30/09/2021 às 22h01min - Atualizada em 01/10/2021 às 19h06min

Zé Paulo eternizado no Morumbi. Rua Radiantes agora homenageia jornalista José Paulo de Andrade

5 horas e 40 minutos. Escrevo esse texto pouco antes das 6 horas da manhã, como fazia há muito tempo. Naquela época, era um olho na lauda e outro no relógio, e como esse bendito passava rápido, meu Deus.  Em poucos minutos o Zé Paulo entraria no estúdio para apresentar o ‘Pulo do Gato’ e tudo tinha que estar pronto. A famosa “pasta do Pulo”, com as manchetes do dia, com as notícias separadas pra ele, com os recados da equipe, com as “bocas no trombone”,  enfim, tudo ficava ali. Trabalho de uma madrugada inteira terminado, eu deixava tudo arrumadinho ao lado do microfone que ele ocuparia em instantes e o aguardava ao lado do operador técnico. Ele chegava sempre faltando pouquíssimos minutos para o programa entrar no ar. Não precisava de ensaio, de leitura prévia ou de combinações anteriores. Ele se sentava calmamente, e ainda meio sério perguntava se os repórteres já estavam prontos para as manchetes ao vivo. A luz “NO AR” acendia e com aquele vozeirão dava bom dia para São Paulo, que o aguardava. Esse ritual era meio mágico pra mim. Era uma estudante e tinha apenas 18 anos quando entrei na Rádio Bandeirantes, mas já  ouvia o Zé Paulo desde criança, porque a primeira coisa que a minha mãe fazia ao acordar era ligar o rádio no Pulo do Gato. “Acorda São Paulo, do seu sono justo, é hora do Pulo do Gato”.... Aquele miado do programa era o sinal de que eu tinha que levantar da cama e ir pra escola. Então dá para imaginar o que significou ser contratada por ele, anos depois. Digo, sem medo de errar, que sem ele não seria o que sou. Todo profissional tem alguém que no seu começo de carreira foi decisivo, que mudou o jogo, que fez a diferença. No meu caso foi ele. E sei que o incentivo a novos profissionais não aconteceu só comigo. Ele gostava de identificar talentos, de orientar, de acolher, de abrigar e brigar também, claro. É isso. O Zé era um paizão pra gente. Como me lembrou uma amiga, o Zé Paulo era intenso, um apaixonado por tudo que fazia. Apaixonado pelo rádio, pela cidade de São Paulo,  obstinado na defesa do ouvinte, na prestação de serviço, na cobrança muitas vezes ácida das autoridades. O estilo do Zé Paulo era inconfundível. Jornalista de opinião forte e homem de incrível memória, debatia com seus repórteres como se estivesse num ringue de ideias. E olha, os rounds eram de tremer o chão.... mas mesmo que ele vencesse a luta por nocaute, imediatamente abraçava o oponente num ato de absoluto respeito: ele podia discordar, mas permitia que as pessoas fossem os que elas eram. Eu adorava aquele ambiente proporcionado por ele. Me sentia em casa. Permaneci na Rádio Bandeirantes por 15 anos e depois me transferi para a Band, onde fiquei por mais 17 anos, dirigindo a comunicação corporativa da emissora. Sempre que cruzava com o Zé Paulo nos corredores da empresa era um momento de alegria, de carinho, de encontro mesmo. A relação do Zé Paulo com a cidade era muito estreita. E ele era uma pessoa que valorizava a memória. Por isso foi maravilhoso ver a rua Radiantes, endereço icônico do Grupo Bandeirantes no Morumbi, tantas vezes pronunciado por ele,  se transformar em “Rua Radiantes – jornalista José Paulo de Andrade”. O Zé está eternizado na cidade que ele ajudou a ser eterna. *Eliane Leme é jornalista e foi editora do ‘Pulo do Gato’ durante 15 anos.


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