30/04/2021 às 00h04min - Atualizada em 05/05/2021 às 09h15min

Jornalistas, aristocratas rurais, no espaço sideral ou mergulhadas no microcosmo imponderável, fazem história no Dia do Trabalho

O longa da Netflix, Radioactive, dirigido por Marjane Satrapi, de Persépolis, homenageia a maior cientista do século 20. Maria Salomea Skłodowska nasceu em Varsóvia no dia 7 de novembro de 1867, capital que pertencia ao Império Russo. Até hoje, a intrépida pesquisadora foi a única mulher a ganhar dois Prêmios Nobel em categorias científicas distintas - Física e Química - ao descobrir dois novos elementos imponderáveis da tabela periódica: o Rádio e o Polônio (em homenagem à sua terra natal), cuja pesquisa é detalhada com esmero no longa indicado ao Oscar: Madame Curie de 1943. A polonesa agnóstica que sofreu muitos preconceitos anti-semitas, cunhou o termo radioatividade ao provar ser possível eliminar a radiação armazenada nos átomos. Por conseguinte, a invenção do Raio X salvou milhares de vidas na Primeira Guerra Mundial, somado a poderosos tratamentos futuros contra o câncer, incluindo a radioterapia, curieterapia e a quimioterapia, enquanto a bomba atômica e o desastre em Chernobyl ceifou milhares de vidas. Após a morte do marido, Pierre Curie (Sam Riley), a contemporânea de Allan Kardec se rende ao Espiritismo, feliz em dividir esse fardo com os amigos espirituais, dedicando-se a partir daí ao estudo mediúnico de efeitos físicos no Instituto de Metapsíquica de Paris. Ao lado da famosa médium Eusápia Palladino, Marie Curie (Rosamund Pike) supôs que os segredos da radioatividade poderiam ser revelados por meio de uma fonte de energia espiritual, quintessenciada. A amiga pessoal de Albert Einstein faleceu em 4 de julho de 1934, vítima de uma leucemia em decorrência de toda a exposição à radiação a que foi submetida ao longo da vida. Contudo, o legado da química do imponderável permaneceu nas mãos da filha mais velha, Irene (Anya Taylor-Joy) e do marido dela, Frédéric, vencedores do Prêmio Nobel de Química em 1935 pela descoberta da Radioatividade Artificial. Ao contrário da aclamada Marie Curie, o explorador inglório Basil Brown (Ralph Fiennes) foi reconhecido apenas recentemente por ter descoberto o Tesouro de Sutton Hoo, apelidado de Tutancâmon britânico. No entanto, a maior descoberta arqueológica do século 20, abocanhada na primeira oportunidade pelo Museu Britânico de Ipswich, que sobreviveu à Segunda Guerra, ficou em segundo plano no longa contemplativo da Netflix. O diretor Simon Stone preferiu acertadamente dar um tom mitológico aos inestimáveis artefatos anglos-saxões, eternizando-os também nos sonhos estelares do pequeno Robert (Archie Barnes), filho da viúva moribunda Edith Pretty (Carey Mulligan), ao invés de optar pelo puro materialismo superficial escravo do tempo que a traça e a ferrugem corroem. Afinal, graças à arqueologia é que a história pode ser contada, documentada e escrita, a partir da descoberta dos primeiros hieróglifos escritos em pintura rupestre. Durante “A Escavação”, em 1939, na propriedade particular em Suffolk, a aristocracia pôde conviver apaixonadamente com a classe trabalhadora, representada pelo empregado autodidata, Basil e a viúva abastada que é tia do autor do romance homônimo de 2007, John Preston. Lá, à espera angustiante da inevitável grande guerra, a deslocada jovem Peggy Piggott (Lily James), infeliz no seu casamento, “cai de paraquedas no colo” de um garoto convocado pelas tropas aliadas e larga tudo em nome da ardente paixão repentina, a fim de constituir família. A primeira série original da Apple TV + indicada ao Globo de Ouro, retrata com perfeição os bastidores de um programa popular de notícias dos EUA, homônimo ao da Jovem Pan. Apesar do ambiente tóxico rotineiro, cheio de intrigas, fuxicos, namoros e traições, como em qualquer redação jornalística que envolve dinheiro e poder, há espaço para amizades verdadeiras, além de calorosos happy hour fraternais. Em The Morning Show os personagens são bem desenvolvidos e suas funções e motivações muito bem explicadas, sem o habitual maniqueísmo. Como diz a sábia expressão: Amigos, amigos, negócios à parte. Na trama, após o descolado ancora veterano Mitch Kessler (Steve Carell) ser demitido em razão de uma denúncia covarde de assédio sexual pela imprensa rival, é contratado em seu lugar a genuína repórter inexperiente, sem papas na língua, em busca da verdade acima de tudo, Bradley Jackson (Reese Witherspoon). O problema é que seus comentários diretos e justos vão de encontro às pautas progressistas que elevam a audiência do programa há anos, como por exemplo o trabalho hercúleo dos bombeiros em um incêndio na Califórnia proposto por ela, contra uma matéria fofa sobre cachorrinhos ansiosos para serem adotados. Nesse sentido, a orgulhosa apresentadora  Alex Levy (Jennifer Aniston) fará de tudo para eliminar a rival, a fim de manter o glorioso emprego estressante, sustentado há décadas às custas de um casamento infeliz fora das câmeras pela mãe desnaturada. Passageiro Acidental, dirigido contemplativamente bem pelo cineasta brasileiro Joe Penna, remete ao terror clássico do Alien original de 79, Vida, Gravidade e Perdido em Marte, acompanhando a jornada de 3 passageiros em uma missão de 2 anos em Marte. Entre eles: a experiente capitã Marina Barnett (Toni Collette), a dedicada médica Zoe Levenson (Anna Kendrick) e o competente biólogo inseguro, David Kim (Daniel Kim). Todo esse clima agradável é interrompido pela presença inesperada do engenheiro Michael Adams (Shamier Anderson), preso no compartimento de carga. A situação se agrava ao descobrirem que há oxigênio suficiente para apenas três pessoas. Alguém terá que morrer. Os ótimos diálogos do longa da Netflix que apresentam dilemas morais educativos, a exemplo da função primordial das algas para a sobrevivência da humanidade, são concluídos de maneira piegas e infantilizada, abandonando abruptamente o tecnicismo científico que caminhava tão bem.


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