07/04/2022 às 21h59min - Atualizada em 07/04/2022 às 21h59min

​Retomada de voos ao exterior de Congonhas aumenta risco de acidentes

Apesar do  governo federal investir R$ 222 milhões do Fundo Nacional da Aviação Civil (Fnac), o que representa muito pouco na aquisição de novos equipamentos, e renovação de estruturas para o aumento da segurança operacional do terminal aéreo, a retomada dos voos da aviação geral ao exterior ainda é temida pelos milhares de moradores que ladeiam Congonhas. Todos relembram os últimos acidentes fatais que mataram dezenas de pessoas e acreditam que deveria haver a redução de voos e nunca o aumento, ainda mais com aviões de grande porte.

Melhorias e perigos
O Ministério da Infraestrutura e da Infraero, realizou a aplicação da tecnologia EMAS (Engineered Material Arresting System) na cabeceira da pista 17R do terminal da capital paulista, que consiste na instalação de blocos de concreto que se deformam quando uma aeronave ultrapassa o limite da pista, fazendo com que o avião desacelere. Especialistas em tráfego aéreo informam que a melhoria é insuficiente para a abertura de voos internacionais, pois o local do aeroporto e seu tamanho reduzido não oferecem a segurança adequada e que novos acidentes poderão acontecer.

Mudanças da ANAC e DECEA prejudicaram moradores
A ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil como a DECEA- Departamento de Controle do Espaço Aéreo, desde que alteraram há alguns anos o pouso e decolagens de Congonhas, e as rotas de entrada e saída de aeronaves, os moradores da região oeste e sul, principalmente de Santo Amaro, Moema, Morumbi, Butantã, Pinheiros e Osasco, além da Serra da Cantareira, foram altamente prejudicados. Os aviões agora tem um aumento fora de controle e acima do permitido do barulho das turbinas, que antes eram totalmente ligadas em áreas desabitadas na Serra do Mar e outros locais. O motivo alegado na época, foi ‘economia’ de trecho e ‘normas internacionais’, que nunca foram totalmente explicadas.

Reuniões com os moradores
A Infraero está organizando, pela primeira vez, reuniões com representantes da sociedade civil para discutir os barulhos gerados por aviões que pousam e decolam do Aeroporto de Congonhas. A Comissão de Gerenciamento do Ruído Aeronáutico (CGRA) já realizou dois encontros sobre o tema (um em outubro, outro em novembro), ouvindo representantes de bairros como Moema, Vila Nova Conceição, Vila Mariana, Jardim Lusitânia, Jardins e Alto dos Pinheiros (SAAP). Integrantes da Prefeitura e de órgãos federais também têm participado.
As discussões são eminentemente técnicas. “É um tema complexo. O aeroporto certamente é mais movimentado hoje do que era décadas atrás. Mas, quando ele foi criado, a região do entorno era um grande descampado: praticamente não havia casas e prédios”, pondera a presidente da SAAP, Márcia Kalvon Woods, que compareceu às reuniões.
Em alguns locais, as queixas sobre ruídos excessivos estão se intensificando. Nos encontros da comissão, argumenta-se que dois fatores influenciaram: 1) as pessoas se desacostumaram a ouvir o barulho dos aviões durante a pandemia, com a redução drástica dos voos, então ficam mais incomodadas agora, quando a atividade começa a voltar ao normal; 2) há mais gente trabalhando de casa, o que as faz notar com maior frequência o zunido das aeronaves.
Seja como for, há possibilidade de o problema se agravar nos próximos anos, com a concessão de Congonhas para a iniciativa privada e a reabertura precoce de voos internacionais. Os estudos de viabilidade, para preparação da privatização, preveem uma elevação da capacidade do aeroporto para 35 milhões de passageiros por ano – em 2019, foram 22 milhões.
Os debates deixaram claro que o ruído aeronáutico precisa ser abordado sob diferentes prismas, que envolvem desde melhorias nos motores dos aviões até manobras e rotas para pouso e decolagem – passando ainda por restrições de horário de funcionamento, gestão do uso do solo no entorno dos aeroportos e ajustes em janelas dos imóveis.
A SAAP-Associação do Amigos do Alto de Pinheiros e a Gazeta de Pinheiros-Grupo 1 de Jornais vão continuar a acompanhar as discussões, ouvindo os moradores que estão prejuciados com alterações aleatórias da ANAC e DECEA.

Rumo ao exterior
A infraestrutura para permitir a operação internacional da aviação geral executiva em Congonhas foram suspensas desde a década de 1980. Os valores de R$ 2,5 milhões em investimentos, foram ínfimos para o terminal internacional da aviação executiva. Basta comparar com os grandes aeroportos do exterior, que a cada dia fazem suas instalações fora da área urbana, com acesso por metrô, trens, auto estradas etc. 
“Congonhas se destaca pelas condições de acesso e agora oferece um serviço à altura das necessidades do setor empresarial e também das viagens de turismo a outros países”, acrescenta o superintendente da Infraero no aeroporto, Carlos Haroldo Novak. As declarações não falam dos acidentes fatais, problemas insolúveis no piso das pistas, da irresponsabilidade de alterações de rotas da ANAC e DECEA, sem aviso ou discussões com as autoridades municipais e a comunidade e o mais importante: barulho além do permitido para os moradores.

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