20/01/2022 às 22h40min - Atualizada em 20/01/2022 às 22h40min

Simulação, controle e manipulação da verdade

Rogério Candotti | [email protected] | blogdorogerinho.wordpress.com

O filme mais assistido da Netflix parte de uma premissa exata que agradou gregos e troianos, gerando discussões subjetivas e antagônicas que ainda viralizam nas redes sociais. Em Não Olhe Para Cima os cientistas Kate e Randall descobrem um asteroide gigantesco na rota de colisão com a Terra e que pode extinguir a raça humana em aproximadamente seis meses caso atinja o alvo em cheio. Ao invés de lucrar com a catástrofe global a grande mídia supérflua, liderada pela apresentadora Brie Evantee (Cate Blanchett), faz chacota da revelação apresentada por Randall (Leonardo DiCaprio), apesar do cálculo matemático de Kate (Jennifer Lawrence) estar 99,76% correto. Essa tarefa coube ao dono da maior empresa de celulares do planeta Peter Isherwell (Mark Rylance) que com o consentimento da presidente incompetente, Janie Orlean (Meryl Streep), decide subtamente extrair sem sucesso o material valioso do asteroide em vez de destruí-lo por completo, ao estilo do filme Armagedon. Em campanha política no momento, a presidente hippie lembra a atual vice-presidente Kamala Harris, enquanto o filho dela Jason (Jonah Hill) lembra o filho do presidente Joe Biden, Hunter, acusado de se envolver com uma empresa corrupta da Ucrânia. Janie distrai os eleitores com informações falsas ou divergentes, até o asteroide ficar visível a olho nu. Mesmo assim, existe uma parcela alienada da sociedade que se recusa a erguer a cabeça de modo encarar a realidade, além dos famosos “isentões”. Felizmente, um grupo esclarecido se opõe corajosamente ao establishment, incluindo as grandes corporações que dominam o mercado capitalista.    
O maior exemplo de realidade contra simulação é o da franquia Matrix, apresentando um novo capítulo descartável, mas que vale a pena, graças a atuação do “arquiteto Barney” (Neil Patrick Harris) travestido de psicólogo, cuja missão é impedir o casal Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) de cair na real novamente. A simulação neurointerativa foi baseada no Mito da Caverna, alegoria que separa o mundo físico do mundo espiritual. No prelúdio animado The Animatrix, disponível na HBO Max, as máquinas escravizaram a população mundial num programa de computador que reproduz digitalmente as projeções mentais dos seres humanos que hibernam dentro de casulos. As primeiras versões computadorizadas, baseadas no Jardim do Éden ou Jardim de Delícias falharam ao tentar copiar o paraíso bíblico igualitário, auto sustentável e isento de livre-arbítrio, sem exigir nenhum esforço físico dos moradores para obter o próprio sustento. Os primeiros “Escolhidos”, a exemplo dos profetas do Velho Testamento também falharam, a exceção do Novo Adão, Neo, “batizado” por Morpheu (Laurence Fishburne) que recebeu as “chaves” da musa do Hades, Perséfone (Monica Bellucci), cuja missão foi conduzir os esclarecidos que optaram pela pílula azul ao invés da vermelha até a Terra Prometida, Zion. A exceção de Cypher (Joe Pantoliano), cansado de combater lulas gigantes. O traidor ciente da sua ignorância não resistiu ao conforto ilusório oferecido pelo “sumo sacerdote”, o Agente Smith (Hugo Weaving). 
Na onda de Matrix na HBO Max estreou outra distopia em 2002 pouco conhecida, mas que garantiu o papel de Batman à Christian Bale em 2005 e a fama dos personagens interpretados por Sean Bean morrerem rápido demais. Equilibrium mistura 1984 e Fahrenheit 451, a exemplo da ditadura do politicamente correto que determina o que se fala, pensa, e a maneira como devemos agir. Uma sociedade homogênea sustentada por drogas diárias, inspiradas no comprimido soma em Admirável Mundo Novo. Além disso, os habitantes perestroikianos são proibidos de ter emoções ou opiniões contrárias ao governo, vivendo entre cores frias sem ter acesso à cultura clássica ou qualquer representação de beleza e de bondade. Isso até o braço direito do ditador, John Preston (Bale) se rebelar subitamente contra aquele sistema opressor de controle social.
Na nova série da Disney Plus, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) ainda não se conformou com a morte da Viúva Negra, mas está aliviado por ter sua família de volta após o Blip. O Vingador amargurado terá de ajudar a futura parceira, Kate Bishop (Hailee Steinfeld), estabelecida nos quadrinhos desde 2006, a escapar da Gangue do Agasalho enquanto exorciza fantasmas do passado, época em que vestia o manto do Ronin durante o Blip. Um peão assassino que vivia sob o jugo do Rei do Crime, Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) ao lado da mãe de Kate, Eleanor (Vera Farmiga) e da vingativa Maya Lopez (Alaqua Cox) que vai ganhar também uma série própria. Yelena Belova (Florence Pugh) volta a roubar a cena, determinada a vingar a morte da irmã, Natasha Romanoff, ainda confusa e sob forte emoção. O melhor vilão da Marvel, principalmente na terceira temporada da excelente série da Netflix, Marvel - Demolidor, baseada no clássico dos quadrinhos A Queda de Murdock, é tão cruel quanto a política do cancelamento. Assim como Fisk, esse pequeno grupo organizado domina desde 2011 o cenário político mundial e a cultura pop, capaz de destruir a fonte de renda e a família daqueles que discordam das suas diretrizes totalitárias. O Espantalho na terceira temporada da série, Titãs, na Netflix, segue o mesmo caminho do sociopata mafioso, ao contaminar a água potável na cidade de Gotham com seu gás alucinógeno e ainda colocar a culpa nos Titãs, inflamando a população contra os heróis. "Acuse-os do que você faz, chame-os do que você é" (Lênin). Destaque ao lindo cenário umbralino em preto e branco no capítulo 9, Almas, que lembra o episódio 5, A Grama Alta, da série Love, Death & Robots Vol. 2. Deus oferece inúmeras oportunidades aos passageiros fora dos trilhos que precisam captar o sinal divino a fim de voltar aos trilhos novamente.
A partir da última década, tornou-se expressamente proibido pronunciar expressões em público que violassem o estatuto da moralidade verbal. O sexo convencional para fins reprodutivos foi considerado profano de uma hora para outra e a polícia desarmada ficou proibida de usar violência contra as vítimas da sociedade, enquanto o cidadão de bem se esconde no submundo, vivendo como um pária, a fim de continuar livre, afastado dos burocratas. Esta é a sinopse do longa-metragem futurista O Demolidor na HBO Max, protagonizado por Sylvester Stallone, Wesley Snipes e Sandra Bullock, que estreou em 1993, mas permanece extremamente atual. Em San Angeles até a comida era controlada pelo politicamente correto entre 2011 e 2032, até o terrorista Simon Phoenix (Snipes) perder a cabeça, literalmente.

Não Olhe para Cima (2021) - Nota: 4,5 
Matrix Resurrections (2021) - Nota: 1,5 
Equilibrium (2002) - Nota: 4,0 
Gavião Arqueiro (2021) - Nota: 3,5 
Marvel - Demolidor (2015–2018) - Nota: 4,0 
Demolidor: O Homem Sem Medo – Versão do Diretor (2003) - Nota: 3,5 
O Demolidor (1993) - Nota: 4,0 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://gazetadepinheiros.com.br/.