26/08/2021 às 23h36min - Atualizada em 26/08/2021 às 23h37min

A história dos Jogos Paralímpicos

Os Jogos Paralímpicos começaram em 24 de agosto no Sportv 2, e o Brasil aparece como um dos favoritos para a conquista de medalhas. O tema da Cerimônia de Abertura foi a aviação e o vento, em homenagem à animação do Studio Ghibli: Vidas ao Vento, condizente com o lema dos jogos: “Espírito em movimento” que desde a Gênesis bíblica pairava sobre a face das águas. O documentário da Netflix, Rising Phoenix, contou com a participação de nove atletas, dois membros do Comitê Paralímpico Internacional e a filha do criador dos jogos, Ludwig Guttmann, fazendo uma retrospectiva desde a primeira competição entre mutilados que serviram o Exército britânico no campo de batalha até a Rio 2016. Em 1936, ano da Olimpíada de Berlim, Guttmann era um dos melhores neurocirurgiões da Alemanha. Olympia – Partes 1 e 2, retrata a olimpíada do algoz de Hitler, Jesse Owens, vice-atleta do século passado, atrás de Pelé, com destaque aos corpos perfeitos em close, a exemplo dos deuses e dos atletas nus nos primeiros jogos da Grécia Antiga. Leni Riefenstah também dirigiu outro documentário de propaganda nazista quatro anos antes. O Triunfo da Vontade ilustra a ascensão do Partido Nacional Socialista sob olhares extasiados de milhares de proletários do campo que aplaudiam de cabeça erguida, sem raciocinar o conteúdo totalitário no discurso do Führer. Já Ludwig Guttmann, nasceu em uma família judia-ortodoxa, no município de Tost, Silésia (hoje Toszek, Polônia). Aos 17 anos começou a trabalhar como voluntário no Hospital de Acidentes de Konigshutte, onde manteve o primeiro contato com um paciente com paraplegia por lesão da medula espinhal. Com a chegada dos nazistas ao poder, o então diretor do Hospital de Breslau ficou impedido de exercer sua profissão plenamente, atendendo apenas a judeus. Em dezembro de 1938, o ministro alemão de Relações Exteriores, Von Ribbentrop, ordenou ao médico judeu ir a Lisboa para tratar de um amigo do ditador António Salazar. Em sua viagem de volta, recebeu autorização para passar dois dias na Inglaterra, e como já estava em contato com a Sociedade Britânica para a Defesa da Ciência e da Aprendizagem recebeu uma bolsa como refugiado e ficou por lá com a esposa e os dois filhos. Em setembro de 1943, o pai de Eva Loeffler, uma das depoentes do documentário da Netflix, reinicia suas pesquisas sobre lesões da medula espinhal no Centro Nacional de Lesões da Coluna do Hospital Stoke Mandeville, em Buckinghamshire. Como diretor dessa instituição especializada, que acolheu muitos mutilados de guerra e jovens com paralisias, o fundador do Movimento Paralímpico constatou que essas pessoas estavam condenadas a viver presas à cama ou a aparelhos que as impediam de se locomover, sujeitas a sofrer infecções ou a entrar em depressão profunda. De modo a reverter esse quadro macabro que matava 18% dos pacientes, o Pai do Paradesporto, motivou a sua equipe a utilizar a fisioterapia como tratamento médico, incluindo um treinador contratado para estimular os exercícios dos membros superiores, inicialmente com arremesso de bolas, a fim de melhorar a resistência física e a autoestima. Um caso que ganhou repercussão na época foi o de um veterano da 1ª Guerra Mundial, que depois de ter passado 26 anos acamado, em seis meses voltou a andar com o auxílio de bengalas. Em 28 de julho de 1948, um dia antes das primeiras olimpíadas após o recesso de 12 anos, gerado pela Segunda Guerra Mundial, o médico alemão organizou uma competição a apenas 56 quilômetros dos Jogos Olímpicos de Londres, entre 14 homens e duas mulheres, no qual chamou de Jogos Paraplégicos, com modalidades de arco e flecha e basquetebol em cadeiras de rodas. Em 1949, a competição foi ampliada para 37 atletas de seis hospitais. Em 1951 os jogos já incluíram quatro esportes e 126 participantes de 11 hospitais de todo o Reino Unido. A primeira edição com participação internacional foi a de 1952, quando houve uma representação do hospital de veteranos de Aardenburg (Países Baixos). Três anos depois, em 1959, os jogos tinham crescido para 360 competidores de 20 países, e um ano depois, em 1960, os então denominados Jogos Internacionais de Stoke Mandeville foram realizados de forma oficial em Roma, junto com a Olimpíada, por isso são considerados os primeiros Jogos Paralímpicos da história, embora o termo só tenha sido adotado em 1984. Pela primeira vez fora da Inglaterra, cerca de 400 atletas vindos de 23 países competiram na capital da Itália em oito esportes, seis dos quais ainda hoje fazem parte da programação: tênis de mesa, arco e flecha, basquetebol, natação, esgrima e atletismo. Quatro anos mais tarde, a competição paralímpica na Cidade do México foi transferida para Tel Aviv, em Israel, por falta de acessibilidade. A exemplo das Paralimpíadas de Munique em 1972, sediadas na Universidade de Heidelberg, uma cidade independente alemã no estado de Baden-Württemberg. Diferente da antiga União Soviética em 1980 que se recusou a sediá-los, negando a existência de qualquer "inválido" por lá. No entanto, em Londres 2013, a Rússia ficou em segundo lugar no quadro de medalhas, mas no Rio, cujo evento quase foi cancelado pela falta de dinheiro, a delegação olímpica e paralímpica da Rússia foi banida até 16 de dezembro de 2022, envolvida no maior escândalo de doping da história. Ao contrário da paralimpíada chinesa de 2008 que serviu de estímulo para acabar de vez com a segregação existente no país comunista, tornando-se atualmente a maior potência paralímpica, muito à frente da Grã-Bretanha e dos EUA. O documentário Rising Phoenix, mencionado na Festa de Encerramento da Olimpíada de Tokyo, conta a trajetória de nove atletas, alguns com má formação congênita, outros sofreram algum acidente ou foram vítimas de alguma doença ao longo da vida. Ao contrário das olimpíadas, não existem dois corpos iguais entre os paratletas, conclui Tatyana McFadden, detentora de 17 medalhas no atletismo, dos 100 metros a maratona, além de uma medalha de prata no esqui cross-country nos Jogos de Inverno em 2014, na Rússia, o seu país natal. Porém, o depoimento do saltador em distância, naturalizado francês, Jean-Baptiste Alaize, foi o mais surpreendente por ter testemunhado o assassinato da própria mãe e a amputação da sua perna direita aos três anos de idade, durante o conflito armado no Burundi em 1994, provocado pelos hutus que queriam exterminar as famílias tutsis reprodutivas: "Eles me deram um golpe de facão nas costas, no braço e na perna e me deixaram ali para morrer, mas eu sobrevivi." Depois de alguns anos em um orfanato, o garoto com deficiência física foi adotado por uma família francesa e se mudou para Montelimar, na França, em 1998. O título em português: Pódio para Todos, homenageia o documentário brasileiro de 2016, Paratodos, com destaque ao campeão paralímpico de 2013, Alan Fonteles que superou o mito Oscar Pistorius nos 200 metros rasos. Destaque também à sua colega de baixa-visão, Terezinha Guilhermina, campeã nos 100 e 200 metros em Londres, ao multicampeão de canoagem, o ex-BBB, Fernando Fernandes e o seu colega hilário, Cowboy Ruffino. Principalmente ao maior atleta paralímpico da história, o nadador Daniel Dias e a emocionante disputa entre os atletas cegos do Brasil contra a Argentina no Mundial de Futebol Masculino de Cinco, em 2014.


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