra das fake news, determinado a entrevistar Stalin. Em Moscou, o jornalista participa de uma festa cheia de prostitutas, drogas e bebidas à vontade. O anfitrião é Walter Duranty (Peter Sarsgaard), um notório correspondente internacional do New York Times que ganhou o Pulitzer contando mentiras sobre a Grande Fome na Ucrânia (Holodomor). Até hoje, o prêmio não foi revogado. Gareth Jones, assassinado em 1935, foi o primeiro jornalista que revelou ao mundo o Holocausto Comunista, copiado por Hitler em 1941. A aliança entre os dois genocidas, eleitos pela revista Time personalidades do ano em 1938 e 1939, foi fundamental para o estouro da Segunda Guerra Mundial em 1 de setembro de 1939, de acordo com o documentário disponível gratuitamente no YouTube, The Soviet Story — Socialismo: por que matar é essencial? A terrível experiência do galês ao ver centenas de corpos esqueléticos mortos por inanição pode ser conferida no livro escrito pela sobrinha dele, Margaret Siriol Colley: More Than a Grain of Truth, adaptado para o cinema pela diretora Agnieszka Holland, cuja nação foi invadida em 1939, tanto por nazistas quanto por comunistas. A Sombra de Stalin (2019) ou Mr Jones no original e O Preço da Verdade em ucraniano está disponível na Netflix. A polonesa era assistente de direção do falecido Andrzej Wajda que denunciou o massacre de 22 mil compatriotas pelos soviéticos em seu filme Katyn. Mr Jones foi o fazendeiro inspirado no Czar Nicolau II, cuja fazenda foi tomada pelos animais, liderados pelo porco chamado Major, uma mistura de Karl Marx e Lênin. Após a sua morte, os porcos letrados, Napoleão (Joseph Stalin) e Bola de Neve (Leon Trótski) doutrinam o proletariado analfabeto com o intuito de edificar obras faraônicas, fazendo-os trabalhar como burros de carga, muito mais do que antes da Revolução dos Bichos. Logo na primeira oportunidade, Napoleão expulsa Bola de Neve da Fazenda dos Bichos e se alia ao dono da granja vizinha, o Sr Frederick  (Adolf Hitler). No final, observamos um confuso Teatro das Tesouras, na BP Select, sendo impossível distinguir humanos de animais. Dependendo do ponto de vista, as lâminas de uma tesoura parecem um objeto único, em vez de estarem interligadas uma na outra. George Orwell ficou desiludido ao ver os comunistas bombardearem os aliados anarquistas na Guerra Civil Espanhola, após conhecer Gareth Jones que o informou sobre a fome na Ucrânia, o celeiro da Europa. “As classes e as raças muito fracas para enfrentar as novas condições da vida devem retirar-se. Elas devem perecer no holocausto revolucionário” (Karl Marx). 
Em 1951, pouco antes da televisão se tornar um aparelho popular de consumo, o jornalista Chuck Tatum (Kirk Douglas) após ter sido despedido de onze jornais de onze formas diferentes tentou de novo. O alcoólatra logo na recepção se incomoda com a frase: “diga a verdade”, mas é contratado para cobrir um evento banal, semelhante ao Dia da Marmota. Chegando lá, o mau-caráter transforma o acidente com um arqueólogo num carnaval que impulsiona o comércio daquela cidadezinha no oeste do Novo México, manipulando os habitantes ingênuos com sua retórica envolvente. O circo midiático montado em A Montanha dos Sete Abutres se conecta ao Crepúsculo dos Deuses, outro filme noir dirigido por Billy Wilder. 
Dois anos depois, Boa Noite e Boa Sorte (2005), retrata a história verídica dos embates políticos entre o senador Joseph McCarthy e o jornalista Edward R. Murrow (David Strathairn) no programa See It Now, durante o período chamado de “caça às bruxas comunistas”, cuja parcialidade evidente do entrevistador deixou o chefão da CBS, William Paley (Frank Langella) furioso. Curiosamente, Langella interpretou Gabriel na aclamada série The Americans. O agente da KGB, admitido na mesma época, orientou o casal de espiões Philip e Elizabeth. Os integrantes da família Jennings se infiltraram nos EUA em 1960 até o fim da URSS. Ocorre que no filme noir dirigido por George Clooney, disponível no MUBI, a grande maioria dos formadores de opinião eram simpáticos as ideias marxistas, sendo quase impossível diferenciar um espião de um simpatizante da causa socialista, já que a Fox News, a única rede de televisão declarada abertamente de direita, foi fundada apenas em 1996. 
O excêntrico diretor Wes Anderson, de O Fantástico Sr. Raposo, Moonrise Kingdom e Ilha dos Cachorros, em seu novo trabalho, confessa todo seu amor pelo jornalismo tradicional que morreu há pelo menos 60 anos. Do tempo em que o jornalista investigativo se concentrava horas a fio apenas numa matéria, datilografada em sua saudosa máquina de escrever, de forma clara e objetiva, sem deturpação dos fatos. O elenco conta com dezenas de artistas de peso, incluindo Benicio del Toro, Adrien Brody, Tilda Swinton, Léa Seydoux, Frances McDormand, Timothée Chalamet, Bill Murray, Owen Wilson, Edward Norton, Willem Dafoe e Saoirse Ronan. A Crônica Francesa (2021), inspirada na revista semanal The New Yorker, aborda três histórias ambientadas nos anos 1960. Na primeira, um artista preso num manicômio pinta o retrato nú de uma sedutora agente penitenciária. Na segunda, os protestos em Maio de 68 transformam-se na Revolução do Tabuleiro de Damas, enquanto na terceira, o sequestro do filho do comissário de polícia termina em desenho animado de forma surpreendente.
Em 1973, um estudante superdotado de apenas 15 anos é contratado pela revista Rolling Stone, a fim de acompanhar a banda Stillwater na sua primeira turnê pelos EUA. Ocorre que a aventura vai além do esperado, deixando a mãe coruja furiosa. A convivência excessiva de William Miller (Patrick Fugit) com os integrantes da banda e a tiete Penny Lane (Kate Hudson) acaba revelando verdades inconvenientes, difíceis de ignorar para um jornalista sincero como ele. O roteiro foi baseado nas turnês das bandas Poco, The Allman Brothers Band, Led Zeppelin, Eagles e Lynyrd Skynyrd. Quase Famosos é um tributo autobiográfico ao rock'n'roll, pois o diretor Cameron Crowe na adolescência também foi redator da Rolling Stone.

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